O México precisa de uma “estratégia forte” para manter o investimento estrangeiro na indústria e que vá além da política promovida pelo novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou a secretária-executiva da Cepal em entrevista à AFP em Davos, onde se celebra o Fórum Econômico Mundial.

Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), preconiza também uma política industrial mais de longo prazo, como a da China, para a América Latina, cuja economia sofreu uma contração de 1,1% do PIB em 2016 e deverá crescer somente 1,3% em 2017.

PERGUNTA: Quais podem ser as consequências da chegada de Donald Trump para a economia da região?

RESPOSTA: Quase todos os países de nossa região apostaram no livre-comércio e agora estão em questão seu futuro e o dos acordos de livre-comércio, fundamentalmente com os Estados Unidos. A pergunta que está no ar é: se os Estados Unidos decidirem não participar ativamente no TPP [Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica] ou em outros acordos, será que outros países, como a China, tomarão esse papel?

P: O que o México pode fazer, em particular sua indústria automotiva, em relação a Trump?

R: Uma coisa é a Ford decidir não ir a San Luis Potosí e ir para os Estados Unidos, estamos falando de bilhões de dólares. Mas a Ford tem um investimento muito maior do que isso no México. O vai fazer, desmantelar aquilo e voltar? Acho que o México deveria traçar uma estratégia conjunta com as empresas. Além disso, não só estamos falando da Ford e da General Motors, mas de empresas japonesas e alemãs. O que está faltando é uma estratégia forte do México em vez de concentrar tudo na negociação com Donald Trump. Trump já disse o que quis, agora falta o México dizer o que quer.

P: A América Latina tem que continuar apostando no investimento chinês?

R: A China tem uma visão industrial de que está substituindo as manufaturas que antes importava por manufaturas que agora está produzindo no país. É o que eu chamo de uma estratégia industrial de longo prazo. E isso é o que falta para a América Latina. Logicamente não vamos deixar a mineração, porque as maiores reservas de prata, cobre e ouro estão aqui. Mas deve-se diversificar o terreno, nos abrir a um maior valor agregado. O Chile já avançou um pouco nisso, com o cobre refinado. Um setor de enorme potencial é o agroindustrial, não a soja bruta, mas processada, os alimentos processados, etc., inclusive com indústrias chinesas que investem na América Latina. Mas deve ser um investimento com regras claras na área de emprego.