Até 2 de abril o presidente precisará entrar em algum partido para disputar a eleição de 2022. Já passou por oito desde que foi expulso do Exército, e essa vida errante no baixo clero do Congresso, sem qualquer projeto para o País que não seja o apelo saudosista pela volta da ditadura, diz muito sobre a qualidade do seu governo.

O resultado está aí. Economia em frangalhos, ministérios desmontados e a administração entregue para oportunistas e demagogos. Ainda não se conhece a verdadeira dimensão do desastre. Para  evitar o impeachment, o presidente precisou entregar a administração ao Centrão, que está se esbaldando com verbas secretas, interesses suspeitos e cargos em profusão. A corrupção na Saúde desvendada pela CPI da Covid é apenas a ponta do iceberg. Há escândalos em andamento em várias áreas, que só serão conhecidos e apurados nos próximos anos.

O episódio mais recente da divisão do butim ao grupo fisiológico foi a entrega total do Banco do Nordeste ao notório Valdemar Costa Neto, do PL. Com uma canetada, os associados do político terão o controle sobre uma carteira de R$ 30 bilhões. É por essas facilidades que o presidente jogou no lixo a promessa de privatizar estatais e enxugar o Estado. Contra a promessa de campanha, também manteve e ampliou os privilégios dos grupos corporativos que tornam o Brasil um dos países com pior índice de produtividade do mundo.

Já o Centrão chegou ao paraíso. Desde a redemocratização, nunca tinha governado de fato o País. Tem carta branca para agir à luz do dia. Os nomes mais poderosos da Esplanada dos Ministérios e da articulação política são estrelas do Mensalão e do Petrolão, campeões de acusações de corrupção. Agora, o capítulo final do bolsonarismo pode ser marcado pelas negociações que envolvem a nova legenda do mandatário. Sem conseguir um novo partido de aluguel, Bolsonaro pode se render ao PP também para concorrer a um novo mandato.

O PP (que controla a Casa Civil, a presidência da Câmara e a liderança do governo na Câmara) terá controle sobre a campanha presidencial e se beneficiará também com as verbas partidárias que virão com esse casamento de conveniências. Isso, mesmo sem garantir fidelidade. O futuro presidente, seja ele quem for, poderá contar com o PP para um futuro governo. Lula, por exemplo, voltaria a se aliar aos ex-companheiros sem qualquer constrangimento.

Dessa união só não se beneficiará a população. Bolsonaro patrocinou a virada no STF que garantiu a perpetuação da impunidade e deixará como legado o desmonte das leis anticorrupção. A redemocratização, na prática, não foi marcada por uma alternância de poder entre PSDB e PT. Sua principal característica é o triunfo da baixa política e dos criminosos do colarinho branco, que governam há mais de 30 anos sem precisar ganhar nenhuma eleição para isso.