Centenas de vítimas acrescentaram novos testemunhos à denúncia contra o governo de Cuba no Tribunal Penal Internacional (TPI) pela suposta sujeição de médicos cubanos no exterior à “escravidão”, anunciou nesta terça-feira (22) uma das associações que levaram o caso à justiça.

Quando a queixa foi apresentada ao TPI em maio de 2019, cem testemunhos de vítimas foram incluídos, mas em agosto passado eles foram ampliados para 622, informou Javier Larrondo, fundador da associação de Defensores de Prisioneiros Cubanos (CPD) em uma teleconferência em Madrid. A CPD impulsiona o caso junto à ONG União Patriótica de Cuba (Unpacu).

Há “622 testemunhos idênticos, semelhantes, parecidos, de médicos cubanos de todo o mundo” que sofreram “escravidão”, disse Larrondo.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, que acompanhou o caso, ilustrou o esquema quando foi apresentado no ano passado: trata-se de “um sistema escravista moderno”, que implica que “dezenas de milhares de pessoas são obrigadas a viver no exterior, sem saber seu destino, seus passaportes são retidos, controlados por agentes de inteligência e a maior parte de suas receitas é confiscada pelo governo cubano”.

Uma das vítimas, o médico Manoreys Rojas, denunciou na teleconferência que desde que deixou o emprego no Equador, em 2015, não lhe foi permitido ver sua família em Cuba e inclusive teve sua entrada negada na ilha quando viajou para lá em 2018, quando sua filha tentou cometer suicídio.

“Tentei vê-los de várias maneiras e não fui capaz”, disse Rojas com lágrimas nos olhos.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

A denúncia é dirigida contra o ex-presidente de Cuba Raúl Castro e o atual presidente, Miguel Díaz-Canel, e outros membros do governo por supostos “crimes contra a humanidade de escravidão, perseguição e outros atos desumanos”.

Dispensado pelo governo de Havana, o caso diz respeito às chamadas “Missões de Internacionalização” implantadas desde a década de 1960, para as quais profissionais, muitos deles médicos, são enviados por períodos de três anos para trabalhar em diferentes países, com remuneração diretamente ao governo cubano pelos serviços recebidos.

Os serviços médicos são a principal fonte de receita de Cuba, com cerca de 11 bilhões de dólares anuais, mais que o turismo e as remessas, segundo dados oficiais.

Esse número diminuiu nos últimos anos devido à crise na Venezuela, onde trabalham cerca de 20 mil profissionais de saúde, e ao fim do programa “Mais Médicos” no Brasil, após críticas do presidente Jair Bolsonaro.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias