Censo 2022: Brasil tem menos filhos e mais imigrantes; venezuelanos crescem

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O Censo 2022 revelou que a taxa de fecundidade no Brasil caiu para 1,55 filho por mulher Foto: Pixabay

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta sexta-feira, dia 27, os resultados preliminares da amostra do Censo Demográfico 2022 sobre fecundidade e migração no Brasil. Os dados revelam profundas transformações nos padrões demográficos do País ao longo das últimas décadas.

O levantamento mostra que a TFT (Taxa de Fecundidade Total) no Brasil caiu drasticamente nas últimas seis décadas. Em 1960, a média era de 6,28 filhos por mulher; em 2022, recuou para 1,55 — abaixo do nível de reposição populacional (número médio de filhos por mulher necessário para manter a população estável, sem crescimento ou declínio), que é de 2,1 filhos por mulher. A região Norte, historicamente com os maiores índices, também reduziu a média de 8,56 (em 1960) para 1,89 filhos por mulher.

O estudo também mostrou que a idade média em que as mulheres têm filhos subiu: de 26,3 anos em 2000 para 28,1 em 2022. O Distrito Federal lidera com 29,3 anos, enquanto o Pará tem a menor média, com 26,8 anos.

Além disso, o percentual de mulheres entre 50 e 59 anos que nunca tiveram filhos cresceu de 10% em 2000 para 16,1% em 2022. O Rio de Janeiro tem a maior proporção (21%) e Tocantins, a menor (11,8%).

Entre os cinco grupos étnico-raciais analisados pelo instituto, a TFT mais alta foi das mulheres indígenas (2,84) e a mais baixa, das mulheres amarelas (1,22). Mulheres pardas tiveram a maior TFT entre os três grupos principais analisados (1,68), seguidas pelas pretas (1,59) e brancas (1,35). Já a idade média da fecundidade foi mais elevada entre mulheres brancas (29 anos), seguida por pretas (27,8) e pardas (27,6).

O estudo também mostrou que a fecundidade está associada à escolaridade: mulheres com ensino superior completo registraram a menor TFT (1,19) e maior idade média de fecundidade (30,7 anos). Já aquelas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto tiveram maior TFT (2,01) e menor idade média (26,7 anos).

Em relação às preferências religiosas, o IBGE mostrou que mulheres evangélicas foram o único grupo com TFT acima da média nacional (1,74). Espíritas (1,01), seguidas por praticantes de Umbanda e Candomblé (1,25), tiveram os menores índices.

Migrações

O Censo do IBGE também mostrou que 36,9% dos brasileiros vivem em um município diferente de onde nasceram, e 14,3% residem em outro estado. Em 2022, 19,2 milhões de pessoas viviam fora da própria região de origem, sendo que mais da metade (54%) delas eram nordestinas. Destes, 6,8 milhões residem no Sudeste.

Apesar disso, o Sudeste registrou, pela primeira vez desde 1991, saldo migratório negativo: perdeu 980 mil pessoas e recebeu 859 mil, resultando em um saldo de -121 mil. O mesmo aconteceu com o Nordeste (-249 mil) e o Norte (-201 mil) — ambos com perdas populacionais recentes e inéditas.

Na contramão, o Sul registrou o maior saldo migratório do país (362 mil pessoas), entre os anos de 2017 e 2022, graças à entrada de 612 mil imigrantes. O Centro-Oeste também manteve tendência histórica positiva, com saldo de 209 mil.

Entre os estados, Santa Catarina se destacou, entre 2017 e 2022, com o maior saldo migratório absoluto (354 mil pessoas) e a maior taxa líquida de migração (4,66%), desbancando São Paulo, que apresentou saldo negativo (-90 mil) pela primeira vez desde 1991.

A Paraíba foi a única unidade do Nordeste com saldo positivo (+31 mil), com destaque para fluxos vindos de São Paulo (22,3%), Pernambuco (20,4%) e Rio de Janeiro (20%). O movimento é interpretado como possível reflexo do chamado “retorno migratório”.

O Rio de Janeiro teve o pior saldo migratório do Brasil, perdendo moradores principalmente para São Paulo (21,4%), Minas Gerais (17,7%) e Espírito Santo (7,3%). O Distrito Federal também apresentou saldo negativo relevante, com quase metade dos seus emigrantes indo para Goiás (48,5%).

Entre 2010 e 2022, o número de pessoas nascidas no exterior vivendo no Brasil cresceu 70,3%, saltando de 592 mil para 1 milhão. Essa é a maior cifra desde 1980 e reverte uma tendência de queda observada desde os anos 1960.

A mudança foi puxada por um aumento expressivo de imigrantes da América Latina, que passaram de 183 mil para 646 mil no período, em grande parte devido à chegada de venezuelanos — que saltaram de 2 mil para 199 mil. A Venezuela tornou-se o principal país de origem de imigrantes no Brasil.

Já os europeus passaram de 263 mil para 203 mil, e os nascidos na América do Norte caíram de 20,4% para 7% da população estrangeira residente no país.

Dos estrangeiros no Brasil em 2022, 399 mil imigraram entre 2018 e 2022 — período que representa o fluxo mais recente e numeroso. O número de imigrantes internacionais nos cinco anos anteriores ao Censo 2022 foi de 457 mil, contra 268 mil no mesmo intervalo antes de 2010.