A confiança de Rogério Ceni convenceu o presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, de que era o momento certo para contratá-lo. O risco, admite o dirigente, é enorme. Prova disso é que o ídolo receberá muito menos do que é pago para treinadores atualmente no mercado. Em entrevista exclusiva ao Estado, publicada nesta segunda-feira, ele revelou que o ex-goleiro terá de conquistar resultados e títulos para se aproximar da remuneração dos comandantes de outras equipes.

Em qual momento, o senhor decidiu pela contratação do Rogério Ceni?

A decisão foi construída em uma série de reflexões e observações em conversas que tive com algumas pessoas, com ele próprio em duas situações em que nos encontramos, sem nada programado ou definido para este fim. Concluímos que ele estava pronto para o desafio no São Paulo, uma equipe que ele ama e conhece profundamente. Isso nos convenceu.

Era necessário uma figura da importância do Rogério Ceni para ter uma virada após um ano tão ruim?

Não é questão de virada. O São Paulo concluiu pela contratação de um novo técnico e viu nele todos os requisitos para isso. Somamos ainda que ele é são-paulino, vitorioso, obstinado, conhece profundamente a instituição e não teve nenhuma dúvida em assumir o risco que isso possa representar. O que sabemos que existe em qualquer tipo de contratação. No caso dele, há uma expectativa maior, em razão da figura dele, da pessoa dele, mas, seguramente, ele tem atributos que conhecemos imensamente, capazes de dar tranquilidade ao São Paulo para contratá-lo e de que vai dar resultado.

O Rogério Ceni fez alguma exigência no contrato?

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Ele quis que o contrato fosse determinado. Diferentemente dos últimos acordos que fizermos, ele quis que tivesse multa. Essa multa é recíproca. Caso contrário o contrato não seria legítimo. Ele estabeleceu conosco patamares de performance. A remuneração dele é significativamente menor do que do mercado e, conforme os patamares forem sendo alcançados, ele terá um ganho, ainda assim inferior aos grandes nomes. Ele terá ainda premiações expressivas em caso de conquistas de título. Também vai ganhar por porcentagem de resultados, algo que é muito fácil de mensurar. Será reconhecido e recompensado quando conquistar bons resultados.

O senhor vê o Rogério Ceni menos ou mais pressionado?

Inicialmente ele estará menos pressionado porque há uma expectativa positiva, favorável. Mas existe o risco de, não conquistando bons resultados, ele causar descontentamento, descrédito… O que é um fenômeno absolutamente natural.

O Rogério Ceni pediu quantos reforços?

Ele foi até um pouco modesto. Em vez de fazer grandes exigências, exigir nomes importantes como outros treinadores costumam fazer, ele está privilegiando o que temos de melhor no nosso futebol de base. Ele está observando muito e já tem alguns nomes da base que ele vai trazer para o profissional.

O São Paulo terá dinheiro para investir nesses reforços?

Os nomes são do nível do Felipe Melo, que inclusive disse recentemente ter carinho pelo São Paulo…

Felipe Melo disse isso?

Sim, disse.

São jogadores deste porte que o senhor quer?

Sim, sim…


A torcida pode esperar quantos reforços? Quatro, cinco?

Quatro, cinco, não. Acho que dois ou três são suficientes para compor o grupo.

O senhor se sentiu frustrado pelo desempenho do São Paulo e, por isso, optou pela demissão do Ricardo Gomes?

Digo que me senti frustrado na medida que poderíamos ter conquistado mais, mas isso não dependia do empenho, da qualidade, da capacidade do Ricardo, que são indiscutíveis. Mas o futebol tem uma dinâmica que depende de resultados, isso em todos os níveis, especialmente quando se fala da figura do técnico. O ser humano sempre precisa ter um culpado, o bode expiatório. As pessoas acabam tendo ideias, ideias que acabam convergindo para isso. É desaconselhável você lutar contra uma situação anímica, negativa. Você precisa lutar para uma perspectiva melhor. Isso foi conversado entre nós e com o próprio Ricardo, que é uma pessoa elevada em termos de compreensão, de entendimento, de educação… Ele entendeu. Foi uma forma de preservação. E tendo um nome que está ansioso para dirigir o São Paulo, como é o caso do Rogério, não foi uma decisão difícil.

O senhor temeu ficar marcado como o presidente do primeiro rebaixamento do São Paulo?

Ouso te dizer que jamais vivi esse sentimento. Embora não fosse irresponsavelmente indiferente, porque concretamente era uma hipótese possível, em nenhum momento eu imaginei que isso fosse acontecer.

O São Paulo não soube lidar com o Michel Bastos?

Ele passou por episódios específicos. Um gesto entendido pela torcida como desrespeitoso e ofensivo, alguns maus momentos jogando, condição emocional que o fez render menos do que pode.

O senhor acredita que poderia conseguir uma boa negociação?

Tomara que sim.

Concorda com os comentários de que o São Paulo tinha um elenco ruim?

Não considero ruim. É um elenco de boa qualidade. Na Libertadores, mostrou o quanto ele pode. Mas o ser humano não produz no mesmo nível sempre.



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