Os números da pesquisa Quaest divulgados esta semana trouxeram boas notícias ao governo Lula, mas o momento de alento ao petista reflete mais o impacto de fatores externos ao governo do que propriamente entregas e realizações de Lula e de sua gestão.
Embora a desaprovação, em 51%, ainda supere a aprovação, de 46%, o presidente viu aumentarem em três pontos percentuais no último mês os que avaliam positivamente seu governo. Lula também lidera todos os cenários para a corrida eleitoral de 2026, em primeiro e segundo turnos.
Enquanto o inelegível Jair Bolsonaro, cada vez mais próximo da condenação e da prisão, não define quem vai apoiar, Lula segue sendo beneficiado na pesquisa de intenção de voto pela fragmentação da direita. Os cinco cenários testados pela Quaest incluem, todos, ao menos três nomes direitistas. Os eleitores desse campo se dividem na pesquisa entre opções da família Bolsonaro, como Jair, Michelle, Flávio e Eduardo, e governadores como Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior, Romeu Zema e Ronaldo Caiado.
Além da aritmética da divisão de votos à direita favorecê-lo, Lula também fez do limão uma limonada com o tarifaço de Donald Trump, articulado por Eduardo Bolsonaro como pressão pela anistia ao pai. A sanção do governo americano ajudou o petista a revigorar um governo sem viço e em viés de baixa nas pesquisas. O efeito do tarifaço a favor do presidente e seus efeitos deletérios para a direita também foram vistos na Quaest: para 48% dos entrevistados, Lula e o PT estão fazendo o que é certo para conter as consequências das sanções; para 28%, Bolsonaro e seus aliados têm razão em suas posições.
Mas o ano que resta até a campanha de 2026 é tempo demais na política. Até lá, os fatores que hoje ajudaram Lula a recuperar terreno nas pesquisas devem estar pacificados e assentados.
Nas eleições do ano que vem, o tarifaço, agora catalisador de um rearranjo no discurso do presidente, certamente já não terá a mesma relevância que tem hoje no debate público.
No campo adversário o cenário também não será o de agora. A direita já não vai estar tão fragmentada e o eleitor bolsonarista saberá quem é o escolhido de um Bolsonaro (muito provavelmente) preso. A própria prisão do ex-presidente, decorrente da condenação que deve sofrer em setembro no STF, já terá surtido efeito na opinião pública até a campanha presidencial.
O governo deve aproveitar a oportunidade para reorganizar não só o discurso, mas também para estabelecer atributos internos, com entregas e marcas que até agora não foram vistas. E ficar mais vigilante para lidar com problemas e dificuldades, sobretudo no Congresso, que colocarão à prova a recuperação de Lula nas pesquisas. A derrota acachapante que jogou a CPI do INSS no colo da oposição foi um exemplo amargo do que pode vir por aí.