Celulares furtados em SP são rastreados na China; entenda o esquema

Vítimas relatam localização de aparelhos na Ásia semanas após o crime; especialista aponta reciclagem de metais raros e isolamento digital chinês como principais causas

Celulares furtados em SP são rastreados na China; entenda o esquema

O destino de muitos smartphones roubados no Brasil tem surpreendido as vítimas e gerado discussões nas redes sociais: a China. Relatos de aparelhos rastreados no país asiático semanas após o furto em cidades brasileiras expõem uma complexa cadeia de receptação internacional.

  • Vítimas identificam aparelhos em Hong Kong e recebem mensagens falsas para desbloqueio;

  • China controla a cadeia produtiva e a reciclagem de componentes;

  • Isolamento digital do país facilita a reinserção de peças no mercado.

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Um dos casos recentes é o de Édrian Santos, de 30 anos. Ele teve o aparelho furtado no metrô de São Paulo — cidade onde cerca de 500 celulares são subtraídos por dia, uma média de um a cada 3 minutos. Semanas depois, o sistema de rastreamento indicou que o dispositivo havia atravessado o mundo.

“Fui verificar a localização do celular e percebi que ele estava na China, na região de Hong Kong”, relata Santos.

Além do prejuízo financeiro, a vítima enfrentou tentativas de golpe para liberação do acesso ao aparelho. “Cerca de duas semanas depois, recebi uma mensagem em inglês, com remetente se passando pelo fabricante. Dizia que eu precisaria cumprir um passo a passo para desbloquear meu aparelho e evitar que meus dados expostos fossem usados por terceiros”, conta. A tática, conhecida como phishing, visa obter a senha da nuvem (iCloud ou Google) para formatar o telefone e revendê-lo com valor de mercado.

“Os metais, quando obtidos, podem voltar para a cadeia produtiva, mais uma vez de forma oficial ou clandestina.”

Por que a China? Segundo Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, o envio desses aparelhos para o outro lado do mundo não é aleatório. O movimento está atrelado ao fato de os chineses controlarem grande parte da cadeia global de produção de smartphones.

“Não se trata apenas das fábricas de smartphones propriamente ditas, mas também da reciclagem dos metais raros que compõem os aparelhos”, explica Igreja. “Esses metais, quando obtidos, podem voltar para a cadeia produtiva, mais uma vez de forma oficial ou clandestina. Um elemento que saiu de lá volta e é reincorporado.”

Além da questão física dos componentes, há um fator de software. O especialista destaca que o ecossistema digital chinês opera de maneira distinta dos padrões ocidentais, o que dificulta o bloqueio efetivo via IMEI (identificação internacional de equipamento móvel) global.

“A China, quando se fala de internet ou de software, funciona praticamente apartada do resto do mundo. Ou seja, os criminosos conseguem enganar os sistemas operacionais. A partir daí, é como se entrassem numa zona, do ponto de vista de cibersegurança, onde o radar não pega mais”, finaliza Igreja.