Jair não trata Flávio como filho. Trata-o como cúmplice. Ou seja: a policia e o Ministério Público do Rio de Janeiro investigam e acusam o filho de corrupção e esquema de apropriação de parte de salários de subalternos, à época em que foi deputado federal, e o pai se sente igualmente investigado e acusado. Mais: Flávio é acusado de lavar dinheiro com miliciano, e Jair se sente ofendido. Há os seguintes pontos em jogo. Vamos a eles.

Fica claro, no campo psíquico, a relação emocionalmente simbiótica entre pai e filho. É óbvio que tal relação não nasceu agora, vem desde a infância de Flávio. Isso mais o deseducou do que lhe foi pedagógico, mas é claro que para Jair o seu método de educação é infalível, até porque nomes mundialmente consagrados nessa área são “energúmenos”, como classificou Paulo Freire. Se existisse autoridade parental entre pai e filho, Jair chamaria Flávio para uma conversa e o filho lhe diria sinceramente se de fato é culpado. Mas o que existe no clã é autoritarismo, não autoridade.

Outro ponto, esse bastante relevante: Jair se sente ofendido em seu profundo narcisismo quando acusam seu filho, primeiro porque é essencialmente narcisista, segundo porque ele próprio se projeta na história e se percebe o mitológico Narciso sem Lago Paranoá em 2022 para maravilhar-se com sua imagem. A coisa é grave.
Jair ameça a democracia ao criticar as investigações do MP e disse que, se não tiver a cabeça no lugar, “alopra”. Se aloprar, o que acontecerá? É de fato ameaça à democracia e ao Estado de Direito.

Qualquer relação do filho com milicianos em lavagem de dinheiro é crime contra a República, porque o crime organizado é séria ameaça aos valores civilizatórios e republicanos. É bandidagem. Como Jair é autoritário e totalitário, não consegue conceber as regras democráticas. Em seu sufocamento de déspota “não esclarecido”, ele estoura e ofende a imprensa, ofende a polícia, ofende o MP.

Se ficar provado que o filho lavou dinheiro com bandido, a conta da lavanderia vai para o pai. O pai sabe disso. Não suporta a ceia democrática. E, tolamente, acha que fará triunfar suas regras ditatoriais. O Lago está secando e da pouca água que resta saem milicianos. A ceia ficou ruim. Muito ruim.