Cinquenta anos separam a cantora e compositora Cecilia Beraba e o cantor, compositor e escritor Jorge Mautner, que completou 81 anos na última segunda-feira, 17. A artista acaba de lançar em plataformas de streaming seu mais recente disco, Só o Amor Pode Matar o Medo, feito inteiramente com releituras de músicas do multiartista, incluindo uma versão de Salto no Escuro, com participação de Mautner.

“Para mim, é uma maneira de fechar uma celebração que começou ano passado com os 80 anos dele e se encerra este ano, com a comemoração dos seus 60 anos de carreira”, conta a cantora, em entrevista ao Estadão.

A relação de Cecilia com o cantor vai além daquela entre fã e ídolo. Os dois se conheceram por uma ousadia de Cecilia, em 2016. “Fui a um show dele e cheguei mais cedo, levei um LP para ele autografar. Ele é muito generoso, acessível, me ouviu e me pediu para mandar materiais que eu tinha”, lembra a artista. Antes disso, ela conta, os dois não conheciam ninguém em comum. A partir daí, nasceu uma amizade e uma parceria profissional que culmina neste novo álbum.

Privilégio

“Trabalhar com Jorge é um privilégio, é uma oportunidade muito mágica, não só por ele ser quem é, pelo tamanho dele como artista, mas pelo tanto que me toca”, explica a cantora, rasgando elogios ao amigo e colega de trabalho.

Juntos, os dois têm mais de trinta músicas juntos. Algumas delas compuseram seu álbum anterior Eterno Meio-Dia, lançado em março de 2021. Ela conta que conhece a obra de Mautner desde bem jovem e foi por volta dos 20 anos (cerca de 11 anos atrás) que “a ficha caiu” e tudo na obra do compositor começou a fazer mais sentido para ela. Segundo Cecilia, o autor foi uma grande inspiração para sua carreira.

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“O que pegou para mim foi a literatura e a fala dele, que é uma extensão de sua literatura. Eu compunha, mas trabalhava mais como intérprete, e quando vi o Jorge trabalhando eu falei: ‘é isso que eu quero fazer'”, lembra. Jorge Mautner é escritor de livros como Deus da Chuva e da Morte (1962), Mitologia do Kaos (1962) e Narciso em Tarde Cinza (1969), além de fundador do partido do Kaos. “Um bando de coisas que ele pensa, eu penso parecido. Ele criou uma filosofia própria, que está espalhada em sua obra literária e musical, então rolou uma identificação total”, continua.

O disco Só o Amor Pode Matar o Medo conta com 12 regravações de músicas do autor selecionadas por Cecilia dentro do vasto repertório dos 50 anos de carreira do compositor. (O primeiro disco de Jorge Mautner, Pra Iluminar A Cidade, foi lançado em 1972.) “No meu último trabalho, quis pegar canções que eu acho mais poeticamente surpreendentes. O Jorge é muito interessante, diferente, singular e eu queria músicas que fossem fortes nesse quesito”, explica a artista. “Tem canções mais roqueira e tem músicas que são uma surpresa poética, com essa coisa expressionista que é o Jorge”, completa.

Participação

Gravado adotando distanciamento físico na equipe por conta das restrições impostas pela pandemia, o disco conta com a participação do cantor na música Salto no Escuro, lançada originalmente na década de 1970. O cantor gravou a voz de sua casa. Os músicos que participaram do disco também fizeram isso, mandaram suas gravações para Cecilia, que juntou tudo depois. Ela diz que foi a única a ir para um estúdio. “Todo o processo foi muito lindo, até mesmo a liberação das músicas pelo Jorge e seus parceiros.”

Só o Amor Pode Matar o Medo é um disco completamente independente. Também por conta da pandemia e das suas limitações, Cecilia assumiu a tarefa de produção do disco: “Foi algo que eu descobri que gostei de fazer. Eu já sabia que eu amava compor e cantar, mas como eu tive que fazer a produção, acabei me dando conta que curti esse trabalho.”

Por mais que as restrições tenham sido afrouxadas nos últimos meses, o temor por conta do avanço da Ômicron ainda gera incertezas com relação às apresentações ao vivo. “A gente foi muito espremido nesse período”, aponta. E, mesmo assim, a cantora celebra o seu trabalho, enquanto aguarda a possibilidade de voltar aos palcos: “Agora é esperar ver como esse disco voa, descobrindo, construindo e torcendo.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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