24/05/2017 - 8:00
Costumo dizer que a educação brasileira é como um espadachim que precisa esgrimir com os dois braços: um deles para resolver problemas ainda não solucionados do século 20, como o analfabetismo; outro para implementar a educação do século 21. Sobre este último desafio, só conseguiremos alcançar com a oferta da Educação Integral em nosso país, e que vai muito além do tempo integral. É fundamental que sejamos capazes de oferecer às nossas crianças e jovens o desenvolvimento de quatro importantes pilares durante seu percurso formativo: aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a conhecer.
Para colocá-los em prática, a escola deverá ser capaz de desenvolver nos estudantes as chamadas competências para a vida, como colaboração, criatividade, pensamento crítico e persistência, entre diversas outras. Isso significa uma nova maneira de trabalhar o currículo, a formação de professores e o protagonismo dos alunos. Vários estudos mostram que, quando essas habilidades são desenvolvidas de forma intencional no currículo, grandes avanços ocorrem na aprendizagem, no clima escolar e no sucesso futuro do estudante. Não é à toa que a terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em análise no Conselho Nacional da Educação, já trata dessas habilidades como direitos de aprendizagem dos estudantes.
O Ceará, que já vem inspirando o Brasil com seu bem-sucedido modelo de alfabetização de crianças na idade certa, sai mais uma vez à frente. Juntou cerca de 400 convidados, entre professores, gestores, pesquisadores e secretários da Educação para debater a escola do século 21, por meio do Seminário Internacional Competências para a Vida: Onde estamos e aonde queremos chegar?. O encontro, que termina nesta quarta-feira (24), em Fortaleza, é realizado por meio de parceria entre Secretaria Estadual da Educação, Instituto Ayrton Senna, Instituto Aliança e Banco Interamericano de Desenvolvimento. É uma grande oportunidade para que o Ceará possa discutir os caminhos para a implementação da Educação Integral em sua rede de ensino, considerando seus mais diversos formatos de escola.
Nessa perspectiva, trago aqui alguns princípios discutidos no encontro, necessários para a promoção desta Educação Integral que falamos:
Potencial e Escolhas. Todas as pessoas, sem exceção, têm potencial e o direito de desenvolvê-lo. Nesse sentido, as pessoas precisam de oportunidades e de preparação para fazer escolhas.
Oportunidade. A Educação é a oportunidade estruturante para desenvolver integralmente o potencial humano, transformando-o em competências para a vida. A Educação, por si mesma, não promove todas as condições para o desenvolvimento humano, mas sem ela não existe desenvolvimento sustentável.
Corresponsabilidade. O direito à Educação deve ser assegurado com o envolvimento de todos, numa ética de corresponsabilidade entre o primeiro, o segundo e o terceiro setores, além de famílias e cidadãos mobilizados de forma coletiva e solidária, em consonância com o Artigo 205 da Constituição.
Duplo desafio. A Educação necessária para o século 21 é aquela que enfrenta simultaneamente as dívidas do passado – que ainda hoje reprovam, excluem e atrasam os estudantes – e as exigências contemporâneas que pedem um novo patamar de competências para a vida, o convívio e o trabalho.
Protagonismo. Promover o protagonismo docente e estudantil é decisivo para que se vejam e sejam vistos como parte da solução e não do problema. Melhorar a qualidade do sistema de ensino, da escola e das aulas requer um novo olhar para a formação de gestores, educadores e estudantes.
Autonomia. A Educação Integral se refere à dimensão qualitativa da educação e não apenas à quantidade do tempo na escola. O objetivo maior da Educação Integral é a formação para a autonomia, entendida como o empoderamento dos estudantes para fazer escolhas fundamentadas em seus projetos de vida.
Competências para a vida. A formação para autonomia se faz por meio do desenvolvimento de competências que combinem aspectos cognitivos e socioemocionais, possibilitando aos estudantes se capacitarem para o autoconhecimento, a colaboração, a criatividade, a resolução de problemas, o pensamento crítico, a abertura para o novo e a responsabilidade no alcance de seus objetivos.
É assim que vejo a Educação do futuro. E só por meio dessa Educação, plena, de qualidade e compatível com os desafios do século 21 é que conseguiremos desenvolver plenamente nossos estudantes, ampliando suas oportunidades de futuro e cumprindo nosso projeto de desenvolvimento enquanto nação.