Partidos que negociam nova coalizão de governo concordam com fundo especial para elevar orçamento com defesa, livre do "freio da dívida". Anúncio ocorre em meio a temores de afastamento dos EUA de seus aliados europeus.O provável futuro chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, anunciou planos para levantar centenas de bilhões de euros no intuito de aumentar os gastos com defesa e infraestrutura, em meio a temores de que os Estados Unidos estejam perdendo o interesse na Europa e na Otan.
O anúncio ocorreu em meio às negociações entre a União Democrata Cristã (CDU) de Merz, e sua legenda coirmã na Baviera, a União Social Cristã (CSU), com o Partido Social Democrata (SPD), do chanceler em fim de governo, Olaf Scholz, que visam a formação de um novo governo no país, após as eleições federais de fevereiro.
Os líderes disseram que concordaram em apresentar uma moção ao Bundestag (Parlamento) para alterar a Constituição alemã a fim de aliviar os controles sobre os gastos com defesa que ultrapassam 1% do Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha dos limites do freio da dívida – o mecanismo que impõe um limite máximo aos empréstimos e gastos do governo.
Com base no PIB alemão de 2024, isso incluiria todos os gastos acima de aproximadamente 45 bilhões de euros (R$ 281 bilhões).
Além disso, os 16 estados do país também terão permissão para tomar empréstimos de até o equivalente a 0,35% de sua produção econômica para impulsionar ainda mais o desempenho.
O anúncio de Merz, ao lado de Markus Söder da CSU e dos colíderes do SPD Lars Klingbeil e Saskia Esken, ocorreu pouco mais de uma semana após a CDU vencer as eleições dias após o início das conversas com o SPD.
Merz: "Custe o que custar"
"Estamos cientes da escala das tarefas que temos pela frente e queremos dar os primeiros passos e decisões necessários", disse Merz "Dada a ameaça à nossa liberdade e à paz em nosso continente, o mantra para nossa defesa tem que ser: 'custe o que custar'."
"Estamos enviando um sinal para amigos e inimigos: a Alemanha está aqui. A Alemanha não recuará", completou Söder, da CSU.
Merz disse que tais aumentos nos gastos com defesa só poderão ser contidos se a economia da Alemanha "voltar a um caminho de crescimento estável" o mais rápido possível. "Isso requer não apenas uma melhoria nas condições competitivas, mas também um investimento rápido e sustentável em nossa infraestrutura", afirmou.
Como tais investimentos "não podem ser financiados somente pelo orçamento federal", os partidos também concordaram com um novo fundo especial de 500 bilhões de euros para investimentos industriais e de infraestrutura, que esperam que possa ajudar a estimular a combalida economia da Alemanha na próxima década.
"Estamos finalmente acabando com o congestionamento de investimentos em nosso país", disse Klingbeil, líder do SPD, acrescentando que o freio constitucional da dívida da Alemanha será revisado pelo novo governo até o final do ano "para evitar que se torne um freio ao investimento".
Ambas as moções — sobre gastos com defesa e o fundo especial de infraestrutura — devem ser submetidas antes do término da atual legislatura, onde a CDU e o SPD esperam contar com o apoio dos Verdes e do FDP para obter a maioria de dois terços dos votos necessária para a mudança constitucional.
Merz disse que os Verdes e o FDP já foram informados das propostas".
Alemanha reage a mudanças nos EUA
As ações de Berlim pretendem demonstrar a capacidade da Alemanha de agir antes do início de uma cúpula da União Europeia nesta quinta-feira, na qual os Estados-membros discutirão a reação do bloco à aparente mudança na política externa dos Estados Unidos sob o presidente Donald Trump.
"Contamos que os Estados Unidos da América cumpram nossos compromissos mútuos na aliança também no futuro", disse Merz. "Mas também sabemos que o financiamento para a defesa de nosso país e da aliança deve ser agora expandido significativamente."
Dessa forma, Merz também disse que iria pressionar pela aprovação imediata de um pacote de ajuda de três bilhões de euros para a Ucrânia, que está retido no Bundestag há semanas.
Ele disse aos repórteres que se reuniria com o chanceler Olaf Scholz nesta quarta-feira para "falar sobre a ajuda urgente necessária para a Ucrânia, de em torno de 3 a 3,5 bilhões de euros, que pode ser aprovada agora como uma despesa fora do orçamento federal".
As partes estão prontas para continuar as negociações em torno da próxima coalizão de governo enquanto buscam encontrar pontos em comum em temas como orçamento, migração, competitividade econômica e segurança.
Merz disse que o objetivo era "concluir as consultas prontamente", mas alertou que esta poderá ser uma "jornada mais longa".
rc (DW, DPA, AFP)