A ausência de sinais sobre negociação tarifária entre Brasil e Estados Unidos impede o Ibovespa de seguir a dinâmica positiva dos mercados acionários do exterior nesta quinta-feira, 24. Por lá, perspectivas de que os EUA se acertem com a União Europeia no âmbito das tarifas, após o trato com o Japão, mantém alta do petróleo, das bolsas europeias e da maioria dos índices de ações em Nova York nesta manhã.
“Temos uma nova manhã de busca por risco no exterior”, diz o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, em comentário matinal, mencionando expectativa por um acordo do presidente norte-americano, Donald Trump, com a Europa e balanços informados no Velho Continente e nos Estados Unidos nesta quinta.
Aqui, permanecem as incertezas com relação ao tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump. Na quarta-feira, 23, em uma referência indireta ao Brasil, Trump afirmou que “alguns países com quem não estamos nos dando bem pagarão tarifa de 50%”. Até agora, os produtos brasileiros foram os únicos sobretaxados pelos EUA com alíquota dessa magnitude, que deve entrar em vigor em 1º de agosto.
João Piccioni, CIO da Empiricus Asset, pontua que o cenário atual está “muito dicotômico” em relação às questões de tarifas. “É um momento meio crítico para o Brasil no sentido de que não enxergamos um horizonte mais claro para a economia no segundo semestre, que já vinha desacelerando”, avalia, no sentido de que este temor sobre a atividade pode crescer, dadas as incertezas tarifárias.
A agenda de indicadores no Brasil está esvaziada, com destaque apenas para a arrecadação. A arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 234,594 bilhões em junho, uma alta real (descontada a inflação) de 6,62% na comparação com o resultado de junho de 2024. O resultado das receitas de junho veio perto do teto das expectativas R$ 237,200 bilhões, com mediana em R$ 228,250 bilhões e piso de R$ 147,965 bilhões.
No exterior, o Banco Central Europeu (BCE) manteve suas principais taxa de juros após conclusão de sua reunião de política monetária nesta quinta-feira. A taxa de depósito permaneceu em 2%, a de refinanciamento, em 2,15%, e a de empréstimos, em 2,40%.
Ainda ficam no foco índices de gerentes de compras (PMIs, em inglês) preliminares dos EUA referentes a julho e balanços trimestrais das big techs Tesla, IBM e Alphabet. Intel informará seus números após o fechamento dos mercados em Nova York, enquanto no Brasil o destaque é a Multiplan, depois do encerramento dos negócios na B3.
Sobre as tarifas impostas pelos EUA a produtos brasileiros exportados para lá, o Brasil continua tentando encontrar formas de negociação e de atenuar os efeitos que já se fazem presentes. Sem antecipar medidas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na quarta (23) que ele e os ministros da Indústria, Geraldo Alckmin, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira, encomendaram cenários para fazer frente à imposição de tarifas a produtos brasileiros pelos EUA.
Para Charo Alves, especialista em renda variável da Valor Investimentos, caso o tarifaço se concretize a partir de 1º de agosto, o impacto pode ser sentido em várias frentes. Em primeiro lugar, cita que há um risco de desaceleração do comércio global, o que tende a afetar commodities e empresas exportadoras – setores de peso na B3. “Isso poderia pressionar papéis ligados a mineração e siderurgia, por exemplo”, menciona.
Como destaca Piccioni, da Empiricus, o fluxo de capital estrangeiro estava mantendo o Ibovespa numa dinâmica considerável, mas agora este tipo de investidor tem ficado reticente em aportar no principal indicador da B3. “O efeito de primeira ordem das tarifas pode não ser tão deletério, mas os impactos de segunda ordem, sim”, adverte.
Depois te ter todas as 84 ações em queda mais cedo, seis ações subiam às 11h21, enquanto o Índice Bovespa caía 1%, aos 134.021,12 pontos, após ceder 1,27%, na mínima de 133.647,84 pontos, em dia de queda de 0,55% do minério de ferro em Dalian. O petróleo subia até 1,36%. Na quarta-feira, 23, o Ibovespa fechou em alta de 0,99%, aos 135.368,27 pontos.