Causa da morte de papa Francisco foi AVC e insuficiência cardíaca, confirma Vaticano

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Papa Francisco na Praça São Pedro Foto: AP

O Vaticano confirmou na tarde desta segunda-feira, 21, que a causa da morte do papa Francisco foi AVC (Acidente Vascular Cerebral) e insuficiência cardíaca. A informação foi feita pelo médico do Vaticano, Andrea Arcangeli, em um atestado de óbito.

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Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, morreu na madrugada desta segunda-feira aos 88 anos. Ele ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos. Segundo o documento, o papa havia entrado em coma antes de sua morte na madrugada desta segunda-feira.

Francisco ficou internado por 37 dias entre fevereiro e março deste ano, para tratar uma infecção respiratória que evoluiu para pneumonia. O pontífice teve alta em 23 de março do Hospital Gemelli, em Roma. Ele havia contraído bronquite pela primeira vez antes do Natal e foi forçado a procurar tratamento no dia 14 de fevereiro.

À época, o chefe da equipe médica que atendeu Francisco, Sergio Alfieri, informou que o líder católico teria de passar por “uma longa convalescença”, continuando a receber tratamento por pelo menos dois meses.

O médico Alfieri também disse na ocasião que o pontífice voltaria a suas atividades gradualmente, e que prescreveram dois meses de repouso e o aconselharam a não participar de reuniões com grandes grupos ou que exijam esforço especial. “A recomendação de um período de convalescença de pelo menos dois meses é muito importante”, disse.

Francisco, enfrentou uma pneumonia nos dois pulmões, e sofreu quatro ataques agudos do que o Vaticano chamou de “crises respiratórias” durante seu tempo no hospital.

O papa Francisco também teve sequelas na voz, que, segundo os médicos, seria recuperada aos poucos, mas não chegou a dar um prazo. Alfieri enfatizou que, embora Francisco tenha usado ventilação não invasiva por meio de uma máscara sobre a boca e o nariz para ajudar a respirar, o papa nunca foi entubado durante sua estada no hospital. Um cardeal sênior informou que o papa precisaria “reaprender a falar” depois de lutar contra uma infecção respiratória por tanto tempo. “Levará algum tempo até que sua voz volte a ser o que era antes”, afirmou Alfieri.

Funeral na Basílica de São Pedro

Por tradição, o funeral do líder da Igreja Católica ocorre na Basílica de São Pedro, com o corpo do religioso sendo exposto para visitação e oração dos fiéis. Ele, entretanto, desejou que sua cerimônia seja simples, sem pompas.

Ano passado, o papa anunciou aos fiéis que já estava “tudo pronto”, se referindo aos ritos que acompanhariam seu sepultamento. O papa Francisco buscou simplificar esses ritos. E ele será enterrado em um caixão simples de madeira e fora do Vaticano, pela primeira vez em mais de um século.

Francisco renunciou a uma prática secular, segundo a qual o chefe da Igreja é enterrado em três caixões interligados feitos de cipreste, chumbo e carvalho. Em vez disso, Francisco será enterrado em um único caixão de madeira revestido de zinco.

O uso de uma plataforma elevada na Basílica de São Pedro para o “velório”, como aconteceu com os pontífices anteriores, também foi abolido. Os fiéis serão convidados a prestar suas homenagens enquanto o corpo de Francisco ficará dentro do caixão, com a tampa aberta.

Enterro não será no Vaticano

Segundo as últimas informações vaticanas, ele optou pelo enterro na Igreja de Santa Maria Maior em Roma, em vez da Basílica de São Pedro, que abriga mais de 90 papas.

A escolha foi por se tratar da igreja que Francisco tradicionalmente frequentava para fazer suas orações em Roma (diocese da qual era, oficialmente, o bispo). Antes dele, Leão XIII, em 1903, havia optado pelo enterro na igreja de São João de Latrão.

As instruções estão no “Ordo Exsequiarum Romani Pontificis”, aprovado em 29 de abril de 2024 pelo próprio papa Francisco, que recebeu o primeiro exemplar em 4 de novembro.

“Fez-se necessária uma nova edição – explicou à época o arcebispo Diego Ravelli, Mestre das Celebrações Litúrgicas dos Pontífices – antes de tudo porque o papa Francisco pediu, como ele mesmo declarou em diversas ocasiões, para simplificar e adaptar alguns ritos de forma que a celebração das exéquias do Bispo de Roma expressasse melhor a fé da Igreja em Cristo Ressuscitado”, disse. “O rito renovado, ademais, deveria enfatizar ainda mais que o funeral do Romano Pontífice é o de um pastor e discípulo de Cristo e não de uma pessoa poderosa deste mundo.”

Francisco declarou seu desejo de ser enterrado fora do Vaticano em 2023. “Quero ser sepultado em Santa Maria Maggiore por causa da minha grande devoção” pela Virgem, confidenciou à jornalista mexicana Valentina Alakraki. A devoção mariana é antiga: então cardeal Bergoglio frequentava a basílica ao lado da estação Termini já quando era arcebispo de Buenos Aires: “Sempre ia lá no domingo de manhã, quando eu estava em Roma.”

Voltou ao local uma centena de vezes, após cada uma de suas viagens apostólicas e nas festas litúrgicas marianas. Foi ainda o primeiro lugar em que foi após se tornar papa e que procurou durante a pandemia de covid-19. Curiosamente, trata-se da mesma forte devoção de Santo Inácio de Loyola, fundador dos jesuítas, que ali celebrou sua primeira missa em 1538.

Por fim, o papa consegue deixar o Vaticano, no qual durante mais de uma vez se disse “engaiolado”. E, em uma sequência iniciada ao se recusar a ir para o Palácio Apostólico e optou por morar na Hospedaria Santa Marta, quebrou um último “protocolo” de seus antecessores.

Domingo de Páscoa

Neste domingo, 20, o pontífice, de 88 anos, tinha aparecido na sacada da galeria central da Basílica de São Pedro para a bênção Urbi et Orbi após a missa do Domingo de Páscoa e depois saudou os fiéis circulando a Praça de São Pedro a bordo do papamóvel, usando o veículo pela primeira vez após deixar hospital.

Com voz ainda fraca, ele desejou a todos, da sacada, uma “feliz Páscoa” e pediu ao mestre de cerimônias para fazer a leitura de sua tradicional bênção.

*Com informações de Reuters, Estadão Conteúdo e Deutsche Welle