Mudou tudo no mundo.

Até outro dia, o mundo tinha sido desenhado para atender maiorias.

Você gostava de rock. Ou de samba. Ou de pipoca doce. Ou era heterossexual.

Era o que tinha para o momento.

Qualquer diferença entre você e a massa seria mal vista.

Ou ignorada. Ou pior, atacada.

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Aí veio a internet.

E passamos a ter acesso aos mínimos detalhes do mundo.

Àquilo que estava escondido embaixo do tapete social e cultural.

Você descobriu que na Polônia existia uma banda de hard rock incrível.

Seu primo descobriu que no Japão tem um pessoal que – como ele – coleciona gatos empalhados.

Aos poucos, deixamos de lado o que o Grande Irmão nos oferecia para encontrar um canto no mundo.

Com acesso a um overload de informações você pode encontrar as mais deliciosas tortas de cajá, os mais secretos livros de bruxaria, as mais raras imagens pornográficas (porque, claro, somos humanos e nem tudo são flores).

Pense num gráfico de barras que representava, no passado, as vendas de, digamos, livros.

O mais vendido chegou a, digamos, 100 mil exemplares. O segundo, 60 mil. O terceiro, 40 mil. E assim sucessivamente.

No passado, esse gráfico teria mais um punhado de livros e pronto.

Hoje, porque você tem acesso ao que quiser, esse gráfico é muito mais longo.


As vendas estão diluídas entre milhões de outros títulos, para todos os gostos, percebe?

Rico de possibilidades que agora tem infinitas colunas e é muito mais comprido, deu-se o nome de “Cauda Longa”.

A cauda longa silenciosamente afetou nossa vida como nunca.

Uns dez anos depois dessa primeira mudança, vieram as redes sociais.

Os milhões de ouvintes passaram a ser ouvidos.

E com isso, puderam se unir como nunca na história.

Mais que isso.

Minorias, unidas, transformaram-se em maiorias.

Maiorias uma vez silenciadas pelo status quo, ganharam voz.

Aos poucos, uma nova geração de nativos da internet eclodiu com suas vontades.

E nós, dinossauros, começamos a ver grupos oprimidos fazerem algo que não faziam simplesmente porque não tinham um canal: falar, gritar e exigir.

Novos tempos. Nova ordem.


Onde a gente é obrigado a repensar como lidamos com a homossexualidade. Quanto somos racistas. Como encaramos as mulheres e como cerceamos, sem querer, seus direitos. Como lutar contra o bulling, contra as injustiças sociais e uma lista infinita de causas que podem não afetar você diretamente, mas por milhares de anos afetou a vida de quem sofria em silêncio.

A cauda longa chegou na Democracia.

O reverso dessa moeda é que, todos os dias, o tribunal das Redes Sociais escolhe um nome – de preferência o de uma celebridade – para pregá-lo numa cruz e apedrejá-lo.

O mundo mudou tanto, que você não pode ter uma opinião que contradiga o novo ethos vigente.

Essa semana Thiago Leifert, que até outro dia era um bom moço, foi a vítima escolhida.

Na mesma semana, criticou as manifestações políticas no esporte. Escreveu “Quando política e esporte se misturam dá ruim”. E em seguida, criticando o fato de que cada participante do BBB defende uma causa, disse no ar “sem esse negócio de representatividade, que isso daí não leva a nada”.

Nesse novo mundo, cada um pode se intitular representante de qualquer causa, ou usar o esporte para mandar qualquer mensagem.

Da mesma maneira que Thiago deveria poder falar o que bem entender.

Mas não deixam. O chamam de “branco”, de “filhinho de papai”, demonstrando o mais profundo preconceito que dizem combater.

Que ironia descobrir que ao mesmo tempo em que vivemos na Democracia mais plena e abrangente da história, essa Democracia acaba logo ali, na página dois.

 

 


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