03/02/2019 - 12:03
Como centenas de milhares de correligionários, Ray Erwin, um católico filipino que vive nos Emirados Árabes Unidos, está ansioso para a visita do papa Francisco a Abu Dhabi, uma “oportunidade única” segundo ele.
Este trabalhador filipino vai participar, como 135.000 outros fiéis, da missa histórica a ser oficiada na terça-feira pelo papa em um grande estádio em Abu Dhabi.
Aos 44 anos, Ray Erwin vive nos Emirados Árabes Unidos há duas décadas, com sua esposa e duas filhas de 19 e 22 anos. Ele diz que se sente em casa.
“Estamos muito gratos”, afirma à AFP, citando uma “oportunidade única” de ver o papa Francisco, carinhosamente apelidado de “Lolo Kiko” (vovô Francisco) nas Filipinas.
Quase um milhão de católicos, a maioria das Filipinas e da Índia, vive nos Emirados Árabes Unidos, segundo o vicariato apostólico da Arábia do Sul, que cobre o país, Omã e Iêmen.
Segundo a CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, 76% dos 9,7 milhões de habitantes dos Emirados Árabes Unidos é muçulmana, enquanto os cristãos respondem por cerca de 9%.
Os migrantes de países asiáticos constituem cerca de 65% desta população e estão empregados em todos os setores.
– “Revelação” –
Com a aproximação da visita histórica, a Igreja de Santa Maria de Dubai, decorada com bandeiras do Vaticano e um grande retrato de Francisco, está em polvorosa.
Os fiéis esperam pacientemente para retirar as autorizações permitindo a participação na missa de Abu Dhabi. Outros compram presentes de lembrança, como camisetas e bonés.
Para Irene Anne Tomi, uma indiana de 16 anos, a visita do papa resultará em “um grande momento religioso”.
“Acho que será uma revelação para todos os cristãos e muçulmanos nos Emirados Árabes Unidos”, diz a adolescente.
Na sexta-feira, a igreja, que pode acomodar 2.500 fiéis, não conteve todos os presentes. Muitos ficaram de pé contra as paredes e outros acompanharam a missa em telões instalados do lado de fora.
“Somos todos humanos e acredito que estamos ligados a um fio: o da fé”, diz Irene, que quer se tornar médica.
Ela é ativa em sua congregação e diz que se inspira no papa para superar as dificuldades da vida.
– “Obrigada Senhor” –
Os Emirados Árabes Unidos garantem que vivem um clima de tolerância religiosa e diversidade cultural, tendo o maior número de igrejas católicas da região, oito.
Omã, Kuwait e Iêmen têm quatro igrejas cada, enquanto Catar e Bahrein têm uma.
A Arábia Saudita, reino ultraconservador, só conta com mesquitas e proíbe qualquer outra prática religiosa do que a do Islã.
A visita do papa será amplamente dedicada ao tema do diálogo interreligioso. O chefe do Vaticano participará de uma conferência sobre o diálogo na segunda-feira e se reunirá com o xeque Ahmed al-Tayeb, o grande imã de Al-Azhar, a principal instituição do islamismo sunita.
Na terça, mais de 2.000 ônibus transportarão fiéis de todo o país para Abu Dhabi para a missa às 10h30 (4h30 de Brasília).
Segundo a imprensa local, será a maior reunião já realizada nos Emirados Árabes Unidos.
Ruthcel Fermana, uma babá das Filipinas que mora em Dubai há mais de cinco anos, diz que pulou de alegria quando soube que tinha permissão para ir à missa.
“No início da manhã, quando acordei, abri meu telefone e vi a mensagem de que meu nome estava na lista, eu disse ‘Obrigada Senhor, obrigada Senhor, obrigada Senhor'”, relatou à AFP, antes de concluir: “Tudo acontece por um motivo”.