A Alemanha celebrou nesta terça-feira (31) na cidade de Martinho Lutero o 500º aniversário da Reforma, em um dia marcado por um chamado comum ao perdão e à unidade de protestantes e católicos após séculos de rivalidade, muitas vezes violenta.

Durante este ano do jubileu da Reforma, “pedimos perdão por nossos fracassos, as formas como os cristãos feriram o Corpo do Senhor e ofenderam uns aos outros”, anunciaram o Vaticano e a Federação Luterana Mundial em um comunicado conjunto.

Ambas a instituições destacaram o fato de que, “pela primeira vez, luteranos e católicos tinham considerado a Reforma por uma perspectiva ecumênica”, com “um novo enfoque” do que levou à ruptura. “Mais uma vez ficou claro que o que temos em comum é muito mais do que aquilo que nos divide”, acrescentaram.

A declaração mencionava a situação dos casais mistos católicos e protestantes que desejam poder comungar em ambas as igrejas, assegurando que “é o propósito de nossos esforços ecumênicos”.

Em resposta, o chefe da Igreja Protestante da Alemanha, o pastor Heinrich Bedford-Strohm, agradeceu ao papa este gesto durante uma cerimônia na cidade alemã que viu nascer a revolução luterana, Wittenberg.

– Homenagem de Merkel –

A tradição conta que foi na porta da igreja gótica desta cidade onde nasceu um dos maiores terremotos teológicos do Cristianismo, quando um crítico dos abusos da instituição papal e do culto aos santos questionou a Igreja Católica.

Em 31 de outubro de 1517, o clérigo e teólogo Martinho Lutero pendurou no local sua “Disputa” mais conhecida, sob o nome “95 teses”, o texto fundador da Reforma protestante que marcou sua ruptura com o catolicismo.

A chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, e responsáveis políticos e religiosos se reuniram ali na tarde desta terça-feira para uma cerimônia.

“Lutero começou um movimento que nada conseguiu deter (…). Assentou as bases de uma nova compreensão do Homem e o desenvolvimento posterior da democracia moderna”, declarou Angela Merkel, filha de um pastor luterano, durante um discurso na Prefeitura de Wittenberg.

Pedindo uma maior tolerância, a líder do governo alemão evocou o “papel central da Igreja” para a sociedade.

As comemorações deste aniversário começaram há um ano em Lund, na Suécia, na presença do papa Francisco, algo impensável em outros tempos, pois as relações entre católicos e protestantes ficaram marcadas por séculos de violência.

– Feriado na Alemanha –

O “Dia da Reforma”, um feriado em vários estados federados, sobretudo no leste, foi declarado festivo em todo o país nesta terça.

As celebrações de cinco séculos da Reforma, com missas, exposições e outros eventos nas 700 cidades alemãs, atraíram três milhões de visitantes em 2017, segundo o Ministério da Cultura.

A cidade de Wittenberg se preparou por meses para a data. As lojas estão repletas de produtos, de brinquedos a aguardente, derivados da figura de seu célebre morador.

Martinho Lutero foi, além disso, um dos primeiros a escrever em língua alemã e o autor da primeira tradução da Bíblia para alemão.

O nome do teólogo também se associou a uma das páginas mais sombrias da história do país. Ao atacar o Judaísmo em seus escritos, se tornou uma referência da ideologia nazista, que se serviu dele como aval religioso.

Dividida em inúmeras igrejas na atualidade, é difícil calcular quantos protestantes existem.

Um relatório do centro de pesquisa independente dos Estados Unidos Pew Research Center avalia os protestantes em mais de 800 milhões, “definidos no sentido amplo do termo”, em todo o mundo, ou seja, mais de um terço do conjunto de cristãos, enquanto os católicos constituem cerca da metade e os ortodoxos 12%.