O Pix, que vai entrar em operação no próximo dia 16, não é apenas uma mudança no sistema de pagamentos e transferência de dinheiro. Vai mudar as relações comerciais entre consumidores e empresas. Com ele, será possível enviar e receber dinheiro 24 horas por dia, sete dias de semana, de forma gratuita. Redes de varejo, fintechs e outras instituições poderão fornecer carteiras digitais e concentrar a vida financeira do cidadão, em pé de igualdade com os bancos tradicionais. A novidade trará mais competição e poderá dar cidadania bancária a 45 milhões de brasileiros que hoje não têm contas bancárias. Empresas terão custos reduzidos e o empreendedorismo pode ser estimulado. Mas essa importante modernização exige cuidados, educação digital e adaptação
Jair Bolsonaro cancela a aquisição de vacina chinesa por motivos políticos e frita mais um ministro da Saúde — o terceiro em plena pandemia. Também afirma que a vacinação não será obrigatória. Mais uma vez coloca seu interesse eleitoral acima da necessidade dos brasileiros, que pagam o preço da irresponsabilidade com suas vidas. Para o País, a politização da doença e o avanço negacionista é uma regressão de mais de cem anos no debate sobre a saúde pública. Voltamos à época da revolta da vacina, quando oportunistas exploravam rivalidades e atacavam os agentes públicos alegando a defesa das liberdades individuais. Governadores se mobilizam e defendem que o Ministério da Saúde disponibilize a Coronavac, produzida no Instituto Butantan e defendida pelo governador João Doria. A briga pode chegar ao STF
Ministro do STF coloca nas ruas um comandante do PCC, contrariando o bom senso e chocando o País. Não foi a única falha. Essa nova vitória da criminalidade resultou de uma cadeia de erros no Executivo, no Legislativo e na PGR. Novo presidente da corte, Luiz Fux tem a oportunidade de enfrentar os problemas do sistema judiciário, a começar do excesso de decisões monocráticas
Ao entregar o poder ao Centrão, Jair Bolsonaro prepara a multiplicação de ministérios, o loteamento de cargos e uma reviravolta na economia, que permitirá programas populistas e assistencialistas, ameaçando o teto de gastos e a disciplina fiscal. Desde a redemocratização, nenhum presidente deu tanto poder ao grupo fisiológico. Com o novo arranjo, o presidente quer enterrar a Lava Jato, que ameaça sua família e os políticos ficha-suja
De repente veio uma ofensiva ideológica e os ventos do obscurantismo tomaram a Nação. Não há dia em que o Ministério do governo Jair Bolsonaro não produza um atentado à natureza, às minorias, à ciência ou ao bom senso. Conquistas fundamentais das últimas décadas estão sendo jogadas no lixo e tratadas como empecilhos ao projeto autoritário do presidente. Professores são destratados por quem deveria respeitá-los. Homossexuais são ofendidos e considerados como doentes. O País se submete de uma forma abjeta aos interesses dos Estados Unidos. E a cloroquina se impõe como símbolo do negacionismo. Enquanto isso, as florestas pegam fogo.
A fome come para dentro o corpo daqueles que não têm nada para comer, porque somente os famintos sentem o que se chama boca do estômago. Atualmente, no País, pelo menos 10,3 milhões de brasileiros não têm o que comer diariamente. E a situação é ainda mais abrangente em 36,7% dos lares, que padecem de outra condição extrema: não possuem acesso regular à alimentação
em quantidade e qualidade suficientes para se nutrirem. É o que se denomina, na econômica e ciências sociais, insegurança alimentar. A fome é escalonada em três níveis. Mera teoria. Fome sem recompensa de comida é tudo igual: é fome! O estudo, divulgado na semana passada,
é do IBGE e refere-se a 2017 e 2018 — apenas três anos, portanto, após o Brasil ter sido retirado pela ONU do “mapa da fome”, em 2014. Em 36 meses, a tal triste mapa os nossos tristes trópicos, assim definidos pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss, retornaram com 14,1% a mais de miséria.
O Pantanal, a maior planície alagável da Terra, entrou em colapso ambiental. Os efeitos do incêndio que já devastou 20% de sua área são considerados irreversíveis por alguns cientistas, comprometendo de maneira severa os recursos hídricos, a fauna e a flora do bioma numa escala nunca vista nas últimas décadas. Perto de 2,5 milhões de hectares de mata foram queimados nos últimos 30 dias, matando milhares de animais e transformando num inferno uma das regiões mais lindas do planeta. O número de pontos de fogo detectado neste ano, mais de 10 mil, ultrapassa a destruição somada dos últimos quatro anos.
Há duas epidemias que se cruzam no Brasil: a de coronavírus e a de estupidez. Aos poucos e sob a persistente influência do presidente Jair Bolsonaro, uma onda de obscurantismo se abate sobre o País e faz cada vez mais pessoas desprezarem ou minimizarem a ciência e a medicina. Só isso explica que, em meio a mais grave crise sanitária do século, cresça o número de cidadãos que compartilha a tese falaciosa, propagada pelo governo, de que vacinas não devem ser obrigatórias e causam mais riscos à saúde do que benefícios.
O presidente Jair Bolsonaro pode até declarar seu desprezo e aversão ao antecessor Lula, mas o fato é que o petista o inspira e ilumina. Apesar de ocuparem campos ideológicos opostos, o que se vê, na prática, é um Bolsonaro cada vez mais parecido com o desafeto, tanto na definição de suas políticas públicas como na estratégia populista para atrair eleitores. Seu objetivo é um só: como fez Lula, ele quer conquistar o apoio do cidadão pobre de um modo geral, em especial, o do Norte e do Nordeste, região em que perdeu as eleições. Bolsonaro está maquiando os programas sociais de Lula descaradamente e seguindo o cronograma de obras do adversário com o objetivo de se reeleger daqui a dois anos.
As investigações das movimentações de Fabrício Queiroz aprofundam as suspeitas sobre o clã Bolsonaro e alcançam o advogado Frederik Wassef, enredado em interesses obscuros de empresas que têm vínculos milionários com o governo. Acuado,
o presidente parte para o ataque contra a imprensa. Disse a um repórter que desejava “encher sua boca de porrada”, chamou outro de “otário” e tachou os profissionais de comunicação de “bundões”. Mas se nega a responder a uma simples pergunta: Por que a primeira-dama recebeu dinheiro do operador de um esquema criminoso? Os insultos geraram uma onda de indignação na internet, com mais de 1 milhão de interações. Os episódios revelam que sua nova fase mais conciliadora é uma estratégia precária para se manter no poder.
Não, ainda não é hora de voltar às aulas. O risco de contágio pelo coronavírus continua altíssimo. Mas como será o futuro? Como ficará o processo de aprendizado? Estamos perdendo tempo? Alguns dos principais pesquisadores do assunto no País dizem que para sair dessa enrascada educacional e pavimentar uma retomada sólida nos próximos meses, será preciso desenvolver, daqui para frente, novas modalidades de ensino híbrido, que combina atividades presenciais e não presenciais. O maior problema, porém, é que no Brasil há milhões de estudantes digitalmente excluídos, que estão, no momento, sem qualquer atividade escolar
O êxodo urbano, a saída em massa das metrópoles, virou uma tendência mundial e é verificado em muitas grandes cidades neste momento. Impelidas pela pandemia, as pessoas estão, simplesmente, abandonando áreas mais densas e se mudando para o interior, comprando e alugando casas ou aproveitando muito melhor as que já tinham. Com a disseminação do home office, quem pode e tem essa opção está indo para o campo ou para as praias, em busca de tranquilidade para trabalhar e, principalmente, de qualidade de vida e segurança sanitária.
Nestes dias, o Brasil atingirá a aterrorizante marca de 3 milhões de infectados e 100 mil óbitos. São 100 mil vidas ceifadas de forma súbita pela Covid-19. E não se trata apenas de um número gigantesco. São trajetórias pessoais, sonhos e projetos interrompidos por um vírus com enorme velocidade de contágio que poderia ter sido enfrentado antes e com a devida seriedade pelo governo e por muitas autoridades
Alguns dos piores traços do caráter nacional têm se manifestado com frequência, nas últimas semanas, e mostrado que a propalada cordialidade brasileira não demora um segundo para virar ilusão. São constantes as imagens de gente querendo ganhar discussões no grito, impondo autoridade, dando “carteiradas”, agredindo inocentes e, principalmente, recusando ser chamada de cidadã ou cidadão, como se fosse uma afronta. Parece que a cidadania virou uma ofensa pessoal e a grosseria deveria se impor como padrão de comportamento. Os problemas vão muito além da pandemia, estão nas nossas raízes, mas a exigência de uso de máscaras para proteção contra a Covid-19 e a proibição de aglomerações tornaram-se os maiores disparadores de discórdias. Agentes de saúde e profissionais de segurança, que tentam fazer as regras serem cumpridas, são alvos de pessoas que se acham superiores e expõem o lado mais pernóstico da nossa cultura, que tem no rebaixamento um de seus pilares. “Sabe com quem está falando?” é a frase preferida do anticidadão brasileiro para mostrar-se melhor do que os outros e burlar as regras.
O discurso ideológico de Jair Bolsonaro na área da Educação, enquanto era tão somente palavras, parecia nada mais que uma fala de alguém retrógrado, moralista e reacionário — um amontoado de estultícias. Quando aqueles que levam democraticamente a sério a Educação vislumbraram que o discurso poderia se tornar uma possibilidade, aí veio o medo. Agora a possibilidade virou fato — e dá pânico. Bolsonaro impôs oito nomes ao Conselho Nacional de Educação (CNE) em substituição aos integrantes que estão com o quadriênio de seus mandatos vencendo. O critério de escolha desprezou experiência e conhecimento técnicos, e prevaleceram, isso sim, as afinidades de ideologia. Mais: os indicados são na maioria seguidores do filósofo de internet Olavo de Carvalho e compõem o espólio do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub – aquele que trocava o nome do consagrado escritor Franz Kafka por “kafta” e achava que “acepipes” é sinônimo de asseclas.
A resposta desastrosa de Jair Bolsonaro à pandemia, que já provocou quase 80 mil óbitos e mais de 2 milhões de casos, evidencia o desmantelamento do Estado. O mandatário
enfraquece os ministérios, os serviços públicos e as instituições. Saúde, Meio Ambiente, Educação, Assistência Social e Cultura são algumas das áreas que enfrentam paralisia e desmanche. O Judiciário e órgãos de controle também são afetados. Sócios do fracasso ao preencherem diversas funções-chave na gestão, os militares são cada vez mais questionados. O dilema das Forças Armadas, que estão sendo engolfadas na crise, ficou patente na manifestação do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, em live da ISTOÉ. Para ele, os fardados estão se associando a um genocídio no combate à Covid-19, junto com o presidente, que pode responder no Tribunal Penal Internacional ao praticar ações negacionistas e anticientíficas. Isso aumenta a pressão de oficiais da ativa pela separação da imagem do Exército e do governo.
Entre os absurdos cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro em seu governo, o maior e mais grave é a indução do uso da cloroquina e de seu derivado, a hidroxicloroquina, no combate ao coronavírus. Dos males que causou em 18 meses, nenhum se revela tão irresponsável e insensato. O que vê hoje é um presidente que vilipendia diariamente a ciência e a medicina e dá sucessivos exemplos de ignorância. A essa altura, em outras partes do mundo, ele já poderia estar sendo acusado de charlatanismo por incentivar o uso de substâncias farmacêuticas sem ser médico e afrontando um protocolo técnico de maneira despótica. Não há qualquer comprovação de que a droga que ele promove funcione. Pelo contrário, todos os ensaios preliminares com alguma credibilidade mostram que causa mais malefícios do que benefícios, aumentando o risco de arritmias e ataques cardíacos nos contaminados. Mesmo assim, agora que diz estar doente, que seu teste deu positivo para a Covid-19, ele intensifica seus esforços para alardear os milagres da cloroquina. Começou a tomá-la assim que se sentiu mal, domingo 5. E adotou o tratamento desde então. Como bom garoto-propaganda, caso se cure, vai dizer que foi graças à ela.
As investigações sobre o filho do presidente agravam a crise do governo. Além da associação com milicianos, há a suspeita de peculato, organização criminosa e improbidade administrativa. Apesar de um habeas corpus ter suspendido tempo-rariamente o processo, os rolos do senador aumentam os riscos para o mandato do presidente, que não consegue se dissociar do escândalo. Por isso, recuou nos ataques ao STF e tem evitado as aparições públicas e o contato com a imprensa.