A cada Olimpíada ou Copa do Mundo, é inevitável que militares de outros países – e mesmo da Otan, no caso da Europa – ajudem na segurança do país-sede, que se torna alvo de hooligans e terroristas. O Catar, do tamanho de meio Sergipe, com 1,5 milhão de habitantes, recebe outro 1,2 milhão de visitantes em sua vitrine do futebol que vai até 18 de dezembro. Quase dobrando o número de pessoas em seu território, o país teve sua vigilância reforçada até com unidades de operações especiais violentas – como é o caso da turca Polis-Özel-Harekat, a POH, que conta com um dos únicos pelotões femininos dessa elite internacional. Ao todo, são representantes de 14 países, enviados por governos ou contratados, envolvidos na Operação Escudo da Copa, que abrange os hotéis das 32 seleções e os oito estádios e é bancada pelo Catar.

O mundo do esporte entrou em alerta depois do ataque terrorista na Olimpíada de Munique 1972, quando o grupo palestino Setembro Negro assassinou 11 atletas de Israel e depois teve seus cinco membros mortos em emboscada no aeroporto, mais um policial alemão. Mas o gigantismo da segurança em grandes eventos esportivos mundiais se deu mesmo depois do ataque às Torres Gêmeas em Nova York em 2001, que somou 2996 mortes entre vítimas e seqüestradores. A primeira Olimpíada pós-11 de setembro foi em Atenas 2004 e a capital grega foi sitiada, até com antimísseis da OTAN ostensivamente visíveis em áreas-chave da segurança.

Veja como o Catar se defende

Para esta Copa 2022, houve treinamento in loco dessas forças de segurança por cinco dias, simulando contra-ataques para avaliar estado de prontidão e capacidade/velocidade de respostas em emergências, conforme informação do jornal local The Península. Dos exercícios do Comitê de Segurança, chamado de Watan em árabe e traduzido por Nação, participaram 32 mil seguranças do governo catari e outros 17 mil de empresas privadas, além dos reforços internacionais. Opositores anunciaram e criticaram o emprego de mercenários (o jornal The National, com sede nos Emirados Árabes Unidos, deu conta de ex-soldados jordanianos que teriam recebido ofertas do governo do Catar).

Nesta Copa, somente da Turquia são mais de 3 mil soldados de choque, além dos 100 das forças especiais, 50 especialistas em bombas e 80 cães farejadores, mais a corveta TCG Burgazada, ancorada em Doha com 250 embarcados. Além da POH, que reúne policiais com pesado armamento próprio, além de veículos blindados e helicóptero, acusados de violação de direitos humanos em áreas curdas. Segundo o ministro turco Suleyman Soylu, do Interior, em janeiro seu país já havia treinado perto de 700 seguranças do Catar em 38 setores. Sobre a Turquia, há informações de que também estão sob sua responsabilidade as operações de defesa química, biológica, radiológica e nuclear. Pelo acordo, os turcos só recebem ordens de seus comandantes turcos.

O Reino Unido entrou com treinamento de busca avançada, planejamento operacional e apoio no comando e controle. Segue com consultoria especializada, além dos aviões e navios da Marinha Real atracados à beira do Golfo Pérsico. A França tem oficiais especializados em policiamento antidrones, além de 220 seguranças, também encarregados de proteger os torcedores de seu país. Há especialistas de Itália e tropas enviadas pelo Paquistão, que estão em Doha desde o início deste mês, segundo sua rádio estatal. A cooperação dos EUA, segundo seu Departamento de Defesa, está voltada para “acordos técnicos”. A Coréia do Sul está a postos com agentes de contraterrorismo. O Marrocos colabora em área das mais sensíveis, fora do campo de conflitos diretos: a segurança cibernética. Há um centro de comando central monitorando online todas as imagens das câmeras colocadas nos oito estádios.