14/11/2019 - 12:24
As armas parecem mais apropriadas para a Idade Média do que para uma cidade grande como Hong Kong, onde os manifestantes pró-democracia estão usando catapultas de madeira, flechas em chamas e arcos, artefatos explosivos de fabricação caseira e barricadas de bambu para bloquear estradas e impedir o avanço da polícia.
As estradas do território foram bloqueadas esta semana com barricadas de bambu e, nas ruas, foram criados muros com tijolos.
As universidades viraram o epicentro da batalha, onde estudantes começaram a preparar a “defesa” contra a polícia.
O sistema de transporte continua paralisado, e os manifestantes adotaram novas armas, como coquetéis molotov e tijolos, nos confrontos com as forças de segurança.
Também utilizam material esportivo – como dardos, arcos e flechas que pegam dos depósitos das universidades –, assim como raquetes de tênis, para rebater as granadas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia.
Os manifestantes retiraram cadeiras e colchões dos alojamentos universitários para usá-los como barricadas e escudos frente às balas de borracha dos agentes.
Também surpreende a presença de catapultas de estilo medieval nesta megalópole, considerada uma das mais modernas do mundo.
Quase mil manifestantes estavam na Universidade Politécnica de Hong Kong nesta quinta-feira (14) à espera de uma possível operação policial.
O campus fica diante do “Cross Harbour Tunnel”, um caminho crucial que liga a península de Kowloon com a Hong Kong Island.
Os manifestantes bloquearam a passagem na quarta-feira (13) e instalaram uma catapulta com vista para o túnel, para o caso de a polícia tentar romper as barricadas.
Alguns manifestantes lançam flechas com a ponta em chamas de uma ponte em direção à polícia.
– “Fábrica de armas” –
Os vídeos que circulam nas redes sociais mostram os manifestantes celebrando o lançamento de objetos em chamas com uma catapulta.
Quase seis meses depois do início, o movimento pró-democracia prossegue com suas ações coletivas, que agora também são marcadas pela violência nos confrontos com a polícia.
Na Universidade Politécnica, os estudantes instalaram controles, também para os meios de comunicação, para saber quem entra e quem sai.
“Para evitar a entrada de agentes à paisana”, explica um estudante que se identifica como Michael, de 23 anos, que não revela seu nome verdadeiro.
“Não sei se será eficaz, mas é melhor do que nada”, completa.
A polícia acusa os manifestantes de terem transformado a Universidade Chinesa de Hong Kong, uma das mais prestigiosas do território, em uma “fábrica de armas”.
“A verdade fala por si”, afirmou o porta-voz da polícia de Hong Kong, John Tse, que acusa os “amotinados” de lançarem coquetéis molotov das pontes e por ataques contra os agentes com flechas.
A polícia utiliza cassetetes, balas de borracha, gás lacrimogêneo, jatos d’água e armas, que deixaram um estudante ferido na segunda-feira (11).
No mesmo dia, um homem que gritava frases a favor do governo de Pequim foi atingido por um líquido inflamável e teve o corpo queimado. Ele está internado em condição crítica.
Consequência dos protestos, as ruas de Hong Kong estão repletas de vidros quebrados e de tijolos reunidos pelos manifestantes.
“Alguns nós colocamos por amor à arte”, disse um estudante de 17 anos, que se identificou como Sam. “Também deixamos alguns montes mais elevados para que os policiais tropecem quando correm”, acrescentou.