Catalunha suspende independência e pede diálogo

Catalunha suspende independência e pede diálogo

BARCELONA, 10 OUT (ANSA) – O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, afirmou nesta terça-feira (10) que o governo regional celebrará uma sessão ordinária para declarar a independência da comunidade autônoma e iniciar um processo constituinte.

Em um discurso no Parlamento local, Puigdemont afirmou que assume o “mandado do povo” para que a Catalunha se torne um “Estado independente”. “As urnas dizem sim à independência, e este é o único caminho que estou disposto a percorrer”, afirmou o presidente.

No entanto, pedindo “diálogo”, Puigdemont propôs a suspensão da declaração de secessão por “algumas semanas”, para que se abra um canal de negociações entre Barcelona e Madri. “Apelo à responsabilidade de todos. Ao governo espanhol, peço que aceite a mediação”, acrescentou.

Em seu pronunciamento, realizado com uma hora de atraso, o presidente catalão afirmou que o resultado do plebiscito de 1º de outubro, quando mais de 90% dos eleitores disseram “sim” à secessão, deu à região o direito de ser um “Estado independente”.

Se dirigindo aos cidadãos espanhóis, Puigdemont pediu que as pessoas reconheçam o “esforço” que levou a Catalunha até esse momento. “Não somos delinquentes, não somos loucos, não somos golpistas. Somos pessoas normais que querem votar. Não temos nada contra a Espanha e os espanhóis, mas a relação não funciona há muitos anos. E nada foi feito para reverter uma situação que se tornou insustentável”, salientou.

O presidente catalão também criticou a repressão de Madri contra o plebiscito de 1º de outubro e o duro discurso proferido pelo rei Felipe VI na semana passada, quando o monarca defendeu as ações do Estado para evitar a consulta popular.

“Esperávamos que o rei Felipe pudesse fazer o papel de mediador, visto que nenhuma instituição central se abriu ao diálogo com a Catalunha. Mas, com seu discurso da semana passada, ele demonstrou que essa chance está perdida”, disse.

Pressão – A declaração de independência e sua subsequente suspensão por Puigdemont joga a responsabilidade para o governo da Espanha, que pode agora aceitar o convite à negociação ou, alegando “rebelião”, aplicar o artigo 155 da Constituição para destituir as autoridades catalãs e convocar eleições na região.

O discurso de Puigdemont e as reiteradas menções ao direito de votar indicam que a solução para a crise poderia passar pela realização de um plebiscito com o aval de Madri, mas essa saída seria arriscada para o primeiro-ministro Mariano Rajoy, já que uma eventual vitória do “sim” seria irreversível.

Histórico – Dona de uma forte identidade cultural, inclusive com idioma próprio, a Catalunha abriga movimentos separatistas há séculos, mas o sentimento de descontentamento com Madri se agravou durante a ditadura de Francisco Franco, quando o povo da comunidade autônoma foi impedido de exibir seus símbolos e falar sua língua.

Com o restabelecimento da democracia, a região ganhou ampla autonomia em matéria de saúde, educação e segurança e se aproveitou da integração europeia para impulsionar seu desenvolvimento, tornando-se a região mais rica da Espanha.

No entanto, a crise de 2008 e as políticas de austeridade impostas por Madri reviveram os anseios nacionalistas no povo catalão, que passou a desejar ainda mais autonomia, pleito sempre negado pelo governo espanhol. (ANSA)