Assistindo ao Jornal das 11, o prefeito Claudionor ouviu:
“A Catalunha fez um plebiscito para se tornar independente”.
No mesmo instante, explodiu uma ideia na sua cabeça.
Mal conseguiu dormir.
Dia seguinte, no seu gabinete, desabafou:
– A Catalunha quer ser um país independente! — explicou para o seu secretário.
– Eu vi, seu prefeito.
– Então.
– Então o que, prefeito? — perguntou o secretário, suspeitando de fanfarronice.
– Independência, rapaz! — levantou-se, gritando com o seu secretário. Eu vou declarar a independência da nossa cidade!
O prefeito não conhecia nada de história, caso contrário, saberia que nós nunca fomos muito bons nesse negócio de independência.
Tanto é que, para declarar a nossa própria, foi preciso que o filho do rei da Corte tomasse uma atitude.
Porque nós mesmos, nem tchuns.
Inclusive dizem as más línguas que, no Ipiranga, quando dom Pedro deu o histórico grito “Independência ou Morte”, uns gaiatos responderam “Morte! Morte! Morte!” e ficaram se entreolhando, atônitos,
ao perceber que a resposta certa era a outra.
Mas voltemos ao prefeito Claudionor, que não sabia de
nada disso.
– Mas pode isso, prefeito?
– Se pode? Claro que pode! Eu declaro e pronto.
O prefeito estava convencido: a independência seria uma dádiva para a cidade.
Cidade pequena que ia virar ponto turístico na região.
Os estrangeiros brasileiros viriam de longe ver a honestidade de perto!
Mas a independência seria ótima também para a sua
carreira política.
Da noite para o dia seria presidente!
– O primeiro presidente da Catalunha do Oeste! — olhando para um horizonte imaginário.
– Sério esse nome?
– Sério.
E assim foi.
Em pouco mais de uma semana o prefeito estampava a capa dos principais jornais da região.
– Agora todos os políticos safados, ladrões e incompetentes
do Brasil são estrangeiros — declarou na televisão.
Claro que ninguém no resto do Brasil levou a sério a independência da Catalunha do Oeste.
Mas a cidade era tão, mas tão pequena, que, em nome
do turismo, relevaram.
Um dia um repórter do The New York Times apareceu para entrevistar o prefeito.
A entrevista foi longa e o jornalista aos poucos ganhou
a confiança do alcaide.
Então, curioso com a sanidade do Claudionor, guardou para
o fim a pergunta mais íntima:
– Mas, prefeito, diga aqui em off… só entre nós… esse país que o senhor inventou, a Catalunha do Oeste, é só uma brincadeira, não? Ou o senhor acha mesmo que é um país
de verdade?
O Prefeito Claudionor, que era fanfarrão mas não era trouxa, manteve seu discurso. Disse que a população cansou de tanta roubalheira. Que clamou pela independência. E claro que a Catalunha do Oeste era um país de verdade!
À noite, já na cama, o prefeito pensou na pergunta do repórter.
Sem perceber, foi sincero em voz alta:
– País de verdade, de verdade, não é. Mas se o Brasil também não é e funciona, por que não haveria de funcionar por aqui também?
Deu um tapa na boca por falar em voz alta.
Por sorte, ninguém ouviu.
A primeira dama da Catalunha do Oeste já tinha pegado
no sono.

País de verdade, de verdade, não é. Mas se o Brasil também
não é e funciona, por que não haveria de funcionar por aqui também?
Deu um tapa na boca por falar em voz alta. Por sorte, ninguém ouviu.