Um ano e meio depois da tentativa de separação, a Catalunha ocupa o centro do debate das eleições espanholas: a principal arma da oposição contra o socialista Pedro Sánchez, também pode ser chave na futura governabilidade do país.

Em dez meses de governo do socialista PSOE, os partidos separatistas catalães adquiriram um papel determinante na política nacional.

Eles apoiaram a moção de censura de Sánchez ao conservador Mariano Rajoy. Também provocaram a antecipação das eleições de domingo, ao não aprovarem os orçamentos socialistas, insatisfeitos com os avanços do diálogo empreendido pelo novo governo espanhol.

Seu protagonismo foi mantido na campanha, com os três partidos de direita usando constantemente essa incipiente negociação como arma contra o líder socialista, favorito nas pesquisas.

“A Catalunha é o centro da eleição, principalmente para a direita”, afirma José Ignacio Torreblanca, diretor em Madri do centro de reflexão European Council on Foreign Relations.

“A Catalunha nunca foi determinante para as campanhas. É a primeira vez que realmente determinou por completo o debate da campanha eleitoral”, destaca Antonio Barroso, analista da Teneo Intelligence.

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– “A maior fraqueza” do PSOE –

Os debates eleitorais da segunda e terça-feira foram um fiel retrato de como se desenha a disputa.

“Você está refém daqueles que querem dividir a Espanha”, é “um perigo público” – assim foi acusado Sánchez por seu principal opositor Pablo Casado, do Partido Popular (PP).

Em seguida, foi a vez de Albert Rivera, do Cidadãos (de centro direita), que o acusou de governar “para aqueles que querem acabar com a Espanha”.

E, em paralelo, em uma praça de touros lotada nas redondezas de Madri, o líder do grupo de extrema direita Vox, Santiago Abascal, reivindicava seu “movimento patriótico e cultural pela defesa da Espanha contra os separatistas”.

O surgimento deste partido nas eleições regionais de dezembro passado na Andaluzia, com um discurso muito hostil ao separatismo e de defesa da identidade espanhola, levou a campanha dos conservadores para a questão territorial.

“A maior fraqueza do PSOE é em relação à questão territorial que, depois de tudo, foi o que gerou as novas eleições”, aponta Barroso.

Diante dos ataques constantes da direita, Sánchez repete que não negociará um referendo de autodeterminação na Catalunha – “não é não”, reafirmou esta semana – e tenta desviar a atenção para o crescimento da extrema direita.

“O único partido que pode vencer os três de direita (…) é o Partido Socialista”, garantiu no debate.

– ‘Política anti-inflamatória’ contra o artigo 155 –

Contra sua “política anti-inflamatória” na Catalunha, como a batizou o ministro das Relações Exteriores Josep Borrell, a direita aposta em uma nova aplicação do artigo 155 da Constituição, utilizado em outubro de 2017 para suspender o autogoverno regional.


“A maior diferença entre esquerda e direita hoje na Espanha é o grau de excitação em relação à questão nacional”, afirma Joan Botella, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona.

“A direita está superempolgada, enquanto a esquerda aposta na tranquilidade”, acrescenta.

Nesta região, os eleitores parecem mais atraídos pela segunda opção.

As pesquisas apontam para uma vitória dos socialistas, ou do partido separatista mais moderado, o Esquerda Republicana (ERC), que poderia assegurar a maioria para Sánchez.

Ainda em prisão preventiva enquanto aguarda o julgamento por rebelião pela tentativa de separação em 2017, o líder do ERC, Oriol Junqueras, já insinuou seu futuro apoio aos socialistas.

Até agora, contudo, o apoio separatista tem-se mostrado volátil e desgastante para os socialistas.

E, em caso da aplicação de longas penas de prisão contra os separatistas que aguardam julgamento no Supremo Tribunal, isso poderia dar novo fôlego à estratégia separatista defendida na Bélgica pelo ex-presidente Carles Puigdemont.

“O PSOE tem entendido que, se der as mãos aos separatistas catalães, será um presente para os conservadores e, se puder mantê-los afastados, fará isso”, avalia Botella.


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