O governador Cláudio Castro (PL) negou nesta sexta-feira, 5, que tenha feito uma manobra regimental ao exonerar um secretário do governo do Rio para forçar a saída do cargo de TH Joias e evitar que a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) discutisse a prisão. O chefe do Executivo fluminense disse ainda que é preciso aguardar as investigações contra o presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União Brasil), e citou casos em que denúncias contra políticos não levaram a condenações.
“Nós teríamos, na semana seguinte, o início da votação das pautas econômicas que estavam sendo postergadas pela presidência da Assembleia Legislativa. Na terça-feira, eu e o então secretário Leonardo Picciani tomamos a decisão de que como ele sairia na sexta, retornando à assembleia, e que haveria um processo com uma acusação muito grave a um deputado de pertencer a organização criminosa mais combatida, não podia alguém que estava no governo proporcionar a ele o direito à votação de uma soltura. Então antecipamos. Isso é bobagem. Isso é retórica de quem quer colocar o governo em uma coisa que o governo não tinha nada a ver”, afirmou o governador durante o 14ª edição do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud).
A manobra, segundo fontes ligadas à investigação ouvidas pelo Estadão, tinha como objetivo forçar diplomaticamente a saída do cargo de TH Jóias, evitando assim que a Alerj fosse obrigada a votar a manutenção ou relaxamento da prisão, como mandam as regras no Estado.
O despacho do governador está na mira da Polícia Federal (PF) e é considerado a primeira digital do chefe do Executivo fluminense na investigação sobre os tentáculos do Comando Vermelho (CV) dentro do Palácio Guanabara.
O ato, assinado por Castro de última hora, obrigou a publicação de uma edição extraordinária do Diário Oficial do Estado em 3 de setembro deste ano, na tarde do dia em que o ex-deputado TH Jóias, Thiego Raimundo dos Santos Silva, havia sido preso pela PF por suspeita de lavagem de dinheiro, compra de armas e drones e relações suspeitas, pessoais, com os chefes da facção no Estado.
Na ocasião, o governador exonerava às pressas o então secretário estadual de Esporte e Lazer, Rafael Picciani (MDB), filho e principal herdeiro político do falecido político Jorge Picciani, que foi preso pela PF quando era presidente da Alerj, assim como Rodrigo Bacellar, atual presidente da Casa, preso nesta quarta-feira, 3.
Segundo Castro, é preciso “tomar cuidado” com o caso da prisão de Bacellar e cita “casos que foram anulados”.
“Nós já vimos num período muito recente um secretário de Estado ser preso e 30 ou 60 dias depois todo o processo ser cancelado e anulado pela justiça. Então essas coisas tem que se tomar muito cuidado. É uma prisão preventiva. O que a gente espera é que (Bacellar) tenha todo o direito a ampla defesa e que no bojo das investigações as coisas sejam explicadas. Agente público que fizer mal feito tem que ser punido”, disse.
Em nota, o Governo do Rio disse que o retorno do deputado estadual Rafael Picciani à Alerj estava programado para que ele participasse das votações do pacote de projetos do Governo do Estado voltados ao fortalecimento da segurança pública.
Segundo a PF, Bacellar é suspeito de ter vazado informações da Operação Zargun, em que o então deputado estadual TH Joias foi preso acusado de ligação criminosa com a facção Comando Vermelho (CV).
A ordem de prisão foi expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ADPF das Favelas. De acordo com Moraes, a PF argumentou que Bacellar “orientou o investigado” na remoção de objetos da sua residência, a indicar um envolvimento direto “no encobrimento do investigado à atuação dos órgãos de persecução penal”.