É sempre aconselhável ouvir Wálter Fanganiello Maierovitch. Por ocasião da nomeação de Cristiano Zanin Martins como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado de 74 anos colocou o dedo na ferida. Quanto a Zanin, disse, “nós estamos muito mal informados a respeito dele”. Lula, segundo ele, indicou Zanin por motivos pessoais, o que Maierovitch considera inconstitucional.

Mas esse não foi, para Maierovitch, o maior problema com a nomeação do advogado de Lula para o cargo no Supremo. “Não se sabe o que ele pensa das coisas, é surreal…ele representa o povo, mas o povo não sabe o que ele pensa.” Agora o povo está lentamente percebendo em que direção as decisões de Zanin estão indo. E isso não torna as coisas melhores. Muito pelo contrário.

As críticas abertas às primeiras decisões de Zanin como ministro do Supremo vieram particularmente da ala progressista do PT. Nas redes sociais, pode-se até ler que Zanin seria uma escolha ainda mais decepcionante de Lula do que Dias Toffoli. Este foi primeiro assessor jurídico da CUT e do PT antes de trabalhar com José Dirceu na Casa Civil. Lula finalmente o nomeou para o STF em 2009. Mais tarde, Toffoli sequer se referiu ao golpe de 1964 como tal. Em vez disso, falou em “revolução” e “movimento”. Em suma, não pode haver maior insulto a Zanin do que dizer que ele é uma escolha ainda pior que Toffoli.

Zanin vem sendo atualmente acusado de assumir desnecessariamente posições conservadoras, embora muitos dos seus colegas ministros, eles próprios considerados conservadores, tenham facilmente assumido posições mais progressistas. Surpreendentemente e contrariamente à opinião dos seus pares, Zanin votou contra a descriminalização do porte de maconha, questão que é cara ao campo da esquerda.

Anteriormente, ele foi o único membro da Corte a votar contra a equiparação de ofensas contra pessoas LGBTQIAPN+ à injúria racial. Ele também deu o voto decisivo para que as guardas municipais sejam reconhecidas como órgão de segurança pública. As explicações surgem rapidamente: alguns argumentam que Zanin não vem de movimentos sociais, mas sempre representou empresas como advogado antes de ficar conhecido por defender Lula. Então, de onde deveria vir uma convicção de esquerda?

O que nos leva à questão básica: por que Lula tinha necessariamente que nomear seu advogado para a vaga no STF? A resposta que infelizmente me vem à mente é esta: vingança contra Sergio Moro, o juiz que certa vez prendeu Lula e que sonhava em ser indicado ao STF pelo presidente – no governo de Jair Messias Bolsonaro.

Fim do sonho

Mas tudo acabou sendo bem diferente. O fato de o STF ter anulado as sentenças de Moro, possibilitando assim o retorno de Lula à presidência, foi a primeira grande humilhação do ambicioso juiz. O fato de que agora justamente Zanin, advogado que, diante de Moro, estava ao lado de Lula no tribunal de Curitiba, ocupa esse cargo no STF deve trazer imenso desgosto a Moro.

Mas será que Lula seria capaz de, por pura vingança, levar ao STF um advogado que, na visão dos apoiadores de Lula, tem as convicções erradas? No início de março, Lula tinha dito que não guardava rancor dos 580 dias de prisão que Moro lhe concedeu. “Se tem um brasileiro que tem razão para ter muitas e profundas mágoas sou eu. Mas não tenho, porque o sofrimento que o povo brasileiro e os pobres estão passando neste país é infinitamente maior do que qualquer crime que cometeram contra mim.”

No final de março, Lula deixou claro numa entrevista quais os sentimentos ele tinha pelo ex-juiz Sergio Moro. Para isso ele relembrou cenas durante seu encarceramento. Muitas vezes dizia aos seus visitantes na prisão, quando lhe perguntavam se estava tudo bem: “Não tá tudo bem, só vai estar bem quando eu f… esse Moro”.

Será que realmente ele conseguiu isso agora com a nomeação de Zanin? O ministro do STF Zanin tem apenas 47 anos. Ele permanecerá no posto por quase 30 anos, ou seja: até o final de 2050 o povo ainda terá a oportunidade de conhecer o advogado de Lula e suas convicções até então desconhecidas. Especialmente para o campo progressista de esquerda, esta deverá ser uma experiência longa e dolorosa.

Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

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