Um ano após a morte do jovem Miguel Otávio de Santana, de 5 anos, Mirtes Renata Santana de Souza, de 34, mãe do garoto, mantém a casa intacta, como se o filho fosse voltar de um passeio a qualquer momento.

Em entrevista ao G1, Mirtes falou sobre a saudade do filho e como tenta reconstruir a vida. “Queria que isso fosse um pesadelo e que eu acordasse e visse o meu filho junto comigo”, disse, emocionada.

O quarto que Mirtes dividia com Miguel continua do mesmo jeito. A cama dela permanece de um lado e a dele do outro, coberta por um lençol infantil e dois bichos de pelúcia. De novo, em cima de uma cadeira no canto do cômodo, há livros de direito, curso que ela começou em fevereiro deste ano. “Foi uma missão que o meu filho me deu. E escolhi para entender melhor o processo do meu filho. E lá na frente poder ajudar, como estão me ajudando agora. Principalmente outras mães negras, periféricas, que não têm condições de pagar advogados”, contou.

Na conversa com o portal, Mirtes revelou que não consegue se desfazer das coisas do filho. “Mato a saudade olhando as fotos dele, os vídeos, escutando a vozinha dele. Sinto uma falta terrível. Estou na mesma casa, ainda, com as coisinhas dele, porque não consigo me desfazer. E agora, tenho que replanejar a minha vida sem o meu neguinho junto. É bem difícil, mas vou conseguir”, desabafou.

Mirtes afirmou que espera pela Justiça no caso do filho. “Não consigo dormir direito, porque fico pensando no que vou fazer para o caso do meu filho não cair no esquecimento. E só vai amenizar, aliviar, quando realmente a justiça for feita e eu puder olhar para o céu e dizer ‘filho, a justiça foi cumprida'”, relatou.

Andamento do caso 

Segundo o G1, há três processos na Justiça a respeito do caso. O advogado Rodrigo Almendra, que representa Mirtes na esfera criminal, criticou a demora no andamento no processo em que Sarí Corte Real é ré. De acordo com o doutor, o processo travou no depoimento de duas testemunhas de defesa da acusada. Foi solicitado o cancelamento do depoimento de uma dessas testemunhas, por terem sido feitos sem a presença da assistência de acusação.

“O processo está na fase de instrução e ouvida das testemunhas. Foram ouvidas as de acusação e faltam, ainda, duas de defesa e a própria ré. Um ano para ouvir duas testemunhas é bem absurdo. Porque basicamente o processo travou”, criticou Rodrigo.

A demora na conclusão dos depoimentos gera uma sensação de impunidade para Rodrigo. “Gera descrédito no Judiciário, uma sensação de que Sarí se privilegia de um sistema ruim. Tenho vários motivos para achar que a demora atrapalha ao criar uma narrativa pró-impunidade”, disse o advogado.

Para Pedro Avelino, advogado de defesa de Sarí, a acusada é alvo de condenação antecipada. “Para além desse juízo de condenação, Sarí sofreu diversas ameaças de violência, de estupro, de morte. A gente registrou essas ocorrências. Ela andando no Shopping, por exemplo, é abordada e chamada de assassina”, comentou.

Diferente de Rodrigo, Pedro não acredita que o processo caminha lentamente. “Em um contexto de pandemia e da acusação, ele vem andando com bastante celeridade. Está perto de um desfecho. A instrução criminal está perto do fim”, pontuou.

Relembre o caso 

Miguel morreu no dia 02 de junho de 2020, após cair do nono andar de um condomínio de luxo em Recife, no Pernambuco. Empregada de Sarí Corte Real, Mirtes tinha saído para passear com a cadela dos patrões e o menino ficou sob os cuidados da acusada.

Câmeras de segurança flagraram o momento em que o jovem entrou em um elevador de serviço e Sarí apertou o botão e deixou que ele subisse sozinho.

No mesmo dia da morte de Miguel, Sarí foi levada para a delegacia e chegou a ser presa em flagrante por homicídio culposo, mas pagou fiança de R$ 20 mil para responder ao processo em liberdade. Um mês após o óbito da criança, a Polícia Civil indiciou Sarí por abandono de incapaz que resultou em morte. Em julho de 2020, ela virou ré pela morte do menino.