Os novos desdobramentos do caso, envolvendo o assassinato da vereadora fluminense Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, reacendem uma das maiores chagas nacionais, senão a maior: o binômio violência-impunidade.

É simplesmente inaceitável chegar ao século XXI, detendo o título de um dos países com o maior número de homicídios (oficialmente, quase 50 mil) por ano – todos os anos! Pior ainda é encontrar um índice pífio, quase inexistente, de punibilidade.

No Brasil, mata-se muito, investiga-se pouco – e mal! – e condena-se quase nada. Menos de 30% dos homicídios terminam em prisão, e apenas 10%, em cumprimento efetivo da pena. Ou seja: de cada 10 assassinos, 7 encontram-se livres, leves e soltos para matar outra vez.

Um crime de ordem política é ainda mais grave e danoso ao país, pois se trata de duplo atentado: contra a vida e contra a democracia. Os atos terroristas de 8 de janeiro próximo passado estão tendo o devido tratamento que merecem, mas e Marielle?

Cinco anos depois, a Justiça ainda não chegou ao mandante, ou mandantes, do crime. A Polícia Federal prendeu o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, suspeito de “auxílio moral e material” aos criminosos já detidos, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz.

Tão triste quanto o fato em si – assassinato e (in)justiça -, é a grotesca politização do caso, tanto por extremistas de esquerda como de direita, disputando narrativas e protagonismo. O Brasil e os familiares e amigos de Marielle merecem bem mais do que isso, ainda que irremediavelmente privados da vida e da companhia da vereadora.