Caso Marabraz: prima de noivo de Marina Ruy Barbosa denuncia pai por violências

Najla Fares, prima de Abdul Fares, descreve diversos abusos em ação judicial e afirma que foi "prisioneira" do pai a vida inteira

Caso Marabraz: prima de noivo de Marina Ruy Barbosa denuncia pai por violências

O imbróglio judicial envolvendo sócios e herdeiros das Lojas Marabraz ganhou mais um desdobramento. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Najla Fares, 29 anos, uma das herdeiras do negócio, denunciou o próprio pai, Nasser, um dos sócios do empreendimento, alegando ter sofrido “violências psicológicas, patrimoniais e morais” de seu genitor. A petição apresentada pelos advogados de Najla, em 29 de janeiro, faz parte da ação judicial na qual Nasser e seu irmão, Jamel, tentam reaver as cotas da holding familiar doadas aos seus herdeiros em 2011.

A disputa judicial tramita na 2ª Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos à Arbitragem de São Paulo, em uma batalha pelo controle da LP Administradora de Bens, que reúne o patrimônio familiar imobiliário avaliado em R$ 5 bilhões. De um lado estão os irmãos e sócios Nasser e Jamel; do outro, os seis herdeiros da terceira geração da família, incluindo Abdul Fares, noivo da atriz Marina Ruy Barbosa.

Acusações de Najla Fares contra o pai

De acordo com a Folha de S. Paulo, em 24 de janeiro, os advogados de Najla entraram com pedido de medida protetiva contra Nasser por conta de violências psicológicas, patrimoniais e morais que ela teria sofrido por parte do genitor. Entre outras coisas, a jovem acusa o pai de crimes de invasão de domicílio e registro não autorizado de sua intimidade. “Meu pai controla a minha vida, não me deixou estudar, trabalhar, escolher marido. Sou prisioneira dele a vida inteira. Não aguento mais, preciso contar todos os abusos”, diz ela na petição apresentada por seus advogados.

Um inquérito apura as denúncias feitas por Najla em boletins de ocorrência registrados na 15ª Delegacia de Polícia da capital paulista. Segundo a defesa da jovem, Nasser, que é ex-presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana no Brasil, tenta mantê-la sob seu domínio e controlá-la com métodos ilegais e truculentos.

Um dos exemplos citados é quando Najla tinha 18 anos e começou a se envolver com um brasileiro cristão. Nasser teria entrado em surto, agredidido fisicamente sua filha e queria “impor o término desse relacionamento”, relatam os advogados na petição. Na época, a então estudante de Direito teria passado 12 dias no hospital por conta das agressões.

Na mesma época, Najla relata ter vivido uma tentativa de sequestro que acabou motivando sua mudança para o Líbano, por acreditar que estava em perigo. Dez anos depois, ela afirma ter descoberto, por meio de parentes próximos, que a tentativa de sequestro teria sido orquestrada pelo pai para que a filha acabasse fazendo suas vontades. Najla retornou ao Brasil noiva de um libanês escolhido por Nasser, mas acabou o noivado meses depois.

O pai, revoltado com a decisão, teria feito até greve de fome, fazendo com que Najla, devido à pressão psicológica, reatasse com seu namorado da adolescência, Khayam Ghazzaoui, muçulmano e com os mesmos princípios religiosos. A jovem ficou casada de 2014 a 2023, quando decidiu se divorciar. Ela diz ter sofrido ameaças de perder a guarda dos três filhos.

O divórcio foi homologado em outubro de 2024 e, segundo os advogados de Najla, foi então que Nasser decidiu cortar o sustento financeiro da filha e entrar com o pedido para reaver as cotas da LP, em uma ação que também afeta os primos de Najla e sócios que ficaram ao seu lado na briga com o patriarca. “A disputa que acabou por desaguar nesta ação teve seu estopim na separação de Najla, que elevou o desequilíbrio de Nasser a níveis inaceitáveis e trouxe à tona verdades antes ocultas”, descreve a petição.

Após o divórcio, Najla conta que foi monitorada por investigadores particulares e foi avisada por sua mãe que Nasser pretendia internar a filha compulsoriamente. A herdeira registrou boletim de ocorrência e realizou exames toxicológicos, com resultado negativo, além de anexar um laudo psiquiátrico atestando sua sanidade mental.

“O plano de internação compulsória apenas não foi em frente porque a mãe de Najla não mais podia assumir uma posição passiva e contou à filha o estratagema”, alegam os advogados. “Confrontado por sua esposa, Nasser ainda saiu de casa e foi morar dentro de seu escritório nas Lojas Marabraz.”

Na mesma época, ela recebeu uma mensagem anônima no celular que a alertava sobre a presença de câmeras em seu apartamento na zona sul da cidade de São Paulo. Ela encontrou dispositivos eletrônicos na sala de estar e na suíte principal, sendo orientada a fazer ata notarial e notificar o condomínio para esclarecer o acesso de terceiros não autorizados ao apartamento. Na ata, ela também registrou que um rastreador foi encontrado em seu automóvel, uma Porsche Cayenne, após uma vistoria.

Najla então confrontou o pai, que, segundo ela, teria cometido o maior dos abusos em frente aos sobrinhos, Nader e Raquel. “Nasser puxou o celular e mostrou um áudio de Najla com seu namorado, obtido justamente da câmera escondida em seu apartamento”, descrevem os advogados. “Meu pai mostrou o áudio… Na sala… Bizarro!!!”, descreve Najla em mensagem de WhatsApp anexada aos documentos apresentados na denúncia. “Tô me sentindo exposta. Pelada. Invadida. Quero me enfiar em um buraco e não sair mais.”

Além disso, em seu depoimento, Najla também relatou violências sofridas na infância, “época em que seu pai costumava assistir filmes pornográficos ao seu lado, enquanto ela dormia na cama de seus genitores”.

De acordo com a avaliação da juíza Andrea Galhardo Palma, em despacho de 31 de janeiro, os relatos de Najla ultrapassam uma disputa societária. “A petição juntada de forma sigilosa pela corré Najla, bem como os documentos a ela anexados, versam sobre fatos pessoais, íntimos e familiares passados, estranhos ao objeto da presente lide e à competência deste juízo especializado empresarial.”

Dessa forma, as denúncias estão sendo apuradas em inquérito. O pedido de medida protetiva foi concedido por uma juíza do Fórum Criminal da Barra Funda na quinta-feira, 6, em processo que corre em segredo de Justiça. Segundo a Folha de S. Paulo, foram anexados 21 documentos que comprovariam os supostos crimes de Nasser, descritos em detalhes, para mostrar que a integridade física de Najla estaria em perigo.

Nasser Fares se pronunciou sobre o caso em uma mensagem publicada como anúncio na Folha de S. Paulo, afirmando que “os fatos narrados na referida petição nada têm a ver com o objeto da ação que ele e Jamel movem contra seus filhos e sobrinhos. E, não por outro motivo, o magistrado determinou o seu desentranhamento dos autos do processo.”

Ele diz acreditar que as acusações de Najla fazem parte de uma tática diversionista dos réus e que foram apresentadas em um local inadequado, devendo ser debatidas nos foros competentes. “Além disso, repilo peremptoriamente as acusações feitas contra mim, porque são mentirosas e oportunistas, apresentadas agora, para demonstrar que minha filha e meus sobrinhos querem me descrever como um monstro, mas não veem problemas de ficar com meus bens e o dinheiro”, diz Nasser.

Procurado pela Folha de S.Paulo, o advogado José Luís Oliveira Lima, representante de Najla no processo criminal, não quis se manifestar.

O site IstoÉ também tenta contato com os envolvidos. O espaço segue aberto para manifestações.

Entenda a disputa na Marabraz

Os negócios da família Fares começaram em 1965, quando o imigrante libanês Abdul Fares abriu a loja de móveis Credi-Fares, na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo. Após sua morte, em 1978, aos 48 anos, o comércio passou a ser administrado pelos quatro filhos homens do imigrante: Bahjet, Adiel, Jamel e Nasser. Os irmãos adquiriram a marca “Lojas Marabraz” em 1986, e o nome viria a se tornar um dos maiores entre as redes de varejo de móveis de São Paulo. Atualmente, são mais de 120 lojas da marca no estado.

O primogênito, Bahjet, deixou o negócio, enquanto Adiel, que é médico, fundou uma rede de clínicas populares, as “Clínicas Fares”, mas permanece como sócio da companhia. Com isso, as Lojas Marabraz passaram a ser geridas por Jamel, que administra a parte financeira, e Nasser, o mais novo dos irmãos, que é presidente da empresa e seu principal gestor.

Em 2011, as cotas da holding familiar, a LP Administradora de Bens, foram transferidas para os seis herdeiros da família, numa estratégia de blindagem patrimonial. Adiel transferiu seu terço para os descendentes Nader e Raquel. Jamel também dividiu seu terço entre os filhos Karine, Abdul e Sumaya. Já Najla, única filha de Nasser, passou a ficar com um terço da companhia.

Os primos Abdul, noivo de Marina Ruy Barbosa, e Nader, que teria mantido um affair com Jade Picon — embora a atriz e influenciadora negue o caso —, ficaram à frente da LP. Contudo, passados 14 anos, Nasser e Jamel entraram com uma ação para reaver o controle da holding. Entre os argumentos, está o estilo de vida descrito como “nababesco” dos primos, que colocariam em risco o patrimônio familiar.

Segundo informações do jornal Metrópoles, Nader recebeu R$ 30 milhões e Abdul, R$ 25 milhões, tanto da holding como das Lojas Marabraz. No total, os seis herdeiros do grupo, no mesmo período, acumularam R$ 128 milhões. Na peça inicial da ação, os advogados de Nasser afirmam que “Nader torrou nada menos do que R$ 21,4 milhões em despesas pessoais” apenas entre 2022 e 2024. Entre seus gastos, estão um avião Gulfstream, avaliado em R$ 30 milhões.

Já Abdul teria gasto R$ 16,3 milhões em despesas pessoais no mesmo período, incluindo o anel de noivado para Marina Ruy Barbosa, avaliado em US$ 1 milhão (cerca de R$ 6 milhões), em uma viagem tipo bate-volta a Dubai, nos Emirados Árabes.

“Os seis herdeiros conseguiram a proeza de, em menos de três anos, queimarem R$ 78,8 milhões em despesas pessoais”, diz a inicial. “E isso sem contar os valores milionários que eles já recebem das Lojas Marabraz.” Os advogados ainda afirmam que as despesas dos três sócios patriarcas somadas nos últimos três anos representam cerca de 7% do valor total das despesas de seus filhos.

A defesa dos herdeiros aponta que a holding vem sendo bem administrada e que os gastos excessivos correspondem ao padrão de vida de uma família bilionária.

Semanas antes dos sócios entrarem com a ação para reaver as cotas da holding, Abdul Fares, que é filho de Jamel, entrou com uma ação de interdição de bens contra o pai na comarca de Simões Filho, na Bahia. Jamel, por sua vez, reagiu com uma notícia-crime por falsidade ideológica contra Abdul. Ainda de acordo com fontes do jornal Metrópoles, as duas ações estariam relacionadas. Em meados de dezembro, pai e filho anunciaram uma reconciliação e afirmaram que desistiriam das ações movidas um contra o outro. Contudo, o Ministério Público da Bahia ainda pode dar sequência ao processo de falsidade ideológica contra o noivo da atriz.

Outras questões, como o fracasso de um negócio de e-commerce, o Blue Group, criado pelos herdeiros e que teria gerado uma dívida de R$ 61 milhões na conta da Marabraz, também teriam sido citados na ação de Nasser e Jamel contra os filhos, de acordo com o jornal Metrópoles.

Porém, em meio ao processo, Najla decidiu expor os abusos que alega ter sofrido do pai, Nasser, alegando que os conflitos na relação com o pai foram a verdadeira motivação do gestor para tentar reaver as cotas da LP.