31/08/2021 - 13:06
A nota em defesa da democracia que selou o divórcio da Febraban com o governo Bolsonaro mostrou a dimensão dos estragos provocados pelo ministro da Economia na gestão federal. À boca pequena, Guedes diz que sua desastrada reforma do Imposto de Renda causou animosidades no setor. Tem razão. Além de ser mal formulada, oportunista e nociva para o conjunto da economia, a proposta conseguiu derrubar um dos pilares de sustentação política do governo: o apoio dos empresários.
O mercado apostou até recentemente que o discurso “liberal” de Guedes iria garantir uma atitude de responsabilidade fiscal e defesa dos investimentos. Tudo foi por água abaixo. Qualquer ambição reformista foi abandonada em nome do populismo eleitoral mais desbragado. O governo quer furar o teto de gastos à sorrelfa e desmontar o arcabouço de responsabilidade fiscal que foi duramente construído na redemocratização. As provas mais gritantes são o abandono da “regra de ouro” (que impede o governo de fazer dívidas para gastos correntes) e a criação do escandaloso orçamento paralelo.
Os empresários não contam mais com Bolsonaro para os seus negócios. Ao contrário, agora se movimentam para diminuir os estragos na economia e salvar a própria normalidade democrática, base fundamental para o crescimento. Fazem isso porque o Brasil virou um pária internacional, afasta investidores e vê até o renascimento da inflação, que havia sido vencida nos anos 1990.
O episódio Febraban também escancara outro pilar “liberal” implodido por Bolsonaro. Mostrou que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal viraram repartições políticas a serviço do governo. O presidente da CEF ameaçou diretamente os bancos privados de perderem negócios se mantivessem a defesa da democracia. Ou seja, ao invés de uma economia de primeiro mundo, Guedes transformou o Brasil em uma república de bananas. Pelo menos esse serviço ele presta ao País: ajuda a enterrar na prática um projeto autoritário de poder, que usou um discurso modernizante como fachada para implantar uma política personalista, delirante e ditatorial.