ROMA, 18 SET (ANSA) – O caso do desaparecimento da jovem Emanuela Orlandi, uma adolescente com cidadania vaticana que sumiu há 34 anos, voltou à ganhar as páginas dos jornais italianos durante esse fim de semana.   

Isso porque, duas das maiores publicações, o “La Repubblica” e “Corriere della Sera”, publicaram dados sobre um suposto “dossiê” de gastos com Orlandi, que teria sido “afastada domiciliarmente” pela Santa Sé.   

O jornalista Emiliano Fittipaldi, famoso por revelar documentos secretos do Vaticano, assinou uma matéria em que afirma ter encontrado um texto da Santa Sé na pesquisa que fez para seu próximo livro “Gli Impostori” (“Os impostores”, em tradução livre), que deve sair nos próximos dias.   

“O documento-choque é uma junção de todas as notas de despesas para um suposto ‘afastamento domiciliar’ de Emanuela Orlandi.   

Lendo o documento e seguindo as pistas das saídas das notas, que o documento atribui ao cardeal Lorenzo Antonetti, parece que o Vaticano teria encontrado a menina raptada sabe-se lá por quem, e que decidiu ‘transferi-la’ para a Inglaterra, em Londres, em abrigos femininos”, escreveu Fittipaldi.   

Segundo ainda as informações do italiano, “por 14 anos, eles teriam pago ‘rede, vida e alojamento’, ‘despesas médicas’, ‘deslocamentos'”. “Ao menos, até 1997, quando a última voz fala de uma última transferência para o Vaticano e a ‘desobrigação das práticas finais'”.   

No entanto, o próprio Fittipaldi levanta dúvidas sobre o documento e ressalta que “das duas uma, ou o documento é verdadeiro e abre traços clamorosos e impensáveis sobre o caso Orlandi. Ou é um falso, um apócrifo que sinaliza uma nova violenta guerra de poder entre os muros sacros. Mas, quem poderia ter feito um dossiê assim?”.   

Já o “Corriere” destaca que esse dossiê aponta gastos entre os anos de 1983 e 1997, que equivaleriam cerca de “483 milhões de libras” nas despesas.   

Ao se pronunciar sobre o documento, a Secretária de Estado do Vaticano e o porta-voz da Santa Sé, Greg Burke, definiram os documentos como “totalmente falsos e privados de qualquer fundamentação”.   

“Para o lançamento de um livro que sairá em breve, dois jornais italianos publicaram um suposto documento da Santa Sé que atestaria o pagamento de grandes somas, por parte do Vaticano, para gerir a permanência fora da Itália de Emanuela Orlandi, desaparecida em Roma em 22 de junho de 1983. A Secretaria de Estado desmente com firmeza a autenticidade do documento e declara tudo falso e sem fundamento”, escreveu em nota.   

A entidade ainda critica que as matérias, “além de lesar a honra da Santa Sé, reacende a dor imensa da família Orlandi, à qual a Secretaria de Estado sustenta sua solidariedade”.   

“A favor” da Igreja Católica, alguns analistas apontam falhas muito grosseiras nos documentos – além dos erros de grafia.   

Considerando a centenária burocracia católica, os documentos não tem nenhum tipo de assinatura ou protocolo, o que seria algo incomum em uma comunicação entre altos membros do clero.   

Há ainda citações estranhas ao linguajar da Igreja Católica, como a escrita “sua Excelência Reverenciada”, não usada pelo Vaticano, além de uma conclusão com a escrita “com fé”, mais usada em níveis menores da Igreja e não por cardeais.   

Além disso, o nome de um dos religiosos que estaria na comunicação entre os cardeais não está escrito corretamente – ao invés de Jean Louis, estava Jean Luis. Outro ponto criticado é que as cartas começam a ser assinadas em janeiro de 1983, quando Orlandi desapareceu em junho de 1983.   

No entanto, o caso do desaparecimento continua um dos maiores mistérios da história da Itália. Orlandi desapareceu no dia 22 de junho de 1983, misteriosamente. Ela era filha de um funcionário da Prefeitura da Casa Pontifícia e residia dentro dos muros do Vaticano. Até hoje o caso permanece sem solução.   

(ANSA)