Caso Carolina Dieckmann: as consequências dos padrões e da pressão estética

O psicólogo Alexander Bez faz uma análise sobre os padrões de beleza e a pressão estética que ainda é imposta pela sociedade

Globo/Marcos Serra Lima
Carolina Dieckmann será Leila em "Vale Tudo" Foto: Globo/Marcos Serra Lima

A atriz Carolina Dieckmann, de 46 anos, que está interpretando a personagem Leila no remake da novela ‘Vale Tudo’, da TV Globo, revelou, em entrevista ao programa ‘Conversa Vai, Conversa Vem’, do jornal O Globo, que perdeu um papel por não se encaixar em um estereótipo. Segundo a famosa, ela havia sido cotada para interpretar uma cozinheira de comunidade, mas foi descartada pelo autor da trama.

Ao veículo, Dieckmann disse que ser bonita lhe abriu portas no começo da carreira, mas ressaltou que a beleza também lhe tirou oportunidades.

“Já perdi papéis. Tem uma história ótima de um teste que eu ia fazer para uma personagem que seria uma cozinheira da comunidade, mas o autor falou: ‘Não, não tem cara de cozinheira’”, contou.

“Eu pintei o cabelo de castanho, coloquei uma lente, botei um aplique, tentei me encaixar em outro estereótipo para fazer aquele, mas ele falou ‘não’. Por que não tenho cara de cozinheira de comunidade? Por que não pode haver uma pessoa como eu na comunidade? Então, sim, já me fechou portas ser ‘bonita demais’”, completou.

Carolina Dieckmann também contou que perdeu outra personagem por ser “muito colorida”: “Recentemente, teve outro papel, que não posso revelar, mas era isso… [Falaram]: ‘Você é colorida demais, a gente quer uma pessoa menos colorida’. Falei: ‘Não tem nada que a gente possa fazer?’ Disseram: ‘Não, porque aí complica, você é muito colorida’”.

As consequências dos padrões e da pressão estética

Procurado pela reportagem de IstoÉ Gente, o psicólogo Alexander Bez faz uma análise sobre os padrões de beleza e a pressão estética que ainda é imposta pela sociedade. Leia abaixo na íntegra!

“É muito importante, antes de tudo, criar uma harmonia entre a aparência física e o estado mental interno. Essa é a primeira dica, ou até mesmo a primeira regra, para qualquer mulher. Os homens, em geral, não se importam tanto com isso. São poucos os que se preocupam, e os que o fazem costumam ter uma sensibilidade emocional mais aguçada. Mas esse não é o foco da nossa conversa. A verdade é que as mulheres tendem a se importar mais com essa conexão entre imagem e mente.

O fato de você ter nascido em uma comunidade não significa que precise seguir um determinado padrão estético ou ter uma aparência específica. Uma pessoa pode ter diferentes características físicas, relacionadas à ancestralidade, e ainda assim ter nascido em uma comunidade. Viver em uma comunidade está mais relacionado às oportunidades socioeconômicas do que à estética.

É claro que algumas pessoas enfrentam mais dificuldades para estabilizar a vida financeira do que outras — isso é um fato —, mas não é uma regra absoluta. O importante é reconhecer que existem muitas realidades diferentes. Por exemplo, afirmar que não existem pessoas loiras, de olhos claros, vivendo em comunidades é um grande equívoco. Há muitas, mesmo que em menor número. Então, a ideia de associar um tipo físico à condição social é incorreta.

Mesmo em países como a Noruega ou a Dinamarca, há pessoas loiras, de olhos claros, em situações de vulnerabilidade econômica. Ter consciência disso é essencial.

Independentemente do padrão estético, o mais importante é que a mulher se sinta bem consigo mesma, dentro das suas possibilidades, sem a necessidade de transformar demasiadamente sua aparência. Essa valorização começa de dentro para fora, e não o contrário.

Se a mulher não estiver em sintonia com sua própria imagem e com sua saúde emocional, não importa se ela é do tipo A, B, C ou D, isso pode gerar sentimentos negativos, como baixa autoestima ou insegurança. É fundamental entender isso.

Morar em uma comunidade muitas vezes está relacionado à falta de recursos financeiros, e isso deve ser compreendido sem julgamentos. O ideal é buscar formas de evoluir economicamente, de conquistar uma vida melhor. Essa é uma dica importante para quem quer crescer, independentemente da estética.

Naturalmente, fatores estéticos influenciam, sim. Por isso, é tão necessário que a mulher esteja fortalecida emocionalmente, que se sinta completa consigo mesma, sem culpa ou vergonha por características físicas que possui. Esse é um princípio essencial.

E isso se constrói como? Através do fortalecimento emocional, de uma autoestima equilibrada e de uma autoimagem bem definida.

Não existem padrões estéticos melhores ou piores. O que importa é a mulher se sentir bem consigo mesma, dentro das suas condições, com aquilo que pode oferecer a si própria. A partir do momento em que ela passa a se olhar com amor e respeito, sem se prender ao olhar externo, ela alcança um bem-estar verdadeiro em relação à sua aparência.

Como mencionei anteriormente, sem autoestima, sem autoconfiança e sem uma autoimagem definida, é muito difícil lidar com essas questões.

O preconceito vai existir em relação a qualquer padrão estético. Por isso, é fundamental saber como se proteger emocionalmente. E como se faz isso? Criando uma blindagem contra as influências externas, fortalecendo o emocional. Quando isso acontece, fica muito mais fácil lidar com críticas e afastar sentimentos de culpa ou inadequação.

Outro ponto importante é entender que não é possível estar bonita ou bem todos os dias. Existem dias ruins. Isso acontece por diversos motivos: uma noite maldormida, um problema pessoal ou até questões inconscientes. E está tudo bem. Aprender a lidar com esses dias é fundamental. Ninguém precisa estar perfeita o tempo inteiro, nem para os outros, nem para si mesma.

Nesses dias, qualquer pressão externa pode ampliar sensações como culpa, ineficiência ou imperfeição, o que pode desencadear crises de ansiedade ou até sintomas depressivos.

Ser bonita demais não é um problema. O problema está em você não se reconhecer como bonita. Esse é outro ponto fundamental da autoestima e da construção da autoimagem feminina.

Uma mulher bonita não precisa ser rica nem morar em um bairro nobre. Isso é um mito. Existem muitas mulheres lindas nas comunidades — sejam loiras, morenas, negras —, isso não importa. Esse também é um princípio importante: a beleza está presente em todos os lugares e em todos os corpos.

O ideal é que cada mulher compreenda suas necessidades e identifique aquilo que deseja mudar, mas sempre para si mesma, e não para agradar aos outros. Mudar a aparência para corresponder à expectativa externa é um erro. É preciso se cuidar por amor-próprio, não por aprovação externa.

A autoestima, a força emocional e o equilíbrio psicológico precisam ser nutridos continuamente. E isso se faz com autocompaixão, autorrespeito e autovalorização. Só assim conseguimos afastar qualquer sentimento de culpa ou negatividade por nos sentirmos ou parecermos “bonitas demais”.

Referências Bibliográficas

Alexander Bez – Psicólogo; Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM); Especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA); Especialista em Saúde Mental. Atua na profissão há mais de 27 anos.

É também autor dos livros: Inveja – O Inimigo Oculto; O Que Era Doce Virou Amargo!!! (Volumes 1, 2 e 3); A Magia da Beleza Feminina; A Paixão e Seus Encantos; e What You Don't Know About COVID-19: The Mortal Virus.