08/01/2024 - 14:31
O terremoto ocorrido no Ano Novo derrubou construções de madeira em toda a península japonesa de Noto, mas uma pequena vila de pescadores se manteve de pé graças a sua arquitetura tradicional.
Algumas telhas se soltaram, mas nenhuma das 100 estruturas de Akasaki, na costa oeste da península, colapsou devido ao terremoto de magnitude 7,5, cujo epicentro foi a poucos quilômetros de distância.
Depois do tremor, Masaki Sato dirigiu a noite toda de sua casa a 300 quilômetros, em Tóquio, para verificar a casa de 85 anos que ele tem desde 2017 e que funciona como uma pousada de verão.
“A casa fica sobre um terreno muito estreito e o imóvel tem muitos quartos pequenos, com muitas colunas” que o fortalecem, explicou à AFP o homem de 43 anos.
Para aguentar a forte chuva, neve e ventos do mar do Japão, a casa de Sato e a maioria das outras de Akasaki possuem poucas janelas de vidro.
Seus muros externos são feitos de sólidas lâminas de madeira posicionadas horizontalmente. A estrutura é sustentada por vigas grossas que cruzam o teto.
O terremoto e suas várias réplicas deixaram até o momento 165 mortos, 565 feridos e 323 desaparecidos, indicaram nesta segunda-feira (8) as autoridades.
Mas nesta comunidade não há registro de vítimas.
Nem as ondas do tsunami provocado pelo terremoto alcançaram as construções, feitas em terrenos ligeiramente elevados com relação aos diques de concreto e paredões que as protegem do mar.
Na casa de Sato, o chão estava cheio de cerâmica estilhaçada, havia eletrodomésticos caídos e uma porta de madeira quebrou. Mas foi só isso.
“Eu fiquei contente, porque a vila seguia lá de pé”, declarou. “Acredito que graças ao desenho das casas”, acrescentou, sentado sobre a empoeirada, mas ainda sólida bancada da cozinha de sua pousada.
O mesmo podia ser observado em todo o povoado, onde “o desenho das casas é mais ou menos o mesmo”, observou o pescador aposentado Seiya Shinagawa, morador do local.
“Tradicionalmente há um galpão na costa que protege do vento, com uma casa principal estreita atrás”, acrescentou o homem de 78 anos.
Esse arranjo remete aos dias em que os pescadores lançavam seus barcos ao mar diretamente dos galpões, contou Shinagawa.
A partir dos anos 1920, porém, os pescadores da comunidade optaram por uma pesca de mar profundo, mais lucrativa e longe de suas residências.
Mas quando um incêndio destruiu grande parte da vila no fim da década de 1930, as pessoas reconstruíram as casas com um projeto unificado e mais sólido.
Apesar de seu caráter resiliente, Akasaki enfrenta um problema comum no Japão: o envelhecimento de sua população.
A maioria dos habitantes da vila tem mais de 65 anos, incluindo Akiyo Wakasa, de 74 anos.
“Meu vizinho e o vizinho dele também moram sozinhos”, indicou a mulher. Segundo ela, parte do problema é que “consertar as casas custa dinheiro”.
“Não sei quantas pessoas aqui realmente pensam que valeria a pena consertar a casa e continuar morando aqui sendo que elas não têm ninguém para deixá-la”, explicou.
Para Sato, funcionário de uma empresa de tecnologia e dono de um negócio de renovação de imóveis, é insuportável ver a lenta deterioração de Akasaki.
A área não é reconhecida pelo governo como um bem cultural, mas é um lugar onde as pessoas vivem uma vida simples e tradicional.
E quando não há ninguém morando em uma casa, ela é demolida, erodindo o encanto do povoado, diz Sato.
“Akasaki, que preservou um desenho de casa único e uniforme, está perdendo seu aspecto pitoresco.”
Para resgatar o visual especial da vila, Sato comprou cinco casas e galpões, e pensa em abrir lá cafés e restaurantes.
“Esta vila é preciosa demais para se perder”, afirmou.
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