Rio – Se as cerimônias de casamento tornam os sonhos realidade, o descumprimento de contratos pode transformar a data especial em pesadelo. E, mais uma vez, dezenas de casais voltaram a ser alvos de golpes na hora da contratação de serviços. Laís Souto e Mário Santos foram umas dessas vítimas. No final de 2017, o casal contratou os serviços da empresa Recreio Festas e Eventos, representada por Elisângela Maciel e sua filha, Thaís Maciel. Laís e Mário deram R$ 8.500 de sinal para a contratação de espaço, buffet e cerimonialista. Mas, logo depois, no começo de 2018, o casal descobriu que tinha sido enganado. “Nós descobrimos que o sítio onde ia ser o casamento estava com a nossa data disponível. Sendo que, meses antes, a Elisângela pediu a entrada justamente para reservar a datas”, conta Laís. Pelo menos 20 casais alegam ter sido enganados pela dupla. A Polícia Civil investiga o crime de estelionato.

Na mesma hora, eu liguei para ela. Ela disse que era algum mal entendido e que foi falta de ética do sítio me passar essa informação, porque eu era a noiva e pagava a ela para resolver os problemas”, explica Laís, que decidiu ficar mais atenta e acompanhar diretamente com o sítio se o pagamento seria feito. Nesse meio tempo, Laís e Mauro descobriram que não eram as únicas vítimas da Recreio Festas e Evento.

“Recebi a ligação de uma amiga, que me disse que uma conhecida dela tinha passado pelo mesmo problema com essa empresa e que várias outras noivas estavam passando pela mesma situação”, revela Laís.Aconselhada por um advogado, a cliente decidiu fazer um distrato, mas nunca recebeu o valor pago de volta. “Daí em diante começou nossa novela. Ela dizia que ia pagar o valor em parcelas mensais e todo mês era uma desculpa diferente”, lamenta a noiva, que teve que procurar outros serviços e refazer os planos para conseguir casar ainda naquele ano.

Prejuízos chegariam a R$ 300 mil

Laís e Mauro foram incluídos em um grupo de WhatsApp onde cerca de 20 outros casais relataram problemas similares.Somados os casos, os noivos acreditam que, entre 2017 e 2018, R$ 300 mil podem ter sido perdidos. Rosimeria Rubim e Fabrício Peres também dizem que tiveram seus sonhos interrompidos pela Recreio Festas e Eventos. “Em maio de 2017, fechei contrato com a Elisângela e dei R$ 5 mil de entrada em depósito feito na conta da filha dela e mais dez cheques pré-datados. Em junho, descobri que ela negociou meus cheques com outras pessoas e eles começaram a bater na minha conta antes da data prevista, usando meu cheque especial e batendo até mesmo sem fundo”, revela a noiva, que não conseguiu resolver o problema com a prestadora de serviço e decidiu sustar os cheques restantes.

De acordo com Rosimeria, Elisângela tentou se defender. “Ela disse que, porque eu sustei os cheques, que eu que não queria fazer mais o casamento com ela. Aí ela falou que não ia me devolver o dinheiro pago e que eu procurasse a Justiça. Nesse dia, entrei com uma ação cível contra ela e a filha”, contou a noiva que, apesar do processo, não está muito confiante de que será ressarcida. “Eu quero que ela vá presa, porque dinheiro eu não vou ver. Ela sendo presa, não vai poder enganar outros casais”, explica Rosimeria, que acredita que Elisângela ainda esteja trabalhando com festas.

Outros problemas

No site Reclame Aqui, que qualifica empresas e prestadores de serviços, outros 16 casos foram expostos. Em alguns deles, a empresa até chegou a realizar casamentos, mas deixou de fornecer alguns itens, como bebidas. Os golpes não se restringiram aos noivos. Na mesma plataforma, Guilherme Menin Quelotti, dono de uma distribuidora de bebidas, tambémrelata ter sido prejudicado por mãe e filha. “A Elisângela comprou aqui na empresa e não pagou. Depois de algum tempo, a filha me ligou sem se identificar, falou que era noiva e fez um pedido. Nunca entrego sem sinal, mas ela estava atuando com se estivesse apavorada. Entreguei e me dei mal. Depois, elas zombaram de mim falando que não pagariam”, conta o empresário.

Proprietárias se mudaram e não atendem mais ligações

Em busca de uma definição, os noivos voltaram à residência de Elisângela e Thaís no condomínio Barra Bonita, no Recreio, mas foram informados de que as duas haviam se mudado. De acordo com a 42ª DP (Recreio), onde diversos boletins de ocorrência foram registrados, o caso foi registrado como estelionato e as investigações seguem em andamento para apuração e solução do caso. Mas, para os noivos, o processo parece parado. “Ninguém tem o novo endereço dela, então não consegue ser notificada e o juiz arquiva o caso”, lamenta Laís Souto. As vítimas temem que outras pessoas continuem sendo enganadas.

Procurada pelo DIA, Elisângela não atendeu nenhum telefonema. Já sua filha, Thaís, desligou assim que a equipe de reportagem se identificou.