Uma importante integrante da comitiva real britânica pediu afastamento nesta quarta-feira (30), após ter feito “comentários inaceitáveis” sobre as origens de uma ativista negra durante uma recepção no Palácio de Buckingham, mergulhando a casa real em um novo caso de racismo.

Embora a instituição tenha sido cobrada várias vezes nos últimos anos por questões de diversidade, ou racismo, este é o primeiro episódio que abala a monarquia desde a chegada ao trono, em setembro, do rei Charles III, de 74 anos, após a morte de sua mãe, Elizabeth II.

O caso coincidiu com o início da primeira viagem de William, de 40 anos, como príncipe-herdeiro aos Estados Unidos, onde seu irmão, Harry, mora desde 2020 com a esposa, a ex-atriz Meghan Markle, que é mestiça. O casal deixou o Reino Unido e a família real britânica alegando, entre outras coisas, ter sido alvo de comentários racistas.

“Fiquei muito decepcionado com o ocorrido com a convidada ao Palácio de Buckingham ontem à noite”, disse a jornalistas um porta-voz de William e de sua esposa, Catherine, em Boston, onde o príncipe entregará na sexta-feira (2) seu prêmio “Earthshot” a projetos ecológicos inovadores.

“Obviamente, não estava lá, mas acho que é importante, para mim, esclarecer que o racismo não tem cabimento na nossa sociedade”, acrescentou.

Em 2021, William reagiu com irritação ao afirmar que sua família não era “racista em absoluto”, quando Harry e Meghan confidenciaram em entrevista à estrela da TV americana Oprah Winfrey que um dos membros da realeza demonstrou preocupação com a cor da pele que seus filhos teriam.

Nesta quarta, Ngozi Fulani, diretora da organização de defesa das vítimas de violência de gênero Sistah Space, relatou que uma pessoa da comitiva real havia lhe perguntado insistentemente sobre suas origens, durante uma recepção oferecida na véspera pela rainha consorte, Camilla, no Palácio de Buckingham.

Fulani expressou no Twitter seus “sentimentos contraditórios” sobre a visita, relatando que, dez minutos após chegar, uma mulher mexeu em seu cabelo para ver a identificação que levava presa ao peito, perguntando-lhe de onde era.

Após responder que havia nascido e crescido no Reino Unido, a mulher insistiu: “Não, mas de onde vem na África?”, “Não, mas de onde é realmente, de onde é seu povo?”, “Quando vieram pela primeira vez?”.

– Dama de companhia de Elizabeth II –

Fulani disse que não soube o que fazer. “Não podia dizer isso à rainha consorte”, e ela e e suas duas acompanhantes ficaram “atordoadas e sem palavras”.

A ativista se referiu à mulher como “Lady SH”, mas veículos de imprensa britânicos identificaram-na como Susan Hussey, de 83 anos.

Madrinha de William, Hussey foi, durante décadas, dama de companhia de Elizabeth II e uma de suas auxiliares de maior confiança. Hussey acompanhou a monarca no veículo que a levou ao funeral de seu marido, em abril de 2021.

Camilla suprimiu a figura das damas de companhia, mas Hussey foi mantida como membro da comitiva.

Viúva de um ex-presidente da BBC, seu personagem aparece, inclusive, em um episódio da última temporada da série “The Crown”, relativo à entrevista explosiva que a princesa Diana, mãe de William e Harry, deu à TV britânica em 1995, revelando as infidelidades em seu casamento com Charles.

O palácio real disse levar “extremamente a sério” o incidente de terça-feira.

“Foram feitos comentários inaceitáveis e realmente lamentáveis”, admitiu em nota, acrescentando que “a pessoa em questão deseja expressar suas mais profundas desculpas e deixou sua função honorária com efeito imediato”.

Em entrevista à rede britânica Channel 4 na terça-feira, o chefe da divisão antiterrorista da polícia britânica, Neil Basu, afirmou que Meghan Markle sofreu ameaças de morte “repugnantes” de ultradireitistas no Reino Unido, enquanto foi membro ativo da família real britânica.

Harry criticou publicamente a cobertura sobre Meghan, de 41 anos, por parte da imprensa sensacionalista britânica e condenou o “racismo descarado dos trolls nas redes sociais e os comentários dos artigos na web”.