O legado de Domingos Montagner, que morreu há três anos após um mergulho no Rio São Francisco, em Sergipe, não está apenas na dramaturgia. O ator, que também foi palhaço e professor, acreditava fortemente na transformação social e na formação de cidadãos por meio da educação associada à arte. E esse é o propósito da Casa Domingos Montagner, que busca financiamento coletivo para iniciar as atividades culturais no começo de 2020.

Lançado em setembro deste ano, o projeto foi idealizado pela produtora cultural Luciana Lima, viúva do ator e mãe dos três filhos do casal; Fernando Sampaio, que fundou com Montagner a companhia La Minima de circo-teatro; Francisco Montagner, irmão do artista, e Gustavo Wanderley, diretor social da Casa. Juntos, eles formam o Instituto DOM, associação sem fins lucrativos que visa disseminar a arte entre a população menos favorecida.

A proposta é revitalizar a casa onde Domingos Montagner nasceu e cresceu, no bairro do Tatuapé, para servir de centro cultural onde circo e teatro, paixões dele, terão destaque. Embora a previsão para inauguração seja em dezembro de 2020, a equipe quer iniciar as atividades em escolas públicas da região já no próximo semestre. Para isso, precisa atingir a primeira meta do financiamento coletivo: R$ 293 mil até o final do dia 15 de novembro. As doações podem ser feitas neste link.

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Até a publicação desta reportagem, 35% da meta tinha sido atingida. A dificuldade, segundo o diretor social da Casa Domingos Montagner, é as pessoas acharem que o espaço cultural já foi inaugurado. “Estamos longe de atingir a proposta, que é construir um equipamento cultural para a zona leste de São Paulo, justamente para descentralizar os equipamentos culturais que estão muito concentrados nas zonas oeste e central”, diz Gustavo Wanderley.

Com o dinheiro arrecadado nessa primeira etapa, o projeto vai oferecer educação por meio da arte em escolas públicas do Tatuapé. Sete instituições de ensino já foram pré-selecionadas, duas delas onde Montagner estudou: a Escola Estadual Visconde de Congonhas do Campo, na qual entrou aos seis anos e cursou até o fundamental, e a Escola Estadual Professor Ascendino Reis, em que completou o ensino médio.

“Nossa ação é democratizar o acesso à informação e educação por meio da arte, algo levado muito a sério por artistas e educadores, e dentro do ambiente público. Isso é necessário nesse momento em que a cultura e a educação estão à beira de um colapso”, afirma Wanderley.

A partir da pré-seleção das escolas, a equipe quer fazer uma parceria com a Secretaria de Educação do município e enviar uma carta-convite às instituições de ensino. Com foco nos estudantes a partir de 14 anos de idade, a ideia é implementar um projeto contínuo dentro desses espaços, uma extensão do que será a Casa Domingos Montagner. “A gente acredita no potencial das pessoas, a juventude está precisando só de oportunidade”, destaca o gestor cultural.

Casa Domingos Montagner

A casa onde o ator nasceu e cresceu está na Rua Tijuco Preto, 263, no Tatuapé, zona leste da capital paulista. O portão azul, hoje enferrujado, virou o símbolo do projeto. Wanderley conta que era desejo de Montagner tatuar essa porta de entrada, que foi tão significativa para ele. Infelizmente, não houve tempo para isso.

A residência passou por pequenas reformas para servir de escritório ao projeto, que está aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 10h às 14h. No site do Instituto DOM e do financiamento coletivo, há detalhes de como a casa ficará. Será um prédio de três andares destinado a uma exposição permante de Domingos Montagner, sala para educadores, laboratório de desenho de cena, sala de espetáculos e camarins. A equipe estima um orçamento de R$ 2,9 milhões para a construção de 400 metros quadrados de área.

“Nosso cuidado com o projeto arquitetônico é resguardar ao máximo possível e valorizar a memória do Domingos e da casa. O portão de entrada vai estar no futuro prédio, porque tem uma memória relevante não só no sentido da história dele [do ator], mas do casarão que tem quase cem anos”, explica Gustavo Wanderley.

Além dos serviços dentro da futura Casa e nas escolas, outra proposta é ocupar a rua onde o espaço cultural será erguido com atividades culturais e artísticas. Com isso, o programa “tem o propósito de criar oportunidades educativas para o desenvolvimento humano de jovens” por meio do circo e do teatro.