Autoridades da Casa Branca tentaram restringir o acesso à transcrição do telefonema entre Donald Trump e o presidente ucraniano no qual o americano solicitou a ajuda da Ucrânia para prejudicar um rival nas eleições presidenciais de 2020, segundo um documento com a denúncia da conversa apresentado nesta quinta-feira (26).

A publicação deste documento aumenta a pressão sobre o presidente americano, contra quem os democratas abriram na terça-feira um processo de impeachment, que poderia ter pesadas consequências faltando um pouco mais de um ano para as eleições presidenciais.

No Twitter, em letras maiúsculas, Donald Trump pediu aos republicanos que “lutem”. “O futuro do país está em jogo”, acrescentou o bilionário, que denuncia há dois dias “a pior caça às bruxas da história dos Estados Unidos”.

A Casa Branca, por sua vez, prometeu resistir à “histeria e falsas narrativas” dos democratas depois que foram divulgados os detalhes do relatório do denunciante.

“Nada mudou com a publicação deste relatório, que nada mais é que uma compilação de relatos de terceiros de eventos e recortes de imprensa improvisados”, disse a porta-voz de Trump, Stephanie Grisham.

“A Casa Branca continuará resistindo à histeria e falsas narrativas que os democratas e muitos dos principais meios de comunicação propagam”, completou em um comunicado.

Mas a líder democrata da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, acusou a Casa Branca de “encobrimento” por supostamente tentar esconder o registro do telefonema.

A crise foi provocada pelo telefonema, em 25 de julho, entre Trump e o presidente ucraniano Volodimir Zelenski, durante o qual o americano pediu ao seu colega de investigar o democrata Joe Biden, um dos favoritos nas eleições de 2020.

“Recebi informações de vários funcionários do governo americano de que o presidente dos Estados Unidos está usando o poder de seu cargo para solicitar a interferência de um país estrangeiro na eleição americana de 2020”, escreveu o denunciante, membro do serviço de inteligência e que não teve a identidade revelada, em seu relatório publicado pelo Congresso.

O denunciante afirmou ainda que funcionários da Casa Branca ficaram preocupados em relação à gravidade da conversa entre Trump e o presidente ucraniano Volodimir Zelenski, acrescentando que lhe disseram que provavelmente haviam “testemunhado como o presidente abusava de seu cargo para obter benefícios pessoais”.

“Nos dias seguintes à ligação, soube através de vários funcionários americanos que autoridades da Casa Branca agiram para ‘bloquear’ todos os arquivos vinculados” à ligação, disse o denunciante, de acordo com o documento.

“Esse conjunto de ações enfatizou que as autoridades da Casa Branca entenderam a seriedade do que aconteceu na chamada”, acrescentou o queixoso, que a descreveu como um assunto de “preocupação urgente”.

“Os funcionários da Casa Branca me disseram que foram ‘orientados’ pelos advogados da Casa Branca a eliminar a transcrição eletrônica do sistema de computador, já que essas transcrições são normalmente armazenadas para coordenação, conclusão e distribuição feitas por funcionários que trabalham diretamente com gabinete” presidencial, relatou o agente.

Na transcrição do telefonema revelada pela Casa Branca na quarta-feira, Trump pede repetidamente ao líder ucraniano para ajudá-lo com uma investigação sobre o pré-candidato democrata à presidência em 2020 Joe Biden e seu filho Hunter Biden.

Questionado nesta quinta-feira no Congresso, o diretor de Inteligência Nacional (DNI), Joseph Maguire, que havia bloqueado a divulgação deste relatório, disse que não conhecia a identidade do denunciante.

Para Mike Pompeo, secretário de Estado americano, “todas as ações diplomáticas americanas com a Ucrânia foram inteiramente apropriadas”.

Os democratas denunciaram uma tentativa da Casa Branca de abafar o caso. “O presidente traiu nosso país e tentou esconder o caso”, disse o deputado Mike Quigley.

No dia anterior, a publicação da conversa telefônica no centro do escândalo havia provocado o mesmo tipo de reação, Trump e Zelenski descrevem sua conversa como “inócua” e “normal”, enquanto os democratas consideraram “escandalosa”.