Carteira de crédito no conceito Brasil deve fechar 2017 no zero a zero, diz Itaú

O Itaú Unibanco espera que a sua carteira de crédito no conceito Brasil encerre o ano no zero a zero, conforme o diretor de Relações com Investidores do banco, Marcelo Kopel. “Ainda vemos redução na carteira de crédito, mas no segundo semestre deveremos ver a evolução da originação exceder o que temos contratado em amortização na carteira”, disse ele, em teleconferência com a imprensa, realizada nesta quarta-feira, 3
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A expectativa do Itaú é de que a carteira de crédito no conceito Brasil recue 2% neste ano e, na melhor das hipóteses, cresça até 2%. O banco mira, conforme reforçou Kopel, o centro do guidance para este ano.

De acordo com ele, os segmentos que devem ser os motores para que o crédito no Itaú atinja um ponto de inflexão são cartões e imobiliário, na pessoa física, e capital de giro, na pessoa jurídica. “Isso que vemos é mais de curto prazo, mas ao longo do tempo, devemos ver esse crescimento migrando para linhas de prazo maior”, explicou Kopel.

O executivo disse ainda que o banco já identificou alguma aceleração nas concessões de crédito no varejo, em médias empresas, com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 200 milhões, e em pequenas empresas.

Sobre a carteira de crédito na América Latina, Kopel afirmou que o comportamento reflete a desaceleração no nível de atividade da economia local, com impacto maior na Colômbia e no Chile. Ele vê, contudo, aceleração nos próximos trimestres, mas não de forma abrupta. “Até mesmo porque o ritmo de economia não permite”, acrescentou.

Ritmo da economia

O diretor de Relações com Investidores do Itaú Unibanco afirmou que a economia continua em ritmo semelhante ao do quarto trimestre do ano passado, embora a projeção para este ano melhor. “Vemos o ano de 2017 como de transição diante das premissas econômicas. Mas a economia está retomando e, com ela, as atividades dos bancos estão retomando também”, disse.

O Itaú espera que o PIB neste ano cresça 1,0% e 4,0% em 2018. Kopel citou ainda a queda dos juros e o comportamento da atividade do País, que têm permitido o Banco Central reduzir os juros básicos, a Selic. O banco projeta que a taxa encerre o ano em 8,25% e permaneça neste patamar em 2018. Para a inflação medida pelo IPCA, o Itaú tem previsão de 3,9% e 3,8%, respectivamente.

O Itaú Unibanco anunciou nesta quarta lucro líquido recorrente de R$ 6,176 bilhões de janeiro a março, cifra 18% maior que a registrada um ano antes, de R$ 5,162 bilhões. A carteira de crédito total da instituição foi a R$ 586,998 bilhões ao final de março, redução de 1,9% em relação a dezembro e de 7,9% em um ano.

Adquirência

O diretor do Itaú Unibanco afirmou que o banco será mais competitivo no segmento de adquirência, no qual atua por meio da Rede (ex-Redecard). “Esperamos ver aceleração dos volumes em adquirência mais para a segunda metade do ano em meio à retomada da economia brasileira”, disse ele, em teleconferência com a imprensa, sem dar mais detalhes da estratégia do banco para ser mais competitivo neste segmento.

Kopel disse que o setor de adquirência é competitivo e vai continuar, mas que o comportamento está em linha com o que o banco já esperava.

O Itaú Unibanco capturou por meio da Rede, sua adquirente, R$ 93,804 bilhões no primeiro trimestre, cifra 0,98% maior que a registrada em um ano, de R$ 92,898 bilhões. Cresceu, assim, abaixo de seus concorrentes. A Cielo capturou R$ 144,641 bilhões, considerando o produto agro, volume 3,7% maior em um ano. Já o Santander Brasil, por meio de sua adquirente GetNet, levantou R$ 31,454 bilhões em transações com cartões no primeiro trimestre deste ano, cifra 38% superior ante um ano, de R$ 22,793 bilhões.

Agências

Sobre o fechamento líquido de agências, Kopel explicou que o movimento no trimestre faz parte da reviso permanente da rede física do banco. Foram, segundo ele, cerca de 100 agências em meio à concentração registrada no primeiro trimestre. “Esse número não deve ser anualizado”, destacou o executivo, acrescentando que o banco tem aberto agências digitais. No primeiro trimestre, foram nove unidades nesse formato e esse número deve continuar a crescer, de acordo com ele.

A instituição contava com 5.005 agências e postos de atendimento, considerando Brasil e exterior no primeiro trimestre, com diminuição de 98 unidades em relação ao trimestre anterior. Em um ano, o banco fechou 210 pontos.

Nível de descontos

O nível de descontos que o Itaú Unibanco concede em renegociações de crédito deve permanecer linear nos próximos trimestres, de acordo com Kopel. “Isso já está contemplado no nosso guidance para margem financeira, que reiteramos para 2017”, disse ele, acrescentando que todos os guidances para 2017 foram reiterados.

No balanço do primeiro trimestre, o Itaú, como já havia informado anteriormente, destacou os descontos concedidos decorrentes de negociações de créditos com impacto negativo sobre o saldo contábil remanescente. A linha totalizou R$ 293 milhões no primeiro trimestre de 2017, crescimento de 5,4% em relação ao trimestre anterior, principalmente por conta do segmento de atacado.

Kopel disse ainda que o efeito calendário teve um impacto de R$ 300 milhões na margem financeira com clientes, mas que é sazonal. Isso porque houve uma menor quantidade de dias corridos no período em relação ao trimestre anterior.

Citi

O diretor de Relações com Investidores do Itaú Unibanco afirmou também que a instituição não dará uma nova previsão sobre o prazo para obtenção do aval dos reguladores para a compra da operação de varejo do Citi no País. “Essa é uma questão que não está sob o nosso controle”, justificou.

A última vez que o então presidente executivo do Itaú, Roberto Setubal, comentou o assunto, ele disse que o Itaú esperava que o aval das autoridades saísse este mês. No entanto, o banco só protocolou o pedido no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no dia 17 de março, cinco meses após o anúncio do negócio.

Com isso, o órgão antitruste tem até meados de novembro para aprovar ou não a venda da operação de varejo do Citi no Brasil para o Itaú. Antes disso, a compra estava sendo pré-analisada. No Cade, o processo tem “acesso restrito”.

Inadimplência

O índice de inadimplência de grandes empresas do Itaú Unibanco pode ter mais volatilidade ao longo de 2017, de acordo com Kopel. “Isso porque depende, às vezes, de venda de ativos e renegociação de créditos”, explicou.

Neste contexto, o executivo disse que os atrasos vistos em grandes empresas no indicador de curto prazo, que considera 15 e 90 dias, podem migrar para o índice de longo prazo, que compreende calotes acima de 90 dias. Acrescentou, contudo, que não necessariamente as operações em questão podem ir para recuperação judicial e que o banco segue acompanhando esses casos para fazer o nível de provisionamento mais adequado.

“É evidente que a recuperação judicial é um componente importante no crédito, mas seguimos bem realistas ao que estamos observando. O fato de uma empresa entrar com pedido de recuperação judicial pode já estar contemplado nas nossas provisões”, esclareceu Kopel, reforçando que o banco atua de maneira preventiva e que essa análise é permanente e dinâmica.

No primeiro trimestre, a inadimplência de curto prazo das grandes empresas subiu para 2,0%, ante 0,7% ao final do trimestre anterior. De acordo com o banco, o aumento da inadimplência no período foi observado principalmente em alguns grupos econômicos do setor de infraestrutura.