Falaremos sobre Jair Bolsonaro e de suas atitudes diante da pandemia: portanto, nihil novi sub sole. Então, falar por quê? Por dever ético e moral, uma vez que só há esperança de sobrevivência humana quando parte da própria humanidade se mostra disposta a contar aquilo que acontece, conforme nos ensinou a pensadora política Hannah Arendt. Ainda que Bolsonaro cause fastio em leitoras e leitores, vamos às nossas responsabilidades.

Dos ignorantes que vivem nas trevas da cultura e das informações saudáveis e verdadeiras, desses precisamos ter compaixão. São pessoas, muitas vezes pobres, que não tiveram a menor oportunidade de estudar e que não possuem condições financeiras e sociais de acessarem fontes e dados corretos. É nossa obrigação esclarecê-los. Já dos perversos e maldosos devemos ter fastio. E, também aqui, valores éticos nos incumbem de tentarmos retirá-los do convívio com a sociedade em geral. É nessa categoria, naquela que nos enfastia, que reside o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. No início da vacinação contra a Covid, claro que ele manteve o seu desprezo em relação às vítimas do vírus, e fez piadinha: “se tomarem vacina e virarem jacaré, não digam que eu não avisei”. Agora, há poucos dias, ele turbinou a insanidade e afirmou em redes sociais que os imunizantes para a Covid levam as pessoas a contraírem Aids.

Bolsonaro recebeu instantânea punição das plataformas digitais, mas ainda é pouco. Em um ato inédito, Facebook, Instagram e YouTube derrubaram a live na qual o presidente disse a estultice. Parlamentares apresentaram notícia-crime ao STF, intelectuais, artistas e cientistas reagiram. Ainda assim, repitamos, é pouco. Bolsonaro traduz-se feito estelionatário da boa-fé alheia. É dono de um temperamento predatório, típico dos portadores de transtorno da personalidade antissocial.

Possui alta relevância a seguinte indagação: por que o Conselho Federal de Medicina não toma nenhuma providência concreta? Não é de sua competência punir “médicos” que apregoam informações clínicas erradas? Na verdade, diante do risco das falas do presidente à saúde pública, o CFM tem a obrigação moral de atuar em nome de médicas e médicos que assumiram e ainda assumem a linha de frente na luta contra a pandemia, trabalhando diuturnamente. O CFM tem a obrigação ética de atuar em nome de médicas e médicos que morreram porque, salvando a vida de outras pessoas, eles próprios adoeceram. Dessa vez, Bolsonaro zombou das pessoas que são portadoras de HIV e daquelas que se vacinam. O Brasil tem cerca de um milhão de soropositivos e mais de seiscentos mil mortos pela Covid. É hora do CFM demonstrar se os seus sinais vitais estão ou não preservados.