Dois carros-bomba dirigidos contra o serviço que controla as prisões explodiram em Quito na quarta-feira, atentados incomuns em um Equador cada vez mais violento onde quadrilhas do narcotráfico usam as prisões como centros operacionais.

Os atentados com carros-bomba e três ataques com granadas começaram na noite de quarta-feira em uma área comercial do norte de Quito e não deixaram vítimas. São uma nova demonstração do poder do crime organizado em um país que até pouco tempo atrás era um oásis de paz entre Colômbia e Peru, os dois maiores produtores mundiais de cocaína.

Foi “um dia nada fácil, com uma tarde e uma madrugada complexas e estranhas”, lamentou, nesta quinta-feira (31), o prefeito da capital equatoriana de três milhões de habitantes, Pabel Muñoz.

Os dois carros-bomba, um sedã e uma caminhonete, estavam carregados com botijões de gás, confirmou um fotógrafo da AFP. Um deles explodiu em frente à atual sede do órgão estatal que administra as prisões (SNAI) e o outro nas proximidades de um prédio que antes abrigava escritórios do SNAI.

O diretor de Investigação Antidrogas da polícia, Pablo Ramírez, disse aos repórteres que o sedã tinha “dois cilindros de gás com combustível, um fusível lento e aparentemente dinamite”.

Os bombeiros informaram que não há vítimas.

Em meio à sangrenta guerra entre quadrilhas, as prisões têm sido foco de vários massacres que deixaram mais de 430 presos mortos desde 2021.

Além disso, três granadas explodiram em Quito, informou o prefeito Pabel Muñoz na rede social X, antigo Twitter.

Seis pessoas, incluindo um cidadão colombiano, foram detidas a vários quilômetros do local de uma das explosões, segundo Ramírez. Elas têm antecedentes por extorsão, roubo, homicídio e estão supostamente ligadas ao ataque, acrescentou.

“Três delas foram presas há 15 dias por roubo de caminhão e sequestros para extorsão em diversos pontos da cidade e foram libertadas com medidas alternativas”, disse o chefe policial.

Até o meio-dia de quinta-feira, um grupo de adolescentes reclusos em um centro de detenção de Quito incendiou colchões. As chamas deixaram quatro feridos e fontes não oficiais falaram de uma tentativa de motim.

– Presos transferidos –

Embora os assassinatos, sequestros e extorsões se multipliquem no Equador, este tipo de ataque é raro na capital equatoriana.

Os dois veículos ficaram destruídos. Segundo a polícia, dois cidadãos em uma motocicleta “teriam jogado líquido inflamável” contra o sedã estacionado.

O SNAI transferiu prisioneiros para outras penitenciárias na quarta-feira para evitar confrontos entre quadrilhas de traficantes.

Ramírez sustentou que a mudança de presídio dos internos “possivelmente seria” o que motivou a explosão dos carros-bomba naquele local.

“Querem intimidar o Estado para nos impedir de continuar cumprindo o papel que as forças armadas e a polícia têm no controle desses centros penitenciários”, disse o ministro da Segurança, Wagner Bravo, à rádio FM Mundo.

Em janeiro de 2018, um carro-bomba explodiu em frente a um quartel policial em uma cidade equatoriana na fronteira com a Colômbia (norte), deixando 23 feridos.

A violência se intensifica em plena campanha para o segundo turno das eleições presidenciais no Equador, com votação marcada para 15 de outubro. Um dos favoritos no primeiro turno, o ex-jornalista Fernando Villavicencio, foi morto a tiros por assassinos colombianos em 9 de agosto, em Quito.

Os carros-bomba rementem ao terror provocado na Colômbia pelo chefão do narcotráfico Pablo Escobar, quando declarou guerra ao Estado para evitar sua extradição aos Estados Unidos na década de 1990.

– Guardas sequestrados –

Diante da guerra entre organizações que possuem vínculos com cartéis mexicanos e colombianos, Lasso decretou em 24 de julho estado de exceção por 60 dias para todo o sistema penitenciário do Equador, o que permite mobilizar os militares para controlar as prisões.

Horas antes dos atentados com carros-bomba, centenas de soldados e policiais participaram de uma operação para procurar armas, munições e explosivos em uma penitenciária na cidade andina de Latacunga (sul), que já foi cenário de disputas fatais entre os detentos.

Em protesto contra a intervenção, detentos de uma penitenciária da cidade de Cuenca (sul andino) tomaram vários carcereiros como reféns. “Os servidores sequestrados estão bem”, afirmou o SNAI, sem informar se eles foram liberados.

Bravo afirmou que os agentes penitenciários e os policiais continuavam retidos no presídio de Cuenca.

A cidade portuária de Guayaquil (sudoeste), a segunda maior do Equador, virou um reduto da violência dos grupos ligados ao narcotráfico, com carros-bomba, massacres em penitenciárias, cadáveres esquartejados e pendurados em pontes, sequestros e extorsões.

Grupos de narcotraficantes, que usam as prisões como centros de operações, também se enfrentam nas ruas. A taxa de homicídios no país atingiu o recorde de 26 para cada 100.000 habitantes em 2022, quase o dobro do ano anterior.

Desde 2021, o Equador apreendeu 530 toneladas de cocaína.

sp/lv/lbc/fp/aa/mvv/ic/am

X