19/09/2019 - 11:33
O Afeganistão foi cenário de novos ataques, pelo terceiro dia consecutivo, nesta quinta-feira (19): a explosão de um carro-bomba perto de um hospital deixou 20 mortos e um ataque de drones contra combatentes islamitas matou pelo menos nove civis.
“Como um terremoto”, afirmou uma testemunha do atentado de Qalat, sul do país.
O ataque teve como alvo a sede local do Serviço de Inteligência Afegão (NDS), informou o governador da província de Zabul, Rahmatullah Yarmal.
“O hospital regional que fica no mesmo terreno foi destruído”, completou o governador.
Este foi o quarto atentado em três dias no país, a menos de dez dias das eleições presidenciais. Os ataques desta semana deixaram quase 70 mortos e dezenas de feridos. Três deles foram reivindicados pelos talibãs.
Poucas horas depois, nove trabalhadores agrícolas morreram na província de Nangarhar (leste) por disparos de drones.
O ataque “estava supostamente direcionado contra combatentes do Daesh (acrônimo árabe do grupo Estado Islâmico), mas atingiu civis por engano”, admitiu o porta-voz da polícia da província, Mubariz Attal.
A AFP entrou em contato com o Ministério afegão da Defesa, mas nenhuma fonte aceitou comentar a informação. Todos alegaram que o caso está sendo investigado.
– Cenário de devastação
No Afeganistão, os ataques aéreos podem ser executados somente pelo Exército do país, ou por militares americanos.
O atentado de Qalat “provocou a morte de 20 pessoas e deixou 90 feridos”, afirmou o vice-governador da província de Zabul, Ahmad Tawab. “Foi um ataque com caminhão-bomba”, completou.
O atentado foi reivindicado pelo porta-voz dos talibãs Qari Yusuf Ahmadi. “Executamos um ataque mártir contra o NDS”, anunciou ele em uma mensagem, na qual afirma que o edifício foi completamente destruído.
Fotografias enviadas para a AFP mostram um cenário de grande devastação.
“Os talibãs demonstraram, de novo, que seu combate é contra o povo do Afeganistão e que não fazem mais do que matar as pessoas e destruir infraestruturas públicas”, reagiu o presidente afegão, Ashraf Ghani, em um comunicado.
O Afeganistão registra o aumento do número de atentados com a aproximação das eleições presidenciais, previstas para 28 de setembro.
Na terça-feira, 48 pessoas morreram em dois ataques suicidas: um, no centro do país durante um comício do presidente Ghani, que escapou ileso; e outro, em Cabul, contra um centro de recrutamento do Exército.
Na quarta-feira, quatro civis morreram e vários ficaram feridos em um atentado suicida e em um ataque contra um prédio oficial de Jalalabad (leste).
Na reivindicação do ataque contra o comício de Ghani, os talibãs disseram ter alertado a “população a não participar de comícios de eleições de fantoches”.
As eleições afegãs acontecerão depois que o presidente americano, Donald Trump, interrompeu em 7 de setembro as negociações com os talibãs para uma retirada progressiva das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão.
O governo afegão permaneceu à margem das negociações e considera as eleições um modo de retornar ao processo.
O Exército dos EUA está presente no Afeganistão desde 2001, quando expulsou os talibãs do poder. Hoje, quase 13 mil soldados americanos permanecem no país.
– EUA cortam ajuda ao Afeganistão
Na sequência dos ataques nesta quinta, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, acusou o governo afegão de leniência diante da corrupção e decidiu reter 160 milhões de dólares em ajuda para o país.
“Nos opomos aos que exploram suas posições de poder e de influência para privar o povo afegão dos benefícios da ajuda estrangeira e de um futuro mais próspero”, disse Pompeo, em um comunicado.
O chefe da diplomacia americana acrescentou que os Estados Unidos vão suspender a colaboração com um órgão do governo afegão encarregado do acompanhamento da corrupção, já que a entidade se mostrou “incapaz de atuar como sócio”.
Uma das dotações, de 100 milhões de dólares, estava destinada a um amplo projeto de energia para conectar um eixo no leste do país entre Ghazni, Kandahar, Kajaki e Kandahar. Segundo autoridades americanas, porém, o projeto poderá ser completado com mais recursos.
Pompeo disse ainda que vai reter 60 milhões de dólares em ajuda para a autoridade de compras do governo afegão.