Chefe da seção CardioEsporte do Instituto Dante Pazzanese e coordenador da Clínica Integrada de Medicina do Esporte HCor, em São Paulo, o cardiologista Nabil Ghorayeb alerta que ex-jogadores que, após a aposentadoria dos gramados, viram treinadores têm mais chance de sofrer com arritmia cardíaca. O último caso foi de Abel Braga, que passou mal durante jogo do Flamengo contra o Fluminense no Campeonato Carioca, na quarta-feira, no estádio do Maracanã.

“Essa arritmia se chama fibrilação atrial. Detectamos nos últimos cinco anos um aumento desses casos em técnicos ex-atletas. Estudos apontam que até 20% dos ex-atletas têm esse tipo fibrilação atrial. É muito comum em idosos acima de 75 anos, mas começou a aparecer em ex-atletas na faixa dos 55 anos que na juventude praticavam atividades físicas em alta intensidade. O coração cresce de tamanho acima da média e acaba formando pequenas cicatrizes”, explicou. São justamente os casos de Abel Braga, Renato Gaúcho, Muricy Ramalho, Cuca e Levir Culpi.

A FBTF (Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol) pretende lançar uma campanha alertando sobre a necessidade de os técnicos cuidarem mais da saúde. O presidente da entidade, Zé Mário, afirma que a ideia é conscientizar os treinadores de que eles precisam passar regularmente por exames médicos, sem depender da CBF ou dos clubes.

“Vamos pedir e colocar isso para os treinadores porque é uma coisa muito perigosa. Tem de estar atento. É muita pressão, muito nervosismo na hora do jogo”, disse Zé Mário. “O atleta, normalmente, faz exames médicos uma vez por ano. Um ex-atleta que vira treinador tem de manter esse costume. É uma coisa do próprio treinador, não adianta a CBF ou o clube exigir. Tem de partir do próprio treinador”, afirmou.

Como os treinadores de futebol têm um alto nível de estresse e muitos são sedentários e obesos, lembra Ghorayeb, isso favorece o aparecimento da fibrilação atrial. “Exercícios físicos intensos na juventude podem causar problemas, dependendo dos hábitos de vida do ex-atleta. Não é mortal, mas causa mal-estar. Se não for tratado, pode provocar até um derrame cerebral”.

Relembre casos de treinadores que tiveram problemas de saúde:

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CUCA – No dia 23 de setembro do ano passado, na derrota do Santos por 2 a 1 para o Cruzeiro, no Mineirão, Cuca sentiu dor e dormência. Levado ao hospital, o treinador foi submetido a exames e descobriu que quase enfartou. Cuca teve uma obstrução na artéria coronária e passou por uma cirurgia cardíaca. O treinador foi contratado pelo São Paulo esse ano, mas, como ainda se recupera da operação, foi liberado pelos médicos para assumir o time só na próxima semana.

RENATO GAÚCHO – O técnico do Grêmio foi submetido a uma cirurgia no coração em janeiro. O procedimento foi realizado para corrigir uma arritmia cardíaca. Segundo os médicos, não era algo que causava risco imediato de vida, mas poderia trazer problemas no futuro. Renato convivia com o problema havia quatro anos.

MURICY RAMALHO – Muricy Ramalho acumulou problemas de saúde nos últimos anos. Em 2009, quando também era técnico do São Paulo, após ter conquistado o tricampeonato brasileiro no ano anterior, foi internado com pedra nos rins. Dois anos depois, no final do mês de novembro, sofreu uma hérnia de disco quando trabalhava no Santos. Em abril de 2013, viveu a situação mais complicada: uma diverticulite, espécie de inflamação no intestino grosso. Ele se sentiu mal também em setembro de 2014, quando trabalhava no CT do São Paulo. Foi levado ao hospital. Por causa de uma arritmia cardíaca, ficou quatro dias internado. Em 2016, no Flamengo, o treinador foi diagnosticado com quadro de fibrilação atrial. O problema o fez desistir da carreira de treinador. Hoje é comentarista esportivo.

GUTO FERREIRA – O técnico sofreu uma arritmia cardíaca em 2014 e precisou ser internado. Passou mal depois de uma vitória da Ponte Preta sobre o Avaí, no estádio Moisés Lucarelli, na Série B do Campeonato Brasileiro. Guto sofria com estresse, apneia do sono e obesidade.

LEVIR CULPI – O treinador descobriu em 2014, durante exames de rotina, que tinha arritmia. Passou a tomar remédio para evitar agravamento do quadro.

RICARDO GOMES – Em 2011, durante um jogo entre Vasco e Flamengo, teve um AVC (acidente vascular cerebral) no banco de reservas. O treinador passou por quase três horas de cirurgia para estancar a hemorragia no cérebro – foram retirados 80ml de sangue – e reestabelecer a circulação. Ficou 21 dias internado.

BETO CAMPOS – O treinador que escreveu seu nome no futebol gaúcho ao vencer o Estadual com o Novo Hamburgo em 2017 morreu no ano passado em Santa Cruz do Sul, enquanto dormia. Segundo o filho do técnico, ele tinha pressão alta.


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