A discriminação racial no Brasil tem desafiado esforços e construções políticas, científicas e jurídicas que tem procurado responder de forma assertiva e efetiva no seu combate e na limitação de seus destrutivos efeitos. Nem o consenso da inexistência de raça, o esforço da democracia racial, a positivação da diversidade racial e nem o impedimento Constitucional da agressão racial tem conseguido amainar a voracidade dessa brutal intolerância ou a torpeza dos celerados racistas. As relações de consumo de forma desabrida tem sido território conflagrado, n o qual o embate entre negros, branquitude e racismo tem se traduzido em conflito, agressão, e até em eliminação física. Fruto contundente da negação à igualdade e valor da pessoa humana, esses fenômenos tem como fonte permanente a inflexibilidade das crenças, costumes e valores culturais, permeiam as estruturas e expelem seus gases tóxicos por toda atmosfera contaminando todo nosso ecossistema social com o veneno racial.

É nele que bebe o pensamento de parte dos operadores da cadeia de consumo. Dos compradores, dos fornecedores, dos colaboradores das empresas e corporações que operam, medeiam, regulam e fiscalizam suas práticas e ações. É ali, diante do olhar e do julgamento dos agentes na porta e interior dos shoppings, supermercados, restaurantes e espaços prestigiados e no elevador social que se manifestam as injustas e inconcebíveis transgressões e agressões que vilipendiam a dignidade humana do negro brasileiro. Ainda assim é possível enxergar um fio da esperança. Em uma adequação da máxima de Nelson Mandela (1918-2013), se esses profissionais aprenderam e treinaram o olhar para discriminar, podem também aprender e treinar o olhar para acolher e respeitar todos sem distinção de cor e raça.

Em alusão a Nelson Mandela, se os trabalhadores podem aprender discriminar, podem aprender acolher e respeitar a todos sem distinção de cor e raça

Todos podem e devem fazer esse exercício e as empresas e cadeias do consumo têm o dever de torná-lo realidade, tornando essa prática em virtude. A Empresa Carrefour de maneira dolorosa parece ter aprendido com eloquência essa lição. O assassinato do cidadão negro João Alberto de Freitas assassinado por funcionários e seguranças no interior de suas instalações é agora uma força e uma energia imperativa para tratar de forma correta e transformadora essa equação. “Não vamos esquecer, vamos transformar”, diz o slogan do seu noviço, potente e flamejante programa de combate ao racismo e empoderamento dos negros na sua organização. Não é pouco nem muito, mais um importante passo adiante. A sorte está lançada que venha a transformação.