A ondulação gigante em Mavericks, no litoral da Califórnia, nos Estados Unidos, na última semana, destruiu o barco do surfista brasileiro Carlos Burle e deixou os atletas que estavam no mar em situação delicada por alguns minutos. Apesar das imagens impressionantes da embarcação virando como se fosse de brinquedo, no final ninguém ficou ferido e o veterano contou detalhes deste dia de enormes ondas e muita adrenalina.

“A gente pegou um comandante, um capitão muito experiente, que já tinha feito umas viagens lá para fora, para o pico, com a gente e em outros projetos. Fomos no barco dele. Além de mim, estava o Lucas Chianca, o Chumbo, o Ben Andrews, que ganhou a maior onda na remada na temporada passada, e o nosso cinegrafista Paulo Henrique, além do capitão”, contou Carlos Burle ao jornal O Estado de S.Paulo.

O grupo foi para a Califórnia, nos Estados Unidos, por causa da ondulação muito rara em Mavericks. O surfista explica que não tinha visto condições parecidas com esta desde 2001, quando pegou uma onda gigante e bateu o recorde mundial. Os próprios atletas locais comentaram que aquelas eram condições muito difíceis de acontecer.

“Nós pulamos na água – eu, o Lucas e o Ben – e ficaram os dois no barco, pequeno, de 19 pés, super confortável, com um motor grande de 150 hps além de outro reserva. O cara é muito experiente, olhamos um para o outro e falamos que o mar estava muito grande, então tínhamos de ficar sempre em alerta e fazer tudo com segurança”, disse Carlos Burle.

Logo de cara, Lucas Chumbo pegou uma onda enorme. Tão grande que já é cotada para ser uma das maiores de todos os tempos na remada ou pelo menos a maior da temporada. Depois de uma hora no mar, o barco com o capitão e o cinegrafista foi atingido por uma onda enorme e virou.

“Quando olhei, o Lucas falou que o barco tinha capotado. Então fomos para o canal para ajudar porque não sabíamos se poderia ter alguém debaixo do barco. Chegamos lá e já tinham resgatado o pessoal, mas nós ficamos naquela posição onde tem o impacto das ondas. Veio uma série enorme, que varreu eu e o Ben. Depois de três ondas gigantes na cabeça, eu levantei e estava nas pedras”, revelou.

“O barco capotado bem perto de mim e eu pensando: ‘estou com 50 anos, que estou fazendo?’. É a reflexão que você faz da sua vida. É lógico que estava tranquilo porque não tinha mais nada a fazer, aparentemente o capitão e o cinegrafista estavam bem, então mantive a calma e consegui resgatar alguma coisa nossa que ainda estivesse no barco”, continuou o brasileiro.

Carlos Burle e Ben Andrews ficaram do lado do barco, depois das pedras, já dentro da baía, mas com muita correnteza e alguns jet skis tentando ajudar. O susto foi muito grande. “No final das contas, as perdas foram apenas materiais. Fisicamente ficou o trauma. No outro dia, tiramos o barco das pedras”, afirmou.

Surfistas de ondas grandes estão acostumados a passar por dificuldades. Carlos Burle participou do resgate de Maya Gabeira em Portugal, quando salvou a vida da amiga, e agora passou por um sufoco também. Mas prefere olhar para o lado bom deste trabalho que consiste em assumir riscos.

“Foi um dia memorável, incrível, pois vivi momentos que fico feliz de poder participar porque foi um fenômeno muito raro. E ver a performance do Lucas nessas condições, com apenas 22 anos de idade, foi bem bacana. Sabemos que estamos no mar, que é uma arena que a gente não tem controle, mas nos preparamos para isso”, concluiu.