Carla Zambelli ainda não tem data para ser extraditada ao Brasil; entenda

Deputada foi presa na terça-feira após quase dois meses foragida na Itália e ainda deve passar por processos internos antes de voltar ao Brasil

Deputada Carla Zambelli, foragida na Itália após ser incluída na lista de procurados da Interpol
Deputada Carla Zambelli, foragida na Itália após ser incluída na lista de procurados da Interpol Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ainda não tem data definida para retornar ao Brasil após ser presa na Itália na terça-feira, 29. De acordo com especialistas, o prazo para a extradição da parlamentar dependerá da vontade da Justiça italiana.

Zambelli deixou o Brasil no começo de junho, cerca de 20 dias após ser condenada a 10 anos de prisão pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), junto ao hacker Walter Delgatti Neto, para incluir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, a deputada pediu afastamento da Câmara dos Deputados e ficou duas semanas nos Estados Unidos antes de seguir para a Itália.

Ela teve o nome incluído na difusão vermelha da Interpol e estava sendo procurada desde então. A defesa da deputada afirma que ela já tinha avisado as autoridades italianas que iria se entregar.

Segundo Max Telesca, especialista em tribunais superiores, processo civil e direito penal, Brasil e a Itália possuem tratado de cooperação e extradição. A Constituição italiana estabelece em seu artigo 26 a extradição de cidadãos italianos quando prevista em convenções internacionais, exceto em casos de crimes políticos.

Entretanto, o prazo para que Carla Zambelli seja extraditada ainda é uma incógnita. As autoridades italianas ainda devem realizar procedimentos internos em contato com a Polícia Federal antes de definir uma data para o retorno da deputada ao Brasil.

“O prazo depende da Justiça italiana, não tem como estabelecer que ela será deportada para o Brasil em cinco ou 15 dias”, afirma o especialista.

Max citou como exemplo o caso do diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado pelo STF no caso do mensalão. Mesmo tendo dupla cidadania italiana, ele foi extraditado para o Brasil em 2015, onde cumpriu a pena de 12 anos e sete meses.

Além disso, as autoridades italianas devem analisar se houve cumprimento do devido processo legal e direito à ampla defesa. Somente após a finalização de todo esse trâmite que a deputada federal será extraditada.

Carla Zambelli condenada no STF

Zambelli é acusada de arquitetar a invasão ao sistema do CNJ para emitir um mandato falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Além da parlamentar, o hacker Walter Delgatti Netto também foi condenado a oito anos e três meses de prisão. Zambelli nega as acusações, enquanto Delgatti Neto acusa a deputada de contratar seus serviços para invadir o sistema.

No relatório, Moraes ainda determinou a perda do mandato de Zambelli na Câmara dos Deputados em caso de condenação a parlamentar. Em seu voto, o ministro afirmou que Zambelli “demonstrou pleno conhecimento da ilicitude de suas condutas, agindo de modo premeditado, organizado e consciente, na busca de atingir instituições basilares do Estado Democrático de Direito, em especial o Poder Judiciário”.

Alexandre de Moraes também estipulou que os dois réus paguem uma multa indenizatória a título de danos materiais e morais coletivos de R$ 2 milhões de reais, “a ser adimplido em favor do AP 2428 / DF 117 fundo a que alude o art. 13 da Lei 7.347/1985”.