No início do ano, o atacante Gabriel Barbosa tinha um valor de mercado da ordem de R$ 60 milhões. Hoje, ele vale cerca de R$ 106 milhões, quase o dobro. É o montante mais alto que ele já alcançou na carreira, de acordo com o Transfermarket, site especializado em transferências internacionais. A valorização não se deve apenas aos gols que marcou e aos títulos do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores que conquistou com o Flamengo. Entram nessa conta também seu carisma e poder de mobilização, simbolizados pelos cartazes que os torcedores levavam aos estádios com a frase “Hoje tem gol do Gabigol” e até os sósias com barbas pretas e cabelos descoloridos.

Especialistas apontam que a composição do valor de um jogador é formada por aspectos objetivos, como os títulos conquistados, o desempenho dentro de campo e a importância que o jogador tem para o time, mas também por fatores subjetivos, como a maneira como o atleta é visto pela torcida e a imprensa. Outros apontam que as redes sociais estão se transformando em aspecto importante na valorização deles.

Os fatores objetivos envolvem até estudos matemáticos. A consultoria internacional KPMG, por exemplo, desenvolveu uma metodologia baseada em algoritmos, uma espécie de receita matemática para resolver problemas. A empresa analisou as transações de jogadores nas últimas sete temporadas de futebol (de 2012/2013 a 2018/2019). A partir daí, definiu as principais variáveis que influenciam no valor do jogador.

Entre as principais estão a posição, idade, contrato, desempenho esportivo individual e sua importância para o time, ações disciplinares (faltas e número de cartões), desempenho com sua seleção, avaliação dos meios de comunicação sobre o jogador e seu potencial comercial, desempenho da equipe e competitividade da liga que disputa. As atualizações dos valores dos jogadores são divulgadas pela consultoria nos meses de janeiro, setembro e julho.

Na lista de fatores importantes, a idade tem grande peso, pois representa o potencial do atleta de gerar receita em futuras transferências. Curiosamente, o atacante Reiner, de 17 anos, é um dos atletas que mais se valorizou neste ano de ouro do Flamengo. Autor de dois gols na goleada sobre Avaí, na última quinta-feira, ele vale hoje R$ 116 milhões. No mês de agosto, seu valor era de R$ 23 milhões.

“Por questões técnicas, o clube consegue moldar o jovem de acordo com a sua cultura. Além disso, a equipe pode crescer com ele em posicionamento e na forma de atingir novos mercados”, avalia Pedro Daniel, diretor executivo da consultoria Ernst & Young. “Estamos em um mundo de geração de conteúdo. Os clubes valorizam os atletas que trazem esse ativo, que valorizam sua marca em conjunto. Ele é um embaixador da marca”, completa.

Na opinião de Fernando Trevisan, diretor da Trevisan Escola de Negócios, as redes sociais também se tornaram um componente importante. “As redes sociais permitem hoje que milhões de torcedores acompanhem a vida pessoal do jogador e façam continuamente os seus julgamentos. Assim, fatores como número de seguidores, nível de engajamento dos fãs e capacidade de comunicação digital são cada vez mais levados em conta para avaliar o poder mercadológico do atleta”.

SUBJETIVIDADE – Também existe espaço para a percepção que o mercado e a torcida têm de cada atleta. É um aspecto mais subjetivo. Darcio Genicolo Martins, professor do departamento de Economia da PUC-SP e pesquisador em Economia do Futebol, destaca esses outros elementos na definição do valor de um jogador. “Existe um componente subjetivo que não é irrelevante no mercado com relação à percepção de valor de um jogador”, diz o professor.

Aí entra, por exemplo, o caso do palmeirense Dudu, que também se valorizou em 2019. O atacante foi o único jogador poupado dos protestos da torcida por causa da temporada difícil do clube. O atual campeão brasileiro caiu em todas as competições que disputou, terminou o Brasileirão em grande desvantagem técnica para o Flamengo, mas o atacante é indicado “modelo” para o perfil de contratações no ano que vem. Na derrota para o Flamengo, por 3 a 1, por exemplo, ele foi chamado de “guerreiro” pela torcida no Allianz Parque. Além do bom desempenho técnico, ele “passa” uma imagem positiva. Entre 2018 e 2019, seu valor de mercado saltou de R$ 37 milhões para R$ 69 milhões.

A percepção – aquilo que o atleta “parece” – também vale para exemplos de desvalorização. Mesmo que o São Paulo tenha terminado o ano com a vaga na fase de grupos da Libertadores, o atacante Alexandre Pato não conseguiu surfar na onda de otimismo para 2020. O atacante não deslanchou nesta temporada e seu valor de mercado vem caindo nas últimas temporadas. Seus direitos econômicos, que estavam na casa de R$ 41 milhões no início do ano, caíram para R$ 27,8 milhões na reta final da temporada.

“Com um histórico grande de lesões e já tendo passado da idade em que se costuma alcançar o auge de um atleta de futebol, tudo indica que ele não terá o destaque como se imaginava no início da carreira”, diz Fernando Trevisan.