Cardeal banido pelo Papa reivindica direito de votar em conclave

VATICANO, 22 ABR (ANSA) – Enquanto no Vaticano e em todo o mundo católico permanece vivo o sentimento de luto pela morte do papa Francisco, cujo funeral será realizado no próximo sábado (26), o conclave que elegerá seu sucessor já é alvo da primeira polêmica.   

O cardeal italiano Angelo Becciu, em uma audiência ocorrida em 24 de setembro de 2020, foi privado por Francisco do cargo de prefeito da Congregação das Causas dos Santos e dos “direitos ligados ao cardinalato”, mantendo o título de cardeal, mas sem funções na Cúria Romana e sem o direito de participar de um futuro conclave.   

Mas agora Becciu contesta a penalidade e diz poder participar da eleição de um novo pontífice, após ter sido convidado para a congregação pré-conclave no Vaticano, assim como todos os outros cardeais.   

“Convidando-me ao último consistório [em 2022, embora outros tenham sido feitos em 2023 e 2024], o Papa reconheceu minhas prerrogativas cardinalícias intactas, pois não houve uma vontade explícita de me excluir do conclave nem uma solicitação de renúncia por escrito de minha parte”, declarou Becciu ao jornal italiano L’Unione Sarda.   

Caberá à congregação dos cardeais decidir sobre a reivindicação de Becciu, mas não será fácil controlar a vontade do cardeal, que continua defendendo sua inocência e o fato de ter sido “perdoado” pelo Papa com o convite ao consistório de 2022. Sua eventual presença no conclave, no entanto, poderia ser um elemento desestabilizador, com potencial de mobilizar as alas mais contrárias à linha de Bergoglio.   

Becciu, ex-substituto de Assuntos Gerais da Secretaria de Estado e ex-assessor próximo de Francisco, é o pivô do escândalo da compra pela Santa Sé de um imóvel de 200 milhões de euros em Londres, além de outras acusações relacionadas ao manejo de fundos da Santa Sé, que lhe custaram uma condenação em primeira instância a cinco anos e seis meses de prisão.   

O julgamento do recurso da defesa está marcado para o segundo semestre, porém o italiano é o mais alto prelado católico sentenciado por crimes financeiros no Vaticano.   

Com a participação de Becciu, o número de eleitores no conclave subiria de 135 para 136, e a Itália aumentaria seus cardeais na votação de 17 para 18, maior “bancada” entre todos os países. (ANSA).