Um evento organizado em abril para defender pautas conservadoras nunca aconteceu, mas arrecadou dinheiro para os custos de organização e, meses depois, gera disputa por reembolso de pagamentos. As informações são do UOL.

A Caravana da Liberdade tinha o objetivo de levar 3 mil apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a Brasília em maio. Os participantes ficariam acampados em frente ao Congresso por uma semana, mas nunca aconteceu.

De acordo com o UOL, a intenção era pressionar senadores para que fossem iniciados processo de impeachment dos ministros do STS (Supremo Tribunal Federal), para que votassem pelo desligamento imediato dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Jader Barbalho (MDB-PA) da CPI da Covid, e defender o retorno do voto impresso, além de prestar apoio a Bolsonaro.

A caravana foi divulgada amplamente pelas redes sociais e possuía três formas de pagamento voluntário para custear a organização: via PIX, um site de financiamento coletivo e depósito bancário, com valores que variavam entre R$ 350, R$ 450 e R$ 550, a depender da região do país de onde sairiam ônibus fretados.

Ainda segundo a reportagem, esses valores cobririam custos com o transporte, locação de banheiros químicos e para banho, tendas, compra de água mineral, café da manhã e almoço.

O evento não aconteceu em maio e foi remarcado para 16 de junho, mas também não aconteceu. Ao UOL, o advogado Walmir Lucio Ribeiro disse que a caravana não foi realizada porque os recursos obtidos não foram suficientes para sua realização.

“Nunca houve intenção de lesar ninguém. Inclusive era de conhecimento de todos os organizações que, em caso de cancelamento, os valores doados seriam devolvidos”, disse Lucio Ribeiro.

Em 12 de maio, Pablo Verdolaga e Marcello Neves, organizadores do evento e apresentados como empresários, participaram de uma live em um canal de direta no YouTube para divulgar a caravana.

No dia da partida da caravana, em 16 de junho, Pablo chegou a responder seguidores no Twitter dizendo que cerca de 30 ônibus haviam partido rumo a Brasília, mas ele teria se afastado das redes sociais logo depois.

Seguidores começaram a cobrá-lo de imagens da caravana e de um posicionamento. Neves, então, começou a desconfiar de que havia algo errado e começou a investigar, e descobriu, na verdade, que Pablo se chamava Fábio.

Em 23 de junho, em uma segunda live em outro canal de direita no YouTube, Neves revelou que os depósitos e os pagamentos via PIX eram feitos não em nome de Pablo Verdolaga, mas de um suposto amigo deste, chamado Fábio Oliveira Leite.

“Eu não sabia quem era. Eu tinha os dados dele, CPF, dados bancários desse Fábio, mas ele (Pablo) dizia que era um amigo dele. Ele dizia que por conta da movimentação financeira, por conta do Imposto de Renda, os depósitos e transferências seriam no nome desse suposto amigo dele, o Fábio”, disse Neves na live.

Diversas pessoas pessoas começaram a cobrar Fábio, que chegou a devolver o dinheiro para algumas delas, mas para centenas de outras, não. Uma nova live foi marcada para o dia 28 de junho, no mesmo canal da segunda, com a promessa de participação de Fábio, que estaria disposto a dar explicações, mas ele não apareceu.

O UOL conversou com advogados nomeados por Fábio Oliveira Leite para cuidar do caso após seus dados pessoais terem sido divulgados na internet, que explicaram que a meta estabelecida para a realização da caravana não foi alcançada, e que por isso o evento acabou cancelado.

Eles também explicaram que não havia qualquer dúvida em relação ao nome de Fábio de Oliveira Leite, que seu nome real era conhecido pelos outros organizadores do evento, e que ele apenas utilizava um avatar na internet com o nome Pablo Verdolaga.

Quanto ao ressarcimento dos valores arrecadados, foi explicado que, assim que alguns pagamentos foram sendo devolvidos, foram verificados que alguns comprovantes de transferência pareciam fraudados, e que por isso houve a necessidade de contratação de uma assessoria jurídica.

No entanto, para que recebam o dinheiro pago de volta, os lesados precisam assinar um termo em que renunciam ao direito de processar Fábio civilmente, exigindo-lhe perdas e danos.