Milhares de migrantes que entraram a pé no leste da Guatemala, em sua viagem de Honduras rumo aos Estados Unidos, foram bloqueados neste domingo (17) pela polícia, que lançou gás lacrimogêneo, e por militares que agrediram os que insistiam em avançar à força.

As forças de segurança cercaram os migrantes em uma estrada de Vado Hondo, no departamento de Chiquimula, fronteira com Honduras. Segundo dados da polícia, estavam lá pelo menos 6.000 das 9.000 pessoas estimadas que entraram na Guatemala.

As explosões ensurdecedoras dos disparos de gás e a fumaça fizeram com que milhaes deles voltassem para a estrada, enquanto outros buscavam refúgio nas montanhas. Em sua fuga, alguns deixaram sues pertences cair. Os que insistieram em quebrar o cerco foram agredidos.

Uma funcionária da Saúde da região, que não se identificou, detalhou que há vários feridos pelas agressões recebidas.

Ao contrário de sexta-feira, quando a polícia estava desarmada e não deteve a entrada da caravana pela fronteira de El Florido, desta vez um grupo portava armas de fogo.

– Não passarão –

“Aqui está o grosso da caravana” e “não os deixaremos passar”, disse à AFP um oficial da polícia.

Desde a noite de sábado, os migrantes estão bloqueados neste ponto estratégico, porque é difícil continuar o trajeto por outro lado devido à geografia do lugar.

Os hondurenhos alegam que tentam escapar da pobreza, da violência, do desemprego, da falta de educação e saúde – o que se agravou com a pandemia de covid-19 e a chegada de dois furacões em novembro.

A caravana também está animada com a esperança de uma possível flexibilização das políticas migratórias nos Estados Unidos, quando o presidente eleito Joe Biden tomar posse em 20 de janeiro.

Mas Washington já descartou essa possibilidade. “Não percam seu tempo e dinheiro e não arrisquem sua segurança e saúde. É uma viagem mortal”, disse o comissário interino do Escritório de Alfândega e Proteção Fronteiriça dos Estados Unidos (CBP), Mark A. Morgan.

O próprio Trump prolongou na sexta-feira a “emergência nacional” na fronteira com o México, imposta pela primeira vez em fevereiro de 2019 para desbloquear fundos e construir seu tão anunciado muro.

– Volta para casa –

“Não vão passar”, alertou no sábado o diretor-geral da Migração guatemalteca, Guillermo Díaz, que lamentou a exposição de crianças e idosos na marcha e pediu aos migrantes o retorno voluntário.

Segundo o último relatório da Migração, cerca de mil pessoas já voltaram para a fronteira, entre elas 163 crianças.

O governo da Guatemala recriminou Honduras pela “transgressão” de sua soberania nacional, e pediu para “conter a saída em massa de seus habitantes”.

Em outubro, a Guatemala devolveu uma caravana com 4.000 pessoas sob o argumento do risco de contágio de covid-19 e lembrando que o país promove uma migração legal.