(CONTINUAÇÃO…) ANSA: Você participou de muitos filmes com temas fortes e que estão de certa forma relacionados à história política e social da Itália. Te agrada esse tipo de cinema? Sansa: Sim, absolutamente. Foram projetos ligados também a grandes diretores. O fato de poder participar de um projeto cujo olhar possui uma capacidade de reflexão, de análise, isso me impulsiona de verdade, a oportunidade de fazer pensar, dar a oportunidade de o público refletir sobre esses episódios.   

ANSA: Você acredita que a realidade da Itália de hoje também possa gerar bons filmes e boas histórias? Sansa: Seguramente. Os artistas, quando há caos, períodos de crise, conseguem sempre transformar isso em um grande estímulo.   

Mas não é que eu torça para isso, os artistas sempre esperam que o mundo possa ser melhor para poder se concentrar em outras coisas.   

ANSA: O Festival de Cinema de Veneza deu o Leão de Ouro pela primeira vez a um filme do Netflix, “Roma”, de Alfonso Cuarón, o que suscitou não poucas polêmicas. Você acha que os serviços de streaming podem mudar a maneira de se fazer cinema? Sansa: Não. Se forem para produzir filmes de grandes artistas, que sejam bem-vindos. Passamos por uma fase verdadeiramente escura, na qual os produtores na Itália não faziam outra coisa que não fosse tentar criar dinheiro, em um certo sentido, começavam a perder a paixão pelo cinema, pelos atores, pelos artistas. Estava se tornando cada vez mais uma tentativa fútil de produzir para se enriquecer. Mas sou otimista. O fato de que existam lugares com dinheiro investido para fazer televisão, que roteiristas tenham a possibilidade de explorar, de escrever, de trabalhar, para mim é uma coisa positiva. Estamos criando emprego. Depois, com uma base de distribuição bastante equânime de trabalho, os gênios podem brilhar. Mas se não há trabalho, se não se produzem nem os grandes artistas – isso aconteceu nos últimos anos, até Bellocchio sofreu para fazer um filme -, se não se financia mais os grandes diretores, que seja bem-vindo o Netflix. Por que fazer polêmica? É sempre útil debater, mas não tentar diminuir algo que é positivo.   

ANSA: Dos tantos filmes que já fez, de qual ou de quais você gosta mais? Sansa: Gosto muito da maior parte dos filmes que fiz, mas meus grandes amores são “Bom dia, noite”, de Bellocchio, um filme francês que se chama “Voyez comme ils dansent”, de Claude Miller, e “O melhor da juventude” [de Marco Tullio Giordana].   

ANSA: Por que esses são seus preferidos? Tem a ver com os diretores, as histórias ou seu momento na época? Sansa: É tudo junto, uma combinação mágica. Até a última série de TV que fiz, da qual gostei tanto, foi uma experiência de vida maravilhosa, uma série que se chama “Tutto può succedere”. “Bom dia, noite”, “O melhor da juventude” e “Voyez comme ils dansent” são encontros um tanto mágicos com o cineasta, com colegas, com histórias, ou seja, contar aquela papel que se interpreta, como Chiara, em “Bom dia, noite”, Mirella, em “O melhor da juventude”, e Alex, em “Voyez comme ils dansent”. São papéis que me permitiram crescer como pessoa. Esses três foram mais importantes que outros, até que os outros dois filmes de Bellocchio. Eu tenho uma experiência singular com Bellocchio, “A bela adormecida” também foi uma experiência maravilhosa. ANSA: Nos últimos meses o cinema mundial foi chacoalhado pelas denúncias de assédio e abuso sexual. Você acredita que movimentos como o “Me Too” possam mudar o papel da mulher no cinema? Sansa: Se o papel está mudando, me parece que é muito cedo para dizer. Espero. Sempre tive muito confiança de que o papel da mulher pudesse ser paritário ao do homem. Estou muito contente que o movimento exista, estou confiante que o movimento possa dar coragem e voz a pessoas que antes talvez não tivessem coragem de se expressar. É muito importante que se fale. E me parece também muito interessante que agora não seja só um movimento ligado à mulher, mas que seja um movimento ligado ao abuso de poder em geral. Que seja uma mulher sobre um homem, um homem sobre uma mulher. Que se fale do abuso, o abuso de poder e a posição difícil em que se encontra a pessoa em busca de trabalho. (ANSA)