SÃO PAULO, 21 SET (ANSA) – Por Lucas Rizzi – O jornal “The New York Times” já a definiu como o “novo ícone do cinema italiano”.   

Embora Maya Sansa, 42 anos, não se veja assim, não há como negar que ela é uma das grandes atrizes contemporâneas da sétima arte no país da bota.   

Dona de uma biografia de mais de 30 filmes, Sansa será a convidada de honra na abertura do Italian Film Fest, cuja segunda edição acontece de 24 a 30 de setembro, em São Paulo. A mostra será inaugurada com “A verdade está no céu”, longa de Roberto Faenza que aborda o misterioso desaparecimento de Emanuela Orlandi, ocorrido em 22 de junho de 1983, no Vaticano, e nunca solucionado.   

Sansa protagoniza o filme, o mais recente de uma trajetória marcada por produções de temas fortes. Da resistência partisana na Segunda Guerra Mundial em “O homem que virá” à batalha pela eutanásia para Eluana Englaro em “A bela adormecida”, passando pelo sequestro do ex-primeiro-ministro Aldo Moro em “Bom dia, noite”, a atriz está acostumada a estrelar obras que se relacionam com a história social e política italiana.   

“Participar de um projeto cujo olhar possui uma capacidade de reflexão, de análise, me impulsiona de verdade, a oportunidade de fazer pensar, de dar ao público a oportunidade de refletir”, diz Sansa, em entrevista exclusiva à ANSA. Confira abaixo a íntegra da conversa, na qual a atriz fala sobre sua carreira, seus trabalhos preferidos e as mudanças enfrentadas pelo cinema com o movimento “Me Too” e os serviços de streaming.   

ANSA: Você já esteve no Brasil antes de receber o convite do Italian Film Fest? Maya Sansa: Sim, estive no Brasil tantos anos atrás, em 2009, para férias. Estive apenas na casa de amigos, em Búzios. ANSA: O jornal “The New York Times” a definiu certa vez como o “novo ícone do cinema italiano”. Você já se sente nesse papel? Sansa: Não, absolutamente. São coisas que fazem parte mais do mundo do jornalismo. De qualquer modo, o público pode às vezes ter momentos nos quais tem uma paixão ou outra por um breve momento. Fiquei muito feliz com esse artigo, mas acredito que ele tenha exagerado.   

ANSA: O cinema italiano do passado criou muitas estrelas mundiais, como Sophia Loren, Claudia Cardinale, Monica Vitti.   

Você acha que o cinema italiano de hoje tenha a mesma capacidade de formar ícones globais? Sansa: Acho que nenhum cinema tem mais essa capacidade de fazer aquilo que acontecia no cinema europeu, americano, nos anos 1960, 1970. Hoje, infelizmente, tudo acontece apressadamente. É muito importante para nós, nessa carreira, fazer trabalhos dos quais gostemos e tomar isso como um percurso de vida. Isso é muito mais saudável. Ter a ambição de recriar aquilo que foi o cinema do passado me parece algo distante. Mas nas séries televisivas, quando o público se apaixona, aqueles personagens se tornam verdadeiramente indeléveis em suas memórias.   

ANSA: Como você avalia o cinema italiano de hoje? Sansa: Eu falo sempre de cinema em geral, é difícil falar de cinema italiano, francês… Acho que o cinema mundial segue um pouquinho algumas ondas, há influências artísticas que hoje são internacionais. Mas falando de cinema italiano em geral, sempre tivemos ótimos atores, com artistas que sabem como contar uma história. No cinema italiano de hoje, a coisa forte ainda são os caráteres, esses diretores, esses atores, esses rostos. Nossos artistas, nossos diretores, nossos bravos atores, na minha opinião, têm uma capacidade de algo muito profundo, muito emotivo. A alma do diretor, quando consegue se exprimir, é muito forte. Bellocchio, Sorrentino, Garrone… São como pintores, deixam seu sinal. Com alguns enquadramentos, se entende quem é o diretor. Quando se está frente a um filme de Bellocchio, se entende que é Bellocchio, e o mesmo vale para Sorrentino, Garrone.   

(continua…)