“Esse sucesso não é apenas de um simples esporte”. O alerta é de Hugo Lloris, capitão da seleção campeã do mundo e o quarto goleiro na história a levantar a taça mais cobiçada do planeta. Em uma conversa com o Estado e um pequeno grupo de jornalistas franceses, o jogador deixou claro que espera que a vitória de um time repleto de filhos de imigrantes terá um impacto importante, em um momento em que a França e a Europa vivem um debate sobre quem é merecedor de ser cidadão e o como lidar com o fenômeno da imigração.

Em uma seleção francesa que é em parte o espelho da nova sociedade europeia, com imigrantes, Hugo Lloris é o representante de uma parcela de classe alta do país. Filho de banqueiro de Mônaco e uma advogada de sucesso, ele cresceu longe da periferia de Mbappé. Mas sabe do papel que seu time hoje tem, em um debate sobre identidade e sobre quem pode ou não permanecer na Europa. 78% dos jogadores da seleção francesa tem origens estrangeiras – 50% deles são muçulmanos.

“O futebol tem um poder enorme sobre a sociedade”, disse. “É difícil ainda de entender o que ainda pode ocorrer em termos de impacto (pela conquista da Copa do Mundo). Mas vimos um pouco do que isso pode ser capaz de acontecer quando, depois do jogo contra a Bélgica, um povo todo se uniu”, disse. “Foi incrível ver um povo unido atras de um símbolo, de uma bandeira, que era a da França”, afirmou.

A conquista, porém, ocorre em um momento de tensão social. Marine Le Pen, que hoje usa a seleção para comemorar as cores da França, já deixou claro no passado que questionava a presença de “estrangeiros” no time. Segundo ela, seria difícil exigir um compromisso de jogadores que “tem outro país no coração”. Em 2010, quando o time francês fracassou na Copa do Mundo e jogadores e comissão técnica entraram em choque em pleno torneio, não foram poucas as vozes que insinuaram que o problema estava relacionado com a presença de “estrangeiros” no grupo.

Críticos também alertam que colocar no futebol a responsabilidade por superar as feridas da sociedade não é a solução. Vinte anos depois de Zinedine Zidane vencer pela primeira vez a Copa do Mundo, o racha social e o debate sobre a imigração apenas se aprofundou e movimentos de extrema-direita ganharam força.

Hugo Lloris prefere dar atenção ao que a conquista pode representar. “Podemos estar orgulhosos. Por trás desse sucesso, não está apenas um simples esporte. É também o sucesso da França. Todos os franceses se sentem identificados com esse time”, declarou.

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O goleiro campeão também falou sobre o controle emocional de um time jovem em momentos difíceis da Copa do Mundo. “Às vezes precisamos fazer prova de inteligência e é isso que fizeram nossos jogadores. Claro, os mais velhos estavam também ali para ajudar e me incluo nesse grupo”, disse o capitão de 31 anos. “Os mais velhos estão presentes para assumir suas responsabilidades e falar as coisas certas”, insistiu.

Para ele, dos sete jogos disputados pela França, a final foi a mais tensa e difícil. “Sabíamos que seria assim”, disse. “Perdemos uma final diante de nossos próprios torcedores, em 2016 na Eurocopa contra Portugal. Isso foi muito duro. Mas mostramos caráter. Para voltar dois anos depois, em uma competição ainda mais forte e ganhar, e vencer, isso mostra que o futebol francês tem recursos, que está muito forte”, comemorou.

Hugo Lloris ainda deixa claro que a história dessa equipe, agora campeã, não terminou. “Trata-se de um time muito, muito jovem”, completou.


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